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MOBILIDADE SOCIAL E PETRÓLEO EM ALTA FRAGILIZAM TRANSPORTE COLETIVO
Terça-Feira, 23 de Fevereiro de 2010

Cenas como a da manifestação desta terça-feira (23), em que usuários do sistema de transporte coletivo de Blumenau protestaram contra o aumento da passagem de ônibus no município, ficarão cada vez mais frequentes. E