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“CASO VANDERLEI†ENSEJA DEBATE MAIS AMPLO
Sexta-Feira, 15 de Maio de 2015

OPINIÃO DO ANÃLISE


O vereador Vanderlei de Oliveira (PT) já teve seus bons momentos como homem público. Principalmente depois que devolveu por conta própria parte do salário que recebia como parlamentar, no mandato exercido entre 2000 e 2004. Claro que a decisão de Oliveira foi mais uma estratégia de marketing do que um compromisso franciscano com o exercício da legislatura, mas, mesmo assim, denotou certo apreço e respeito pela opinião pública.


À época, os parlamentares blumenauenses se auto-concederam um aumento considerado posteriormente ilegal pela Justiça. Todos recorreram, menos Oliveira. Advogado astuto que é, percebeu que dificilmente a vereança ganharia a causa e todos os meses devolvia a parte do salário equivalente ao reajuste questionado na Justiça – pelo atual vereador Ivan Naatz (PDT), aliás, que na época era só um advogado voluntário das causas coletivas. Não deu outra, quando o processo chegou na terceira instância e os vereadores perderam a causa, tiveram que devolver tudo o que tinham embolsado de forma ilegal. Prejuízo enorme para muita gente, menos para Oliveira, que não precisou devolver nada e ainda posou de arauto da moralidade.


Pisada de bola


No ano passado, no entanto, o parlamentar petista pisou na bola e deu um exemplo bem menos edificante que o de outrora. Nos meses de junho e julho, enviou nada menos que 30 mil correspondências, ao custo de quase R$ 25 mil, para “prestar contasâ€, segundo ele, sobre o processo de mudança da sede da Câmara de Vereadores: 


– Em maio (de 2014) completamos um ano de mudança para a nova sede do Legislativo, então julgamos conveniente informar detalhes do processo para a sociedade – argumenta o vereador, com a retórica afiada que lhe é peculiar.


Se este era o objetivo, convenhamos que o vereador escolheu a pior época possível para fazer sua “prestação de contasâ€. Ele seria oficializado candidato a deputado estadual dali a poucos dias e dois meses adiante seu nome iria para as urnas, em outubro de 2014, em busca de uma vaga na Assembleia Legislativa. Sendo assim, não se poderia visualizar outra finalidade na iniciativa que não fosse a auto-promoção. Conclusão mais cartesiana que a constatação da gravidade entre os corpos. Pode até ser que não fosse, mas é o que ficou parecendo que era, queira o vereador concordar ou não.


Oliveira sustenta que não houve nada de ilegal na ação e que as correspondências foram analisadas previamente pelo departamento de Controle Interno da Câmara. A questão central, contudo, é que pode até não ter sido ilegal, mas muito moral e ético também não foi, é preciso concordar.


Argumento


Um dos argumentos mais consistentes de Oliveira é o de que o gasto total de seu gabinete, quando comparado ao dos demais vereadores, não o coloca como um  parlamentar perdulário. Isso Ã© fato e o vereador petista, na média, está longe de ser dos mais gastões – embora também não seja dos mais econômicos. Mas este não é o foco da discussão no momento. O que pesa, agora, é que realmente fica a impressão de que ele teria usado recursos públicos em benefício próprio, e isso é fato grave quando se trata de um representante do povo.


O vereador insinua ainda que a iniciativa da Corregedoria e da Presidência da Câmara, que apuraram e divulgaram a desproporcionalidade dos gastos de Oliveira na véspera da eleição passada, teria motivação política. Bom, neste caso, precisamos concordar em outra coisa: motivações políticas, num ambiente predominantemente político como o da Câmara de Vereadores, não é nada tão espantoso assim. Cabe a cada parlamentar não deixar rabo para ser puxado, como fez Oliveira no caso das correspondências pré-eleitorais.


Despejo


Foi justamente a motivação política, aliás, que levou Oliveira a não querer deixar o gabinete da presidência da Casa quando seu mandato de presidente terminou, no fim do ano passado. Segundo ele próprio, recusou-se a entregar o espaço a Mário Hildebrandt porque este teria descumprido dois supostos acordos políticos – aquela história de que Roberto Tribess (PMDB) deveria ser eleito o novo presidente e o aumento de 35% proposto pelo Executivo para a conta de água derrubado em Plenário. Como Hildebrandt posteriormente mudou de posição em relação a estes dois temas, Oliveira resolveu não entregar o gabinete para o novo titular – demais membros da Mesa Diretora fizeram o mesmo. Vale observar que o social-democrático, assim que assumiu a presidência da Casa, procurou o petista para conversar sobre a mudança, na tentativa de encaminhar a questão através do diálogo. Depois, sem sucesso, apelou para a recente ação de despejo que liberou os gabinetes à força.


Ora, se todo homem público resolver permanecer em seu gabinete em função do descumprimento de acordos, vai faltar espaço na administração pública para as novas lideranças, afinal o não cumprimento de acordos não é lá nenhuma raridade na cena política. Por isso acordos e desacordos entre políticos devem ser resolvidos sem o envolvimento da estrutura pública e muito menos do interesse do cidadão – a este, interessa apenas que a máquina funcione como deve funcionar, de forma que as roídas de corda, definitivamente, não interessam a ninguém.


Expectativa


Tanto Oliveira quanto os demais parlamentares envolvidos no episódio, contudo, são legisladores experientes e cidadãos de bem, até onde se sabe, e provavelmente farão sua autocrítica, para, possivelmente, aprender com o erro cometido. Afinal, todos erram nesta vida, mas só os de caráter mais nobre aprendem com os próprios erros. Os demais, seguem errando.


É preciso que se entenda que a carga de frustração do cidadão é bem maior quando questões como esta envolvem figuras públicas nas quais ele deposita sua confiança de forma mais convicta. Parlamentares como Oliveira, entre outros, que conseguem atravessar cinco mandatos consecutivos sem deixar o poder interferir em seu patrimônio (até onde se sabe), geram grande carga de expectativa na população, sempre tão ávida de bons exemplos na vida pública. Por isso provocam tanta decepção quando saem dos trilhos. 




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