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NÃO SERIA Mà IDEIA ENCHER AS RUAS OUTRA VEZ
Quinta-Feira, 22 de Janeiro de 2015

EDITORIAL AeF


O Brasil deste início de 2015 bem que poderia ser igual àquele de julho de 2013, quando a sociedade despertou de sua perigosa passividade, assumiu o controle da situação – que é seu por direito – e foi para as ruas deixar bem claro para seus representantes no poder que eles não podem fazer só o que querem, que não estão lá para encaminhar interesses particulares e muito menos para servir a causas contrárias ao bem comum.


Pois é exatamente isso que nossos excelentíssimos senhores homens públicos estão fazendo agora, mais uma vez. Advogando em causa própria, como sempre, repassam a conta de sua farra populista para o contribuinte, principalmente aquele da classe média, que carrega o país nas costas em termos de contribuição fiscal. Ao aumentar impostos para tapar o rombo que a gastança irresponsável do governo gerou nas contas públicas, o Erário age como se estivesse mandando o boleto do banquete para o cidadão pagar, sendo que ele sequer foi à festa, nem tampouco foi convidado.


E assim, enquanto eles jogam o dinheiro do povo fora, abusando da falta de comprometimento, responsabilidade e ética na gestão do patrimônio público, o brasileiro trabalha cada vez mais para sustentar esta estrutura perdulária e viciada que vem servindo de hospedeiro a parasitas insaciáveis, deleitosamente entregues ao ofício de sugar-lhe a seiva até minar-lhe a capacidade de sobrevivência. É o que está acontecendo agora no Brasil, mais uma vez, em um ciclo vicioso que não se esgota e há mais de 500 anos arrasta o país para o atraso e o subdesenvolvimento.


Contexto


Dentro do atual contexto, em que a sociedade assiste atônita a uma verdadeira profusão de escândalos de corrupção e desvio de recursos públicos, com provas contundentes e irrefutáveis de mau uso do dinheiro público surgindo aos borbotões, chega a soar como uma afronta a decisão de aumentar impostos para tirar o governo do vermelho. Em um momento como este, jamais se poderia impor à sociedade carga extra para carregar. O fardo que ela leva nos ombros já é pesado demais para a contrapartida que recebe do poder público por este esforço.


Um novo aumento de impostos, no Brasil, deveria ser cogitado somente quando o Estado fizesse sua parte, moralizando as instituições e esferas administrativas.


Por isso, quando o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, chama seu pacotão de maldades de “medidas de equilíbrio fiscalâ€, adotadas com o objetivo de “aumentar a confiança da economia†e retomar o caminho do crescimento “com o menor sacrifício possívelâ€, precisa saber que na verdade não é nada disso que está fazendo. Está apenas  justificando uma atrocidade com argumentos injustificáveis,que não se sustentam na prática.


O menor sacrifício possível para o povo, caro ministro, seria não aumentar impostos. O sacrifício, aliás, deveria ser do governo, não da sociedade, já tão sacrificada por um sistema administrativo injusto, ineficiente e irresponsável, que lhe arranca suor à força, através dos impostos, para devolver serviços públicos com qualidade aquém do mínimo desejado.


Métodos


Equilíbrio fiscal, ministro, é acertar os gastos do governo através da revisão de seus métodos e procedimentos. É isso que está dando errado no Brasil, não a carga tributária. Esta já é alta demais para a qualidade dos serviços públicos oferecidos ao cidadão, aliás. E não adianta querer comparar a carga brasileira com a europeia, por exemplo, como chegam a fazer alguns. Lá o contribuinte paga mais imposto, mas tem infraestrutura e serviços públicos de primeiro mundo, enquanto os nossos são de quinto.


O quadro é tão ruim que as mais perversas lógicas de gestão hoje se retroalimentam com facilidade notável no Brasil. Veja o caso da Petrobras e da gasolina. O governo estimulou o crédito e a produção de automóveis para encher as ruas de carros (situação que eventualmente pode até estimular contribuições de campanha, diga-se de passagem), arrecadar mais imposto e dar ao povo uma  sensação de prosperidade. Agora, na hora de arrecadar ainda mais para sair do buraco em que se meteu, o que faz o Planalto? Aumenta a tributação da gasolina, que já é uma das mais altas do país. Ou seja: fizeram o cidadão ter um carro para depois cobrar mais imposto dele. Mui camaradas, como se diria em bate-papo de boteco. 


Enquanto isso, o dinheiro que entra na Petrobras os brasileiros vêem para onde vai a cada noticiário sobre os desvios na estatal – R$ 10 bilhões, segundo cálculos mais corriqueiros. Não fosse a sangria desatada da petrolífera nacional, o dinheiro que o governo agora vai buscar no bolso dos brasileiros poderia estar vindo, efetivamente, do petróleo.


É por este e muitos outros motivos que o aumento de impostos promovido por Dilma Rousseff e pelo PT consiste num verdadeiro acinte aos interesses dos cidadãos que carregam a nação nas costas, enquanto verdadeiras quadrilhas saqueiam os cofres públicos.


Basta


Basta, definitivamente, basta. O povo precisa voltar às ruas, de forma pacífica, ordeira e democrática, para dizer mais uma vez que basta. O carimbo de trouxa não cai bem a um povo tão disposto a entregar parte de seu suor em benefício da nação. Os veículos de comunicação de massa, aliás, que levam sua mensagem a milhões de pessoas todos os dias, também deveriam ter posição mais aguerrida na resistência a este novo golpe que se dá nos interesses da sociedade – até mesmo para não deixar margens a quem pensa que estão amordaçados pela publicidade oficial.


Por último, vale lembrar ao ministro Joaquim Levy que o novo aumento de impostos não vai devolver plena confiança ao investidor. Ele pode até ficar um pouco mais tranquilo, mas certamente manterá um pé atrás em relação ao Brasil e seu eterno vai e vem. A confiança no país só será plena quando forem feitas as reformas necessárias para deixar a gestão pública mais eficiente, responsável, comprometida e previsível. Quem investe precisa saber que está colocando seu dinheiro em um país sério, que pavimenta o caminho do crescimento de forma sustentável, que se prepara para voar com a eficiência e a altitude de um falcão, ou de uma águia, e não de uma galinha, como faz o Brasil, que a cada três palmos que consegue levantar no chão precisa cavar quatro para se recuperar.


Acorda, gigante. Acorda, povo.




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