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“QUERO FAZER A REGIÃO TER UMA VOZ ÚNICAâ€
Sábado, 22 de Abril de 2017

Análise em Foco – O Sr. é o primeiro entre os oito últimos presidentes a não ter sobrenome ou sangue alemão. Isso muda algo na gestão de uma entidade como a Acib?


Avelino Lombardi: Não (risos), a Acib já teve outros presidentes que não tinham sobrenome alemão. Nós tivemos o Décio Moser, que era de origem italiana também. Tivemos o seu Bona (Leandro Victor Bona - 1971/1973). Então a Acib é uma entidade muito forte, uma entidade centenária, com a sucessão sendo feita de forma muito aberta, muito democrática. Nós temos quase 900 empresas associadas, de forma que qualquer um desses empresários poderá ser presidente da Acib, que tem credibilidade porque somos uma parte importante dentro de Blumenau. A gente acaba liderando o movimento econômico.


AeF – Qual o papel da Acib na economia e na organização social de Blumenau?


Lombardi: A Acib, por princípio, sempre participa das decisões da cidade, em todo o processo da administração da cidade. Não interferindo, mas se posicionando ao lado da comunidade, sempre. Então, lógico, nós lideramos um movimento empresarial dentro de Blumenau, por isso a gente quer trazer ferramentas para nossos associados, soluções de gestão. E trazer também para Blumenau apoio para as empresas se desenvolverem e crescerem na cidade. A Acib tem um papel muito importante também por ser ouvida pelas autoridades, seja em nível municipal, estadual ou federal, no que diz respeito ao futuro da nossa cidade. As nossas empresas estão todas dentro de Blumenau, então querem participar opinando no sentido de que nossa população tenha uma cidade boa para viver, uma cidade que tenha um crescimento econômico adequado, dentro de um planejamento adequado, dentro de condições de saneamento básico adequado, então dentro desse ambiente empresarial a gente se preocupa com isso. E a Acib sempre é ouvida, então a gente procura ajudar, procura opinar, procura participar, trocar ideia com o poder público, buscando sempre o melhor para nossa cidade, para fazer dela um lugar melhor para se viver. 


AeF – Quais foram as grandes contribuições da entidade na história do município?


Lombardi: Olha, a Acib tem uma história que se confunde com a história de Blumenau. Nós tivemos a primeira emissora de rádio em Blumenau; a primeira televisão, num processo em que a gente se envolveu bastante; o primeiro Corpo de Bombeiros do interior de Santa Catarina foi em Blumenau também, com uma ação fundamental da nossa parte nesse sentido. Os projetos da cidade como um todo, o desenvolvimento econômico, as indústrias que vieram pra cá, a Acib procurou ajudar nesse ambiente de negócio, para que ele seja favorável e atrativo para as empresas que queiram se instalar aqui. Então a Acib tem uma história maravilhosa na cidade, porque participa intensamente de tudo que é bom para nossa cidade.


AeF – O que mais mudou na cidade em relação ao tempo em que a Acib foi criada?


Lombardi: Blumenau tem 170 anos, a Acib 115, então ela foi muito importante para a cidade. Desde os setores econômicos que foram se diversificando. Nós tínhamos o eixo industrial muito forte – hoje nós temos o comércio, que além da indústria, é muito forte. Os serviços estão muito fortes também. Eu sou da área de serviços, outros presidentes da Acib foram e ainda são da área de serviços também. Então a importância disso é ter uma entidade organizada. A gente tendo os empresários de uma forma organizada, fazendo com que eles sejam ouvidos pelo poder público, vendo o que é melhor pra nossa cidade, o que é melhor pra nossa gente de Blumenau, sem dúvida nenhuma a gente tem uma importância fundamental para a cidade. Se você pegar a história de Blumenau, o que ela já foi no passado e hoje, percebe que ela é uma cidade polo do Vale do Itajaí, região que representa 30% do PIB e do contingente eleitoral catarinense. Então a gente também tem uma responsabilidade muito grande quando se fala desses números. E ela está se transformando em um centro de serviço, estamos trazendo pra cá a área tecnológica, temos nosso polo de software, estamos construindo nosso centro tecnológico, que é um sonho da nossa cidade. E a Acib tem participação ativa em todas estas ações, que vêm engrandecer nossa cidade e torná-la melhor ainda do que ela já é hoje.


AeF – O que mudará no comando da Acib em sua gestão?


