A um ano das eleições que vão escolher o novo prefeito de
Blumenau, o cenário polÃtico local vem sofrendo uma reviravolta silenciosa mas
determinante. Se até pouco tempo atrás a união do PSD de Jean Kuhlmann e João
Paulo Kleinübing com o PSDB de Napoleão Bernardes parecia lÃquida e certa,
agora já parece mais distante. No cerne do impasse que persiste, estariam dois
fatores fundamentais e antagônicos: a dificuldade do prefeito em convencer
cartolas social-democráticos de seu seu punch administrativo e a resistência
que seu principal adversário, o deputado estadual Jean Kuhlmann, ainda encontra
dentro do próprio partido.
O núcleo central da resistência partidária que está dificultando a
construção da candidatura de Kuhlmann estaria no feedback que ele dá para o
estrato partidário que inclui os vereadores do PSD em Blumenau. Faltaria
humildade a Kuhlmann, como pensam alguns? Nada disso. Seria ele arrogante, como
sugerem outros? Também não. Na instância pessoal, o deputado estadual parece
não ter dificuldade alguma para ser aceito. O problema parece ser mesmo o
tratamento que ele dispensa para com alguns colegas, gerando focos de
descontentamento.
– Temos um suplente de vereador que fez 4.257 votos e está sem
nenhum espaço. É preciso dar suporte para esses quadros, para que mantenham o
potencial de suas trajetórias eleitorais – observa um vereador
social-democrático, em conversa reservada com interlocutor do portal.
Para ele, o suplente em questão (Almir Vieira) poderia estar
lotado no gabinete de Kuhlmann*, onde trabalha um ex-vereador
de outro partido (Leoberto Cristelli, do PR). A Secretaria de Desenvolvimento
Regional seria outra possibilidade para acomodar nomes bem sucedidos na urnas,
avalia o parlamentar do PSD blumenauense:
- É difÃcil entender por que o cargo de secretário regional não é
preenchido por um vereador eleito (o atual titular da 15ª SDR é Cassio de
Quadros, ex-procurador do municÃpio, ex-chefe de gabinete de JPK no Executivo
blumenauense e ex-secretário de Comunicação de Blumenau).
Nem lá, nem cá
O mesmo vereador, contudo, que já foi defensor declarado da
parceria com os tucanos, agora diz que episódios recentes envolvendo tratativas
polÃticas e administrativas em BrasÃlia teriam esfriado a volúpia entre os
dois partidos. Ele alega ter participado destas tratativas, durante as quais
Napoleão Bernardes, segundo ele, teria perdido oportunidade de ganhar o abraço
definitivo do PSD.
Pelo que denota o relato do parlamentar, o tucano pode ter optado
por manter a carta sob a manga ao invés de entregá-la ao adversário para
recebê-la de volta com um carimbo de identificação – a pauta das tais
tratativas teria sido a viabilização de recursos para a construção da nova
ponte do centro (aquela, da novela recente) junto ao Ministério das Cidades,
comandado pelo social-democrático Gilberto Kassab, fundador do PSD.
Como se vê, portanto, a coisa ainda está meio na base do “nem lá
nem cáâ€, e qualquer um dos jogadores tem condições de avançar no jogo se
conseguir posicionar suas peças corretamente no tabuleiro. Mas o que se pôde perceber na visita feita ao
gabinete do vereador do PSD, no entanto, foi certa euforia em torno da
possibilidade de Kuhlmann voltar a concorrer – entre os assessores do parlamentar
tem gente que ajudou a puxar carroça e carregar pedra na primeira eleição de
João Paulo Kleinübing para prefeito, entre 2003 e 2004, quando ele ainda era só
uma aposta incerta. Como JPK desta vez nem pensa na prefeitura e já começa a
costurar pré-candidatura a governador, seu exército pode estar pronto para
lutar mais uma vez ao lado de Kuhlmann em Blumenau . Diz-se ainda que o
ex-prefeito e hoje secretário estadual de Saúde seria o principal opositor da
aliança com o PSDB de Bernardes.
- O Jean vai vir pra levar esta eleição – já andam cantando pelo gabinete do vereador, apesar de todo o aparente descontentamento do chefe
com o deputado.
Aposta
A aposta da parcela social-democrática que defende a candidatura
do partido é de que Napoleão Bernardes chegará desgastado ao pleito de 2016.
Aposta um tanto óbvia, diga-se de passagem, pois o poder desgasta qualquer um
que se elege com 70% dos votos no segundo turno, como aconteceu com o tucano em
2012.
Por ter sido eleito quase como um super-herói dentro de um
contexto em que mal dá para ser um mortal esforçado, é claro que boa parcela do
eleitorado vai achar que Napoleão não agradou – principalmente porque o eleitor
só enxerga aquilo que vê com os olhos, e muitas das (boas) iniciativas da
gestão tucana em Blumenau não podem ser ostentadas como grandes obras ante o
olhar dos eleitores. Os cortes no funcionalismo e nas gratificações salariais
de servidores (inclusive do prefeito), as iniciativas de transparência e a
adoção de métodos inovadores de gestão são ações importantes para a
administração pública, mas que costumam passar longe da percepção do eleitor e
podem acabar não se revertendo em bônus eleitoral para Bernardes – o que não diminui a importância destas iniciativas, evidentemente.
Titãs
É exatamente por isso que o futuro do atual prefeito na eleição do
ano que vem possivelmente vai ser decidido por seu marketing de campanha. Só o
carisma fantástico que ele ostenta já não será mais suficiente, como foi em
2012. Será preciso convencer o eleitor de que algumas de suas realizações, embora
não apareçam na retina das pessoas, são importantes para melhorar a qualidade
da gestão pública e os serviços que ela presta ao cidadão.
Caso o novo embate entre Kuhlmann e Napoleão se consolide, portanto, vai ser
um duelo de Titãs. De um lado, o candidato da máquina municipal, mostrando o que fez pela gestão do municÃpio; do outro, o da máquina estadual, mostrando aquilo que ele não fez e que pode ser feito.
Para quem puder, melhor não ficar nem perto desta briga. Já quem
não puder se afastar dela, melhor tomar muito cuidado para não acabar pisoteado.
* Trecho alterado após a publicação para fim de adequação de conteúdo