Análise em Foco > Personalidade
CARLOS GOMES VIRA PALCO DA DEMOCRACIA
Segunda-Feira, 25 de Maio de 2015

Na última quinta-feira, a Câmara de Vereadores de Blumenau promoveu audiência pública para debater a proposta de aumento do número de vereadores no município. O evento, ocorrido no Teatro Carlos Gomes, foi marcado por fervorosa participação das centenas de pessoas que lotaram o auditório central do TCG, transformado em palco da democracia por autoridades, lideranças e cidadãos.


Na opinião de alguns observadores, o fato da plateia interromper, com vaias e gestos de repúdio, a fala de quem se manifestava favorável à ampliação de vagas na Câmara, teria apagado o brilho do evento. Convém reconhecer, neste caso, que realmente seria bem mais cordial, civilizado e democrático permitir que as pessoas primeiro falassem para, depois, então, vaiá-las. Isso seguramente foi um apontamento negativo da audiência pública. Afinal, se você vai debater determinado assunto com alguém, não pode ter a pretensão de querer falar sozinho. Se quiser ser ouvido, terá que ouvir também. Nada mais natural e justo.


Circunstância


Ocorre que a lei das circunstâncias estabelece o princípio do contexto, e aí é preciso incluir margem tolerável de desvio-padrão na linha de cálculo. Ou seja: dentro do atual quadro de deterioração da imagem das instâncias e das figuras públicas no Brasil, é preciso reconhecer que a proposta de incluir mais vereadores (e cargos) no Legislativo é um desafio e tanto à paciência e às expectativas do cidadão – principalmente em uma sociedade desenvolvida e consciente como a blumenauense. Num país que tanto maltrata seu povo com impostos de primeiro mundo e serviços de terceiro, há que se perdoar atitudes impulsivas e talvez até repudiáveis como a da plateia do Carlos Gomes na última quinta-feira. Afinal, quem muito apanha uma hora ou outra resolve bater também. De certa forma, parece ter sido o que aconteceu naquele dia.


Talvez quando se sentir melhor representada no poder, a população seja mais favorável à ampliação das instâncias representativas e de seus respectivos custos para o contribuinte. Por enquanto, concordemos que esta relação custo-benefício não parece assim tão favorável para o cidadão. No caso dos vereadores blumenauenses, quem sabe pudessem mostrar alinhamento com a opinião pública promovendo corte no número de cargos a que tem direito cada gabinete, por exemplo. Seria uma iniciativa para lá de louvável e exemplar em época de economia de recursos e ajuste fiscal. Se Brasília não dá exemplo cortando ministérios e cargos comissionados para economizar, o município pode fazê-lo – tanto no Legislativo quanto no Executivo, é claro.


Atualmente, cada parlamentar pode nomear até quatro pessoas – um chefe de gabinete, um coordenador político e dois assessores políticos. Suponhamos que cortassem para dois cargos apenas, como chega a sugerir gente do próprio Legislativo. Se isso acontecesse, será que a sociedade não cogitaria com mais facilidade a possibilidade de apoiar a ampliação do número de vagas na Câmara? É nessa linha que raciocinam figuras de bom senso ligadas ao Parlamento municipal.


Sugestão


O que o cidadão e o contribuinte não aguentam mais, e com toda razão, é ver seu dinheiro sendo jogado fora pelo ralo da corrupção, do desperdício e da ineficiência da máquina pública – e exatamente por isso chegam a perder a cabeça, como ocorreu na quinta-feira, agindo de forma reprovável. Neste contexto, pode até ser que a Câmara de Blumenau, seus parlamentares e sua estrutura eventualmente se diferenciem positivamente da média vigente no país em termos de governança, mas, no conjunto da obra, a imagem das instâncias públicas e o nível de confiança do cidadão nelas ainda são precários, de forma que parece pouco adequado propor a expansão da esfera pública em um momento como este.


Que gestores e representantes públicos possam trabalhar séria e comprometidamente, portanto, para melhorar os resultados e os serviços oferecidos pela administração pública aos cidadãos. Agindo assim, eles certamente melhorarão também a imagem de si próprios e dos poderes que representam. A partir daí, lograrão mais êxito na hora de reivindicar apoio popular às causas que defendem.


Fica a sugestão, senhores, caso ela possa contribuir para eventuais processos de auto-avaliação.


 




+ Notícias
Todos os direitos reservados © Copyright 2009 - Política de privacidade - A opinião dos colunistas não reflete a opinião do portal