O jovem advogado e professor universitário Bruno Cunha, de 29 anos, tem apreço pela vida pública desde a infância, garante. Sempre às voltas com movimentos comunitários e sociais (atualmente é militante da causa animal), elegeu-se suplente de vereador na última eleição com pouco mais de 900 votos, pelo Partido Verde (PV). Agora vai concorrer novamente com o objetivo de obter uma vaga de titular na Câmara de Vereadores de Blumenau, desta vez pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), com mais recurso e estrutura.
Ele prefere não informar quanto vai gastar na campanha, como vai arrecadar o dinheiro e quantos votos pretende obter, mas diz que pretende fazer polÃtica longe do clientelismo e próximo da comunidade, através de um sistema de co-participação de agentes comunitários em seu mandato.
Confira, a seguir, entrevista com o pré-candidato a vereador:
Análise em Foco – O que o motiva a fazer polÃtica?
Bruno Cunha: Acredito na polÃtica como instrumento de transformação social, na possibilidade de serventia a comunidade, desde pequeno sou voluntário de diversos projetos sociais e sei que as coisas acontecem de forma contÃnua, precisamos ocupar os espaços públicos e conectarmos as pessoas. Precisamos ressignificar a polÃtica, impulsionando a sociedade, o Brasil precisa urgentemente disso, de uma nova postura e visão polÃtica, quero contribuir com esse processo de transformação democrática.
AeF – Você vê alguma diferença entre as novas e as velhas gerações de polÃticos?
Cunha: Entendo que a diferença não se dá pela idade, pela geração, mas pelo posicionamento de pessoas que assumem o desafio de realizarem uma nova polÃtica, que não aceitam a lógica do poder pelo poder, que não participam dessa instrumentalização que transformou a polÃtica brasileira em uma negociata, onde o polÃtico é na verdade funcionário de grandes grupos econômicos, recebe investimentos na campanha, contrata cabos eleitorais e realiza favores durante o mandato. É necessário ter coragem de enfrentar isso, só aceitando estar do jeito certo, é isso que acredito.
AeF – O que você acha que precisa ser feito para melhorar a qualidade da representação e da governança pública no paÃs?
Cunha: Entendo que esse é um desafio de mão dupla, depende tanto da preparação do candidato, de quem almeja seguir o desafio público, como do eleitor, que precisa estar atento à postura de seus possÃveis representantes e precisa se educar, não tolerar vantagens e favores. Digo por mim, sou advogado, professor universitário, fiz algumas especializações na área pública (direito municipal e constitucional) e mestrado em Desenvolvimento Regional focado em polÃticas de proteção animal, quando fui candidato em 2012 constatei várias pessoas que postavam sobre ética nas mÃdias sociais, aceitando favores (churrasco, gasolina, etc). É um desafio ético que nossa sociedade precisa enfrentar.
AeF – O que você acha do impeachment de Dilma Rousseff?
Cunha: O processo de impeachment vai além da lógica jurÃdica, o elemento polÃtico é decisivo. É importante destacarmos que a presidente cometeu crime de responsabilidade, o que torna legÃtimo esse processo. Outros governantes cometeram e nada ocorreu, é verdade, mas a total ausência da capacidade de governar o paÃs vem sendo decisiva, o estelionato eleitoral realizado em 2014 culmina em uma imensa insatisfação populacional, vivemos tempos difÃceis pela irresponsabilidade de nosso governo, que não aponta nenhuma solução para a crise. Agora, temos que pensar o Brasil adiante, Temer e Cunha não são a solução, carecem de legitimidade.
AeF – É favorável ou contra eleições gerais em outubro?
Cunha: Defendo a cassação do mandato de Dilma-Temer desde o inÃcio dessa discussão, está comprovada a utilização de dinheiro ilÃcito na realização das eleições, portanto a vitória eleitoral está imbuÃda de nulidade, irregularidade. Só considero legÃtimo um governo eleito democraticamente pela população, em consonância com a legislação em vigor. Temer e Cunha são cumplices desse desgoverno, as eleições gerais constituem o único caminho que visualizo para vencermos essa crise polÃtica, realinhando a sociedade brasileira.
