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É PRECISO RESSIGNIFICAR A POLÃTICA
Sexta-Feira, 29 de Abril de 2016

O jovem advogado e professor universitário Bruno Cunha, de 29 anos, tem apreço pela vida pública desde a infância, garante. Sempre às voltas com movimentos comunitários e sociais (atualmente é militante da causa animal), elegeu-se suplente de vereador na última eleição com pouco mais de 900 votos, pelo Partido Verde (PV). Agora vai concorrer novamente com o objetivo de obter uma vaga de titular na Câmara de Vereadores de Blumenau, desta vez pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), com mais recurso e estrutura.


Ele prefere não informar quanto vai gastar na campanha, como vai arrecadar o dinheiro e quantos votos pretende obter, mas diz que pretende fazer política longe do clientelismo e próximo da comunidade, através de um sistema de co-participação de agentes comunitários em seu mandato.


Confira, a seguir, entrevista com o pré-candidato a vereador:


Análise em Foco – O que o motiva a fazer política?


Bruno Cunha: Acredito na política como instrumento de transformação social, na possibilidade de serventia a comunidade, desde pequeno sou voluntário de diversos projetos sociais e sei que as coisas acontecem de forma contínua, precisamos ocupar os espaços públicos e conectarmos as pessoas. Precisamos ressignificar a política, impulsionando a sociedade, o Brasil precisa urgentemente disso, de uma nova postura e visão política, quero contribuir com esse processo de transformação democrática.


AeF – Você vê alguma diferença entre as novas e as velhas gerações de políticos?


Cunha: Entendo que a diferença não se dá pela idade, pela geração, mas pelo posicionamento de pessoas que assumem o desafio de realizarem uma nova política, que não aceitam a lógica do poder pelo poder, que não participam dessa instrumentalização que transformou a política brasileira em uma negociata, onde o político é na verdade funcionário de grandes grupos econômicos, recebe investimentos na campanha, contrata cabos eleitorais e realiza favores durante o mandato. É necessário ter coragem de enfrentar isso, só aceitando estar do jeito certo, é isso que acredito.


AeF – O que você acha que precisa ser feito para melhorar a qualidade da representação e da governança pública no país?   


Cunha: Entendo que esse é um desafio de mão dupla, depende tanto da preparação do candidato, de quem almeja seguir o desafio público, como do eleitor, que precisa estar atento à postura de seus possíveis representantes e precisa se educar, não tolerar vantagens e favores. Digo por mim, sou advogado, professor universitário, fiz algumas especializações na área pública (direito municipal e constitucional) e mestrado em Desenvolvimento Regional focado em políticas de proteção animal, quando fui candidato em 2012 constatei várias pessoas que postavam sobre ética nas mídias sociais, aceitando favores (churrasco, gasolina, etc). É um desafio ético que nossa sociedade precisa enfrentar.


AeF – O que você acha do impeachment de Dilma Rousseff?


Cunha: O processo de impeachment vai além da lógica jurídica, o elemento político é decisivo. É importante destacarmos que a presidente cometeu crime de responsabilidade, o que torna legítimo esse processo. Outros governantes cometeram e nada ocorreu, é verdade, mas a total ausência da capacidade de governar o país vem sendo decisiva, o estelionato eleitoral realizado em 2014 culmina em uma imensa insatisfação populacional, vivemos tempos difíceis pela irresponsabilidade de nosso governo, que não aponta nenhuma solução para a crise. Agora, temos que pensar o Brasil adiante, Temer e Cunha não são a solução, carecem de legitimidade.


AeF – É favorável ou contra eleições gerais em outubro?


Cunha: Defendo a cassação do mandato de Dilma-Temer desde o início dessa discussão, está comprovada a utilização de dinheiro ilícito na realização das eleições, portanto a vitória eleitoral está imbuída de nulidade, irregularidade. Só considero legítimo um governo eleito democraticamente pela população, em consonância com a legislação em vigor. Temer e Cunha são cumplices desse desgoverno, as eleições gerais constituem o único caminho que visualizo para vencermos essa crise política, realinhando a sociedade brasileira.


