Kuhlmann critica governo federal e defende união com índios de José Boiteux
Sexta-Feira, 15 de Setembro de 2017

Foto: Divulgação

O deputado estadual Jean Kuhlmann ocupou a tribuna da Assembleia Legislativa durante a manhã desta quinta-feira para chutar o balde, descer o sarrafo, sentar a marreta e dizer que o governo federal virou as costas para o Vale do Itajaí. Ele condenou a falta de solução para impasse na operação da barragem de José Boiteux, município ao norte de Blumenau, ocupada por comunidade indígena desde 2015. Os índios cobram o cumprimento de acordo firmado com a União, proprietária da estrutura, e a Defesa Civil de Santa Catarina, que opera o sistema de prevenção às enchentes no Vale do Itajaí.

De acordo com o deputado uma reunião prometida pelo ministro-chefe da Secretaria de Governo da presidência da República, Antônio Imbassahy, que deveria ser realizada na própria barragem, não foi sequer marcada.

– A promessa do ministro era de que, em quatro semanas, a reunião dos representantes do governo federal com a comunidade indígena seria realizada. Já se passaram 11 semanas e até agora nada de reunião. O governo promete e não cumpre – acusou.

Paternidade

Kuhlmann tem dois bons motivos para estar tão irritado: o primeiro é a falta evidente de interesse da União pelo assunto, o segundo é a tentativa do deputado de tomar a frente da questão para assumir a paternidade da solução caso ela venha a sair. Ele mobilizou apoio e nos últimos meses liderou força-tarefa em peregrinação por Brasília na busca de uma saída para o impasse.

A barragem de José Boiteux, segundo a assessoria do deputado, é a maior estrutura de proteção a cheias do Brasil. Sozinha, seria capaz de reter mais água do que as barragens de Taió e Ituporanga juntas, estruturas que complementam o sistema de prevenção do Alto Vale do Itajaí.  

Indenização

Mas José Boitex é também um exemplo de obra construída sem planejamento. Sua construção teve início na década de 1970, durante a ditadura militar, mas, além de demorar para ser concluída, jamais foi acompanhada de solução complementar para o impasse da reserva indígena onde está localizada. Na prática, custou alguns milhões para os cofres públicos servindo pouco ou quase nada para a sociedade.

O principal impasse do momento seria a realização de um estudo de impacto ambiental, que vai determinar o valor das indenizações a serem pagas aos indígenas pelas áreas alagáveis da barragem, construída para ser acionada quando chove forte na região e ajudar a evitar cheias nas partes baixas do Vale do Itajaí, onde várias cidades sofrem com alagamentos. O levantamento tem custo de R$ 2 milhões, segundo o deputado, mas o governo estaria alegando falta de caixa para fazê-lo – valor que chega a ser ridículo no universo da administração federal.

Envolvimento

A ideia de Kuhlmann agora é manter boa relação com os indígenas, para que se possa negociar o acionamento da barragem quando ela precisar ser utilizada – hoje, sem uma definição para o problema das indenizações, eles ocupam a estrutura e impedem seu funcionamento quando chove forte e as comportas deveriam ser fechadas.

– Temos que seguir pressionando Brasília para mostrar a eles (os indígenas) que estamos do lado deles, que nos solidarizamos com sua causa e estamos dispostos a ajudar na solução do problema. Assim, quando precisarmos da estrutura, teremos pelo menos uma possibilidade de conversar e conseguir utilizá-la – reflete o deputado estadual.

Escuro

Ele salienta que o estado está disposto a assumir a barragem de José Boiteux e sua manutenção, mas somente depois de realizado o estudo de impacto ambiental e determinado o valor das indenizações. Antes disso, destaca, seria dar um tiro no escuro.

O Vale do Itajaí está, portanto, pendurado – ou boiando – no risco de uma nova enchente na região por míseros R$ 2 milhões. Só o Tribunal de Justiça do estado gastou metade deste valor este ano com café para os servidores, enquanto Michel Temer torrou mais de R$ 10 bilhões em emendas parlamentares para se manter no poder. É, pelo jeito estamos mesmo no escuro. Ou na água, como preferir.   



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