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NEM A TEMPESTADE, NEM A BONANÇA
Quinta-Feira, 11 de Fevereiro de 2016

OPINIÃO DO ANÃLISE

Com a nova operação do transporte público se aproximando das duas
semanas em Blumenau, pode-se concluir, entre outros aspectos, o seguinte, em nossa opinião:

1) Há motivos para lamentar e motivos para comemorar. Se, por um
lado, foi possível evitar um caos generalizado na mobilidade urbana de Blumenau
após a mudança brusca do sistema, o que não é pouco para um desafio desta
natureza, por outro o índice de incidência de problemas permanece sensível e
causa descontentamento. Se o número de ocorrências ainda não provocou colapso,
também não permitiu que se passe um só dia sem o relato de casos de
funcionamento incorreto de veículos, condição insatisfatória de trabalho para
cobradores
, dificuldades com bilhetagem e superlotação, entre os fatos mais frequentes.

2) Sobre a superlotação, é preciso considerar que problemas
similares sempre ocorreram. Latas de sardinha ambulantes nos horários de pico
não são exclusividade da Piracicabana, nem de Blumenau. Nas cidades de médio e grande porte,
este é um problema recorrente, que precisa ser resolvido para estimular as
pessoas a usar transporte público.

3) A exploração política do assunto vai esquentando e, quem
facilitar, pode queimar o dedo na chapa. O vereador petista Jefferson Forest,
por exemplo, procura evitar o exagero, mas sempre que pode joga uma pimenta no debate e dispara contra o
prefeito Napoleão Bernardes (PSDB) – o colega de partido e de legislatura de Forest,
Vanderlei de Oliveira, sempre fiel à legenda, reforça a artilharia na
retaguarda.

4) Forest, pré-candidato a prefeito, cobra que os veículos de comunicação não se dobrem à
publicidade oficial e responsabilizem o prefeito pelos problemas no transporte.
Neste sentido, tem toda razão. É papel dos veículos independentes, como o
Análise em Foco, cobrar dos gestores públicos a despeito de qualquer gasto da
máquina pública com a divulgação de suas ações. Vale lembrar, contudo, que
informar o cidadão sobre suas iniciativas é também um dever do poder público,
não apenas um direito, e, neste sentido, os veículos de credibilidade serão
sempre uma alternativa recomendável

5) Depende, no entanto, do que, exatamente, Forest quer que seja
cobrado do prefeito. Afinal, Blumenau vinha sofrendo com problemas acumulados
ao longo de décadas no mal administrado sistema de transporte público
blumenauense. Neste contexto, a iniciativa da administração municipal talvez
devesse ser aplaudida em vez de criticada, pois denotou coragem e interesse em
agir diretamente na resolução do problema. A ocorrência de falhas iniciais era
imaginada, diante da dimensão do desafio. Neste cenário, é preciso que se
tenha alguma paciência, infelizmente. Duas semanas não é tempo suficiente para
arrumar uma casa tão desarrumada.

6) O parlamentar do PT talvez tenha razão, entretanto, quando
insinua que a imprensa deva questionar o chefe do Executivo sobre os problemas
e as incertezas do sistema – pelo menos deve ser isso que o vereador sugere, já
que um linchamento moral prévio do prefeito seria tão injusto quanto descabido e desnecessário. Quem sabe
seja hora, realmente, do prefeito vir a público manifestar-se clara e
firmemente
sobre os aspectos que envolvem o tema. É preciso que a sociedade
tenha a noção clara do que vai acontecer. A ocorrência de problemas é normal, a
falta de perspectivas para sua resolução, não.

7) É cada vez mais emblemática a situação da Rodovel, integrante do
consórcio Siga que respondia por 20%, aproximadamente, da oferta de transporte
coletivo em Blumenau. Com uma frota em ótimo estado, aparentemente, e seus
gestores garantindo que poderiam assumir pelo menos parte do serviço, é preciso
avaliar a questão, que envolve duas variáveis primordiais: a possibilidade
jurídica para que seja recontratada, pois integrava o consórcio cujo contrato
foi cancelado, e a componente administrativa, pois a Rodovel dificilmente
conseguiria colocar nas ruas uma frota de 240 veículos, como promete fazer a
Piracicabana. No caso de dividir o sistema entre as duas, resta saber se para a
operadora paulista seria viável tocar a operação blumenauense com menor fluxo
de caixa.

8) O prefeito Napoleão Bernardes vai precisar rezar (e trabalhar)
muito para deixar o transporte público funcionando direitinho até outubro. Do
contrário, vai ter um baita obstáculo no caminho da reeleição. Se acertar a
mão e afiar a gaita até lá, contudo, vai ser osso duro de roer, pois chegará se
apresentando como o super-heroi que resolveu em seis meses um problema de décadas.

As forças de oposição, por sua vez, terão suas potencialidades
determinadas por caminhos diametralmente opostos: se os problemas se agravarem,
chegarão ao páreo fungando no cangote do tucano; se ele colocar as busanfas
para funcionar satisfatoriamente, terão que correr atrás. Vai ser o Norte da
eleição, pelo jeito.

9) O ônibus da empresa Nossa Senhora da Glória, antiga operadora do
sistema, caído no rio após remoção providenciada por algum credor insatisfeito
ou comprador de olho em boa oportunidade, talvez tenha sido a imagem mais
simbólica da situação a que chegou o transporte público na cidade, após décadas
de má gestão. Superou até os veículos fumegantes ou quebrados da Piracicabana, cuja exposição marcou as redes sociais nos últimos dias.
Pareceu até encomenda do prefeito ao destino, como se quisesse dizer, com esta
ironia, aos críticos: estão vendo, é isso que vocês queriam no lugar da Piracicabana

No fundo, contudo, mostrou apenas
o desespero da situação: se ficar o bicho come, se correr o bicho pega.

10) A sociedade blumenauense, ou parte dela, precisa parar com esse
negócio de achar que só o que é daqui é bom. Blumenau cresceu, evoluiu e, em alguns
aspectos, deixou de ser exemplo. Ficamos para trás em alguns pontos, e agora
talvez precisemos de ajuda externa para resolver nossos problemas. Nada mais
natural em uma cidade que cresce e avança. Já não somos mais uma província,
capaz de sobreviver olhando só para o próprio umbigo. Precisamos erguer a
cabeça e olhar para o horizonte, para além das montanhas do Vale do Itajaí




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