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NOSSO ÚLTIMO PITACO DE 2015
Quinta-Feira, 24 de Dezembro de 2015

A prefeitura de Blumenau, que por um momento pareceu aproximar-se do
inferno
bem na véspera do fim de ano, conseguiu reverter o jogo e se aproximou do
céu no crepúsculo de 2015. Nos últimos capítulos da novela que envolve o
transporte coletivo na cidade, uma sequencia de altos e baixos colocou o poder
público ora como vilão, ora como herói, para encerrar o ano com um final mais
feliz do que muita gente poderia imaginar – principalmente quem torcia pelo
pior.

Quando interveio no comando da empresa Nossa Senhora da Glória, a
maior e mais problemática do Consórcio Siga (quem tem outras duas, Coletivo
Rodovel e Viação Verde Vale
), o Executivo municipal apareceu na cena como
aquele personagem do filme que chega para matar o bandido e salvar as pessoas
do mal. Depois, encerrando a intervenção antes do previsto e bem no meio de uma
nova crise, saiu do enquadramento como se fosse um desertor covarde abandonando
a batalha e os companheiros de tropa em plena batalha.

Com os passos que se seguiram após o fim da intervenção, contudo, os gestores do município mostraram que o recuo era estratégico e serviria para planejar novo ataque, vindo esta semana com o decreto de emergência assinado pelo
prefeito para permitir a contratação, em caráter temporário, de prestadores de
serviço na área de transporte, e com a decisão judicial que bloqueará 30% das
receitas das três empresas do Consórcio Siga, destinando o valor para pagamento
de salários atrasados.

No caso do decreto de emergência, foi bater e valer. Mal terminou
de divulgar o despacho, a administração municipal viu os ônibus começarem a voltar
para as ruas e a greve que paralisava o serviço perder força – houve até
exageros por parte dos grevistas, que apedrejaram veículos quando estes
partiram para o trabalho. A lógica é bem simples: se abrirem a oferta do
serviço para novos operadores, perdem patrões e empregados das concessionárias.
Os primeiros vendo a concorrência chegar, os segundos ficando sem emprego. Nada
mais natural, portanto, que nesta hora água e óleo se misturem perfeita e
fraternalmente
pelo melhor da engrenagem – vale observar que, para os
proprietários das empresas, ficar com os veículos parados pode representar
grande economia, principalmente numa época em que o número de usuários e a
receita caem simultaneamente.

Problema

É importante observar, no entanto, que o problema está longe de
ser resolvido. Conforme constatou o próprio Executivo durante a intervenção na
Glória, a empresa virou uma espécie de galinha dos ovos de ouro para quem se
locupleta dela – até pagamento de ticket alimentação para quem não trabalha lá
seria feito, de acordo com o gestor responsável pelo processo de intervenção. Ninguém
com o mínimo de capacidade de raciocínio duvida disso, diga-se de passagem. A
propósito, é por estas e outras causas, ligadas a má gestão, que a empresa está
quebrada e compromete o equilíbrio do sistema público de transporte – a Glória
é responsável por mais de 60% da oferta do serviço. Má gestão que não é de
hoje, mas de muito, muito, muito tempo, ressalte-se.

Então, se o modelo de gestão ou os responsáveis pela oferta do
serviço não forem revistos, os problemas seguirão se agravando e a população
pagando por isso. O
Análise em Foco já se manifestou sobre o assunto algumas
vezes, destacando que não há outra explicação para o que acontece com o
transporte na cidade que não seja má gestão das empresas que operam a concessão
– donas de um mercado que transporta mais de 120 mil usuários por dia.

Por isso os mesmos agentes e/ou forças políticas que agora fazem
pirotecnia em torno do assunto, para capitalizá-lo politicamente, precisam se
envolver mais substancialmente com a causa e oferecer algo a mais do que discursos
em praça pública. Muitos deles, inclusive, talvez até já tenham se alimentado também
de alguns dos ovos colocados na cesta pela Glória. Seria ingenuidade duvidar
disso. É aquela velha história: se não podemos afirmar que é fato, também não
podemos afirmar que não é.

Auditoria

Por outro lado, a questão não é meramente política, como sugerem
interlocutores do poder, como se o problema fosse fruto só do oportunismo
político de opositores. Se a prefeitura não é a responsável pela situação financeira
difícil das empresas que operam o sistema de transporte, é ela quem deve
encontrar uma solução para o problema – como fez com o decreto de urgência e o
pedido de ação judicial. Afinal, trata-se de um serviço operado por empresas,
através de concessão, mas de interesse e natureza públicos, além de essencial.

Mas a verdadeira solução do problema, pelo que indicam os fatos,
depende da adoção de processos de auditoria rigorosos nas contas das
permissionárias
. Um serviço que é essencial e de interesse público, pago pelo
cidadão sem nenhum subsídio, não pode ser operado a bel prazer e interesse das empresas
– e daqueles que mantém relação com ela. Pensem nisso, portanto, senhores,
antes que seja tarde demais e o blumenauense fique difinitivamente a pé.

Despedida

E com este último pitaco sobre os fatos do cotidiano e do
noticiário, nos despedimos de você em 2015. Em 2016, no dia 11 de janeiro,
estaremos de volta, sempre comprometidos em oferecer ao internauta o melhor
conteúdo de análise e opinião da Web. Sempre focados na oferta de elementos que
ajudem nossos internautas a entender melhor o que acontece a sua volta e a
formular uma opinião própria sobre os temas que acompanha. Não queremos convencer
ninguém a nada com nossa opinião e nossa análise, queremos apenas dar opiniões e
fazer análises que ajudem e favoreçam quem deseja ter sua própria opinião.

Um ótimo fim de ano, portanto, com boas festas e muita paz,
alegria
em excesso e fraternidade abundante entre você, sua família e seus
amigos.  E que 2016 possa chegar da
melhor forma possível para todos nós, a despeito da crise que mais uma vez
prejudica o país e os brasileiros. Pensemos positivo, pois quem pensa positivo
vai mais longe do que quem pensa negativo.

Abaixo, deixamos a lista das 10 últimas publicações do ano, para
que você possa fazer uma retrospectiva de nossos conteúdos se desejar. 




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