Análise em Foco > Personalidade
DAR MAIS DINHEIRO AO GOVERNO É COMO DAR MAIS DROGA AO VICIADO
Quarta-Feira, 24 de Fevereiro de 2016

Enquanto a Argentina reforma seu modelo administrativo e sua
economia (inclusive com redução de carga tributária) para voltar a crescer e gerir com mais responsabilidade as riquezas e os frutos do crescimento, o Brasil caminha exatamente na direção contrária: quer manter gastos
injustificáveis (como a distribuição de dinheiro gratuito a 30% da população), dá pouco sinal de que mexerá mais incisivamente na máquina pública (cortando
cargos políticos, por exemplo
) e ainda quer recriar a CPMF, o sórdido imposto que se veste de cordeiro para atuar como um lobo faminto e implacável devorando recursos da sociedade em uma cascata interminável de incidência. Um dreno perverso de
riquezas ao qual o ministro Nelson Barbosa chama de “poupançaâ€.

Pois a única coisa que o governo federal não sabe fazer é poupar. Funciona
quase que como um buraco negro, sugando o dinheiro da sociedade com sua gravidade descomunal, da qual nada pode escapar. Nem a luz, que ali sai de sua trajetória irretocavelmente linear e acaba fazendo a curva, dizem.

Não por acaso, o Brasil vive mais uma era de trevas. Mais uma era
de economia em baixa, inflação em alta e perspectiva de futuro deteriorada.
Enquanto a máquina pública funcionar como um buraco negro, não haverá aumento
de receita capaz de devolver o país ao trilho do desenvolvimento. Voltar a
este caminho só será possível com reformas que transformem a nação na essência, no DNA,
no espírito de gestão
. Seguir fazendo o boi dormir com conversa fiada não
adiantará de nada, será apenas mais um ato cênico para entreter a população.

A mão que dá e tira

Por isso, daqui a alguns dias, é preciso que a sociedade fique
alerta. O governo possivelmente virá com a estratégia de sempre: dar com uma
mão e tirar em dobro com a outra. Paralelamente aos cortes (dificilmente mais
do que superficiais
) que deverá anunciar no gasto público (inclusive nos investimentos),
a União deverá convocar você para contribuir mais uma vez com o pires da
maldade
. Ao mesmo tempo em que cortará uma ou outra despesa, o Erário pedirá
aos brasileiros que coloquem novamente a mão no bolso para contribuir com a
vaquinha da gastança. Com a conta da farra, com o rateio da ressaca.

Cabe ao povo, portanto, erguer a voz e dizer que chega. Que o
tempo de inanição e passividade acabou. Que basta de festa da galinha gorda com o suado dinheiro do cidadão,
que esgotou-se a margem para irresponsabilidade. É isso que pode mudar o rumo
natural e perverso das coisas. Fazer panelaço durante a propaganda do PT até
funciona como mise en scene, mas não é o que vai mudar o Brasil. Para isso é
preciso encher as ruas com um recado claro para a classe política – de preferência
sem a participação, como ocorreu, de figuras como aquele agente público corrupto de São Paulo,
flagrado metendo a mão no dinheiro da merenda escolar administrada pelo PSDB paulista.

O governo federal, se quiser mais dinheiro para gastar, primeiro precisa
provar que está disposto a mudar de hábitos. Assim como aquele alcoólatra que
pede a última dose para depois parar, o atual modelo de gestão é incapaz de
convencer a quem está sóbrio de que vai realmente deixar a bebida 
– neste caso a irresponsabilidade fiscal. Ele primeiro
precisa recuperar-se, mudar de conduta, reconstruir a postura, realinhar o
caráter
. Só depois, então, merecerá recuperar o acesso à própria conta
bancária. Sem isso, terá enorme chance de ceder novamente ao vício e colocar
tudo fora outra vez.

Poço

Dar mais dinheiro ao governo na atual realidade, portanto, é como
incentivar a queda de um viciado ao fundo do poço. É como dar-lhe o empurrão
derradeiro à beira do precipício, ao invés de estender-lhe a mão para salvá-lo.

A salvação, no ponto ao qual chegou a doença, agora só virá com
muita dor, sofrimento e duras crises de abstinência. Acreditar que o paciente
poderá ser recuperado com a oferta de mais uma dose (e é claro que ele está
afim
) é acreditar no improvável. Naquilo que só ocorrerá por um acidente das
probabilidades e das circunstâncias.

E de acidentes o Brasil está farto. Está mais do que na hora de
preparar seu futuro com alguma racionalidade, alguma metodologia, alguma boa
vontade
e, por que não dizer, alguma decência. Não vamos nos iludir. Sem isso,
seguiremos eternamente reclamando do presente e sonhando com o futuro, até o
ponto em que perderemos a esperança nele também. Acorda, Brasil.  
 




+ Notícias
Todos os direitos reservados © Copyright 2009 - Política de privacidade - A opinião dos colunistas não reflete a opinião do portal