Lombardi: Primeiro, se eu puder dar continuidade ao trabalho de meus antecessores já vou ficar muito contente. Mas eu pretendo impor um ritmo que é meu, até porque sou um cara que, por caráter, temperamento, pela minha formação, gosto de conversar, de dialogar. Só não sou muito de aceitar as desculpas que o pessoal dá pra não fazer as coisas (risos), eu gosto de ver as coisas acontecerem. É melhor você dizer que não vai fazer, porque se disser que vai eu vou ficar no teu pé pra fazer, vou cobrar intensamente. Então eu gostaria de terminar minha gestão fazendo com que nossa região tenha uma voz única na busca de recursos para nosso desenvolvimento. Não só Blumenau, mas o Vale do Itajaí como um todo, com as nossas entidades empresariais conversando intensamente, sem vaidades, independente de um querer ser mais que o outro. Aqui todo mundo é exatamente igual. Só que a gente precisa fazer com que as nossas ações empresariais convirjam para que nosso crescimento econômico seja sentido pela população. Nós temos setores econômicos que podem melhorar, basta que haja união para buscar esse apoio efetivo. Às vezes nós, que estamos dispersos, que não temos ainda essa sabedoria de sentar numa só mesa buscando uma solução única para nossa região e pra nossa cidade, acabamos perdendo os investimentos, que passam ao largo porque vão para uma região onde há uma união e um esforço conjunto maior. Agora, nós também temos que botar aqui a nossa culpa, nós empresários também nunca tivemos uma união adequada em busca deste apoio. Haja visto que nós não temos conseguido fazer os nossos representantes políticos serem pessoas, candidatos, membros de um poder público que nos traga efetivamente o poder pra Blumenau, que traga recursos, então nós temos que refletir sobre isso. Lógico que aí a culpa é da população, pois ninguém cai do céu pra ser deputado, vereador, governador, senador ou presidente da república. Então a gente tem que ter participação nisso. Nossa entidade não é partidária, mas é política, e ela precisa se envolver nisso sim, assim como as outras entidades empresariais também. Então, em vez de Blumenau estar discutindo que políticos nós queremos para nosso futuro, precisamos pegar o Vale do Itajaí como um todo. O que nós queremos? Quais são os projetos prioritários? Então precisamos pegar os candidatos que vão se apresentar, colocar eles numa mesa e dizer: quem está comprometido com isso aqui? Vamos elencar cinco ou seis projetos, a gente não precisa atirar para tudo que é lado porque acaba não atingindo ninguém. Vamos ver o que é melhor para Blumenau, para Itajaí, para Rio do Sul, para Indaial, para Timbó, para Gaspar, para Ilhota. Nós precisamos conversar, essa que é a verdade, não agir isoladamente. Blumenau quer construir uma nova ponte, mas e daí? Precisamos construir a ponte mas também revitalizar a Jorge Lacerda, ter um acesso mais ágil para a BR-470, porque quando tranca aqui, Blumenau, Gaspar ou qualquer cidade que seja, todo o Vale perde, toda a nossa economia demora pra chegar nos portos, aeroportos, então a gente acaba perdendo como um todo.


AeF – A sede própria fazia falta para a Acib? O que muda de fato com ela?


Lombardi: Sim, acho que isso é um marco para Blumenau, para a Acib, para as entidades empresariais. O Centro Empresarial, como o próprio nome já diz, tem o objetivo de congregar as entidades em torno de projetos e idéias. Claro que não temos aqui todas as entidades, mas temos algumas que são muito importantes para Blumenau, e a Acib é uma delas. Então temos que trazer para cá essa discussão empresarial no sentido de buscar apoio efetivo para os nossos projetosdentro da cidade de Blumenau. Então a nossa sede própria era um sonho acalentado. Nós já tínhamos uma sede própria, que era lá no edifício Mauá, onde tínhamos dois andares mas acabamos vendendo porque os espaços não eram adequados para o numero de associados que tínhamos. Então aglutinamos aqueles recursos e investimos aqui no Centro Empresarial (a Acib tem uma cota de 30% do edifício de oito andares que abriga os oito principais sindicatos patronais da cidade, inaugurado em março deste ano). Hoje temos uma sede maravilhosa, onde temos um local apropriado para que nossos associados virem aqui, reunir, criar aqui treinamentos, ferramentas de gestão, qualificar sua mão-de-obra. O empresariado tem que discutir isso, o desenvolvimento se faz através das pessoas, e a gente tendo espaço adequado para vc fazer esse desenvolvimento e fazer com que as pessoas sejam melhor qualificadas, os nossos colaboradores sendo melhor qualificados as empresas certamente crescerão mais e haverá um desenvolvimento maior de todos os setores econômicos.


AeF – O que mais dificulta o crescimento da economia blumenauense hoje?