AeF – Quais foram, em sua opinião, os grandes acertos e os grandes erros do PT no poder?
Cunha: O PT assumiu um compromisso com os mais necessitados de nosso paÃs, com os mais excluÃdos, aqueles que jamais tiveram voz, no inÃcio, tiveram muita sensibilidade para respeitarem a pluralidade social e incorporarem pautas progressistas. Entretanto, confundiram assistência social com crescimento desenfreado do estado, os programas sociais não trouxeram uma perspectiva de libertação das pessoas, muito pelo contrário, “escravizaramâ€, tornando-as submissas e dependentes do governo, isso se tornou absolutamente desmedido economicamente. Além disso, não podemos ignorar que incorporaram a lógica do poder pelo poder para sustentabilidade polÃtica, abandonando diversas pautas e grupos sociais, transformando inimigos do passado em sustentáculos essenciais, perderam a identidade, a credibilidade e o rumo.
AeF – O que acha do Bolsa FamÃlia?
Cunha: Sou humanista, é inadmissÃvel que um paÃs que possui o maior setor agrÃcola do mundo admita em seu território pessoas passando fome, sustento que todos indivÃduos mereçam um padrão mÃnimo de existência (dignidade humana) e esse é um dever moral de toda a sociedade. É impossÃvel o desenvolvimento de aptidões, sem uma alimentação adequada, o projeto era necessário, continua sendo, mas carece de elementos que realmente possibilitem a libertação dos envolvidos, é necessário um projeto de inserção social e profissional em médio-longo prazo, isso seria a verdadeira assistência, libertação a essas pessoas, o que não ocorre. Hoje, a dimensão que temos é que virou um programa de cálculo eleitoral, visando a simples manutenção no poder, sem uma preocupação verdadeira com a emancipação social.
AeF – E em Blumenau, o que precisa mudar?
Cunha: Nossa cidade passa por um interessante momento social, tenho a honra de participar de vários projetos e iniciativas que estão alavancando Blumenau. Existe um sentimento progressista que vem conduzindo o municÃpio para adequação à s temáticas de sustentabilidade, para que tenhamos um planejamento voltado para a valorização das pessoas, para a humanização dos espaços públicos, brilhantes iniciativas educacionais e empreendedoras, sonho e luto para que sejamos referência na acessibilidade e no desenvolvimento de uma polÃtica integrada de proteção animal. As grandes iniciativas e avanços estão partindo da sociedade civil, o poder público está lentamente se adequando a esse momento, é necessário que seja pioneiro. Quero destacar também as áreas de pobreza que temos em nosso municÃpio, há uma cidade invisÃvel, que pouco é falada, apresentada, carências básicas que não são atendidas (luz, água, asfaltamento), precisamos reconectá-la socialmente.
AeF – O que acha da gestão do prefeito Napoleão Bernardes?
Cunha: Acredito que há uma unanimidade nesse assunto, todos esperavam uma prefeitura com mais diálogo social, mais inovadora. A expectativa era imensa, uma eleição abalizada por mais de 70% da cidade, acredito que as dificuldades financeiras do municÃpio e os repasses Ãnfimos (comparando com os tributos federais) dificultaram muito a gestão, porém, faltou essa clareza, uma maior comunicação e transparência com a população. Ressalto também que embora a prefeitura não consiga ser pioneira das mudanças, tem sido sensÃvel em aceitar e viabilizar avanços trazidos pela sociedade civil.
AeF – Sonha em ser prefeito um dia?
Cunha: Acredito que a polÃtica não poder ser espaço para ego, para planos individuais de poder. Sonho em ver uma cidade melhor, com mais comunicação social, uma administração que consiga conectar os diversos atores sociais e instituições, estimulando a participação populacional. Sonho em sermos referência em acessibilidade, planejamento urbano, cultura e proteção animal, permanecerei lutando por essas bandeiras, elas movem minha militância polÃtica. Se em determinado instante sentir que posso liderar esse momento, servindo ao municÃpio, poderei assumir esse desafio. Seguirei fazendo o que é correto, trabalhando pela cidade, esse não é um objetivo, mas tenho a ciência que é uma possibilidade.