AeF – Quais foram, em sua opinião, os grandes acertos e os grandes erros do PT no poder?


Cunha: O PT assumiu um compromisso com os mais necessitados de nosso país, com os mais excluídos, aqueles que jamais tiveram voz, no início, tiveram muita sensibilidade para respeitarem a pluralidade social e incorporarem pautas progressistas. Entretanto, confundiram assistência social com crescimento desenfreado do estado, os programas sociais não trouxeram uma perspectiva de libertação das pessoas, muito pelo contrário, “escravizaramâ€, tornando-as submissas e dependentes do governo, isso se tornou absolutamente desmedido economicamente. Além disso, não podemos ignorar que incorporaram a lógica do poder pelo poder para sustentabilidade política, abandonando diversas pautas e grupos sociais, transformando inimigos do passado em sustentáculos essenciais, perderam a identidade, a credibilidade e o rumo.


AeF – O que acha do Bolsa Família?


Cunha: Sou humanista, é inadmissível que um país que possui o maior setor agrícola do mundo admita em seu território pessoas passando fome, sustento que todos indivíduos mereçam um padrão mínimo de existência (dignidade humana) e esse é um dever moral de toda a sociedade. É impossível o desenvolvimento de aptidões, sem uma alimentação adequada, o projeto era necessário, continua sendo, mas carece de elementos que realmente possibilitem a libertação dos envolvidos, é necessário um projeto de inserção social e profissional em médio-longo prazo, isso seria a verdadeira assistência, libertação a essas pessoas, o que não ocorre. Hoje, a dimensão que temos é que virou um programa de cálculo eleitoral, visando a simples manutenção no poder, sem uma preocupação verdadeira com a emancipação social.


AeF – E em Blumenau, o que precisa mudar?


Cunha: Nossa cidade passa por um interessante momento social, tenho a honra de participar de vários projetos e iniciativas que estão alavancando Blumenau.  Existe um sentimento progressista que vem conduzindo o município para adequação às temáticas de  sustentabilidade, para que tenhamos um planejamento voltado para a valorização das pessoas,  para a humanização dos espaços públicos, brilhantes iniciativas educacionais e empreendedoras, sonho e luto para que sejamos referência na acessibilidade e no desenvolvimento de uma política integrada de proteção animal. As grandes iniciativas e avanços estão partindo da sociedade civil, o poder público está lentamente se adequando a esse momento, é necessário que seja pioneiro. Quero destacar também as áreas de pobreza que temos em nosso município, há uma cidade invisível, que pouco é falada, apresentada, carências básicas que não são atendidas (luz, água, asfaltamento), precisamos reconectá-la socialmente.


AeF – O que acha da gestão do prefeito Napoleão Bernardes?


Cunha: Acredito que há uma unanimidade nesse assunto, todos esperavam uma prefeitura com mais diálogo social, mais inovadora. A expectativa era imensa, uma eleição abalizada por mais de 70% da cidade, acredito que as dificuldades financeiras do município e os repasses ínfimos (comparando com os tributos federais) dificultaram muito a gestão, porém, faltou essa clareza, uma maior comunicação e transparência com a população. Ressalto também que embora a prefeitura não consiga ser pioneira das mudanças, tem sido sensível em aceitar e viabilizar avanços trazidos pela sociedade civil.


AeF – Sonha em ser prefeito um dia?


Cunha: Acredito que a política não poder ser espaço para ego, para planos individuais de poder. Sonho em ver uma cidade melhor, com mais comunicação social, uma administração que consiga conectar os diversos atores sociais e instituições, estimulando a participação populacional. Sonho em sermos referência em acessibilidade, planejamento urbano, cultura e proteção animal, permanecerei lutando por essas bandeiras, elas movem minha militância política. Se em determinado instante sentir que posso liderar esse momento, servindo ao município, poderei assumir esse desafio. Seguirei fazendo o que é correto, trabalhando pela cidade, esse não é um objetivo, mas tenho a ciência que é uma possibilidade.




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