Lombardi: Hoje nós temos um problema sério por causa da nossa desunião. Os projetos de infraestrutura para nossa região não tem vindo pra cá, então há uma dificuldade muito grande de escoamento da nossa produção. A gente tem um transporte que emperra pela falta de uma rodovia, não temos ferrovia, não temos aeroporto. Nós temos dificuldades muito grandes. Temos o aeroporto de Navegantes, mas para chegar lá é um caos. Com a BR-470 duplicada ele será o nosso aeroporto, mas é preciso que haja uma infraestrutura adequada pra isso. Então hoje eu acho, acho não, tenho certeza absoluta, que o nosso grande nó que nós precisamos ir desatando é a falta de infraestrutura, rodoviária ou aérea. Nós temos um rio maravilhoso aqui na cidade mas conseguimos fazer ele ser navegável. Eu tenho a impressão, e isso é um sentimento meu, que daqui para frente vai haver uma mudança muito grande, então nós precisamos fazer com que nossos representantes tenham essa preocupação com nossa infraestrutura, com o desenvolvimento de nossa região. Não é só pensar no nosso humbigo, é olhar para o todo. Aí você consegue efetivamente ter um desenvolvimento maior e mais adequado para uma região rica como a nossa.


AeF – E o Brasil, vai voltar a crescer ainda este ano? Quais as perspectivas de curto, médio e longo prazo?


Lombardi: O Brasil está vivendo um momento delicado mas importante. O Brasil vem de uma história na qual saímos de ditaduras, seja de Getúlio Vargas, seja militar, criamos a Constituição de 1988, que criou só direitos, não criou deveres, então nosso povo se acostumou mal. Estabeleceu-se também um outro tipo de ditadura, que é a ditadura sindical que temos no país. Então hoje o Brasil vive um momento delicado. A gente tem um governo que é transitório, que está sucedendo outro que foi impedido, então o Brasil tem que criar um plano de governabilidade por esse pessoal que está aí. Não vou discutir aqui sobre partidos, porque não somos partidários, somos políticos em nossa entidade, mas eu tenho certeza que o Brasil vai encontrar seu caminho. Nós temos agora este governo que está aí fazendo algumas ações importantes. É preciso que alguém faça uma reforma trabalhista,  uma reforma da Previdência Social, essas reformas, a tributária, que nós precisamos ter mas ninguém tem coragem de fazer. Não sei se ele vai fazer, mas existe pelo menos uma vontade e aí, de novo, nós brasileiros, como temos votado mal, temos um Congresso que é a nossa cara. Pôxa, mas esses caras são todos ladrões, mas quem colocou eles lá? Somos nós que votamos neles, não nossos representantes. Então a gente precisa cobrar também. Você tem que ter compromisso quando elege um membro para a Assembleia Legislativa, para a Câmara de Vereadores, para a Câmara dos Deputados, para o Senado, tem que cobrar. A responsabilidade não termina na hora do voto. Então eu acho que o Brasil vai encontrar o caminho. É preciso construir agora um plano de governabilidade, não sei como vão conseguir fazer. Ah, tem a Lava Jato, quem roubou tem que ser punido, tem que ir pra cadeia,  mas é preciso ter um plano de governabilidade, nós precisamos crescer, precisamos avançar. O Brasil precisa criar uma infratestrutura, tem que ter um governo adequado, os processos têm que avançar. Vamos punir, vamos, mas é preciso criar um plano de governo. Seja com estes mesmos partidos que estão aí. Não acredito que o Temer possa ser tirado do governo, até porque vai ter que eleger outro, em eleição indireta e não direta, então temos que achar uma forma de levar isso até 2018, para que nós, brasileiros mais conscientes, possamos escolher melhor os nossos representantes, olhar o currículo deles, procurar saber quem é o cara que eu vou votar, o que vai me fazer votar nele. Eu acho que o povo brasileiro vai amadurecer, eu acredito muito nisso.


AeF – A cidade, o estado e o país de hoje, em sua opinião, são melhores ou piores do que aqueles de quando o Sr. começou a empreender?


Lombardi: Eu acho que são melhores. Dificuldade teve em todos os momentos da economia. Mas tem facilidades que vai se criando. Há 20 anos, por exemplo, durante o governo do Fernando Henrique, tinha menos inflação, mas ao mesmo tempo tinha uma série de outras dificuldades. O Brasil hoje tem facilidades, como o acesso ao ensino, embora ainda não seja um ensino adequado. A população precisa saber que ela precisa participar mais. Se pegar uma empresa que quer treinar seus funcionários, ela não vai conseguir se não pagar hora extra para o funcionário fazer o treinamento. Então hoje existe dificuldade, mas existe facilidade também. Eu acho que o ambiente de negócios tem uma insegurança jurídica muito grande, mas ele também, por outro lado, tem facilidade de recursos que antes não tinha. Então eu acho que hoje está mais fácil do que quando eu comecei a empreender, não tenha dúvida nenhuma. O mercado é mais aberto, você tem condição de desenvolver melhor teus produtos, a facilidade de comunicação é muito grande, com as mídias sociais sendo uma ferramenta importantíssima para as empresas. Antes você tinha que ganhar escala para os produtos através do boca-a-boca ou investindo bastante com publicidade, hoje não, existe muita facilidade, então o ambiente de negócios é melhor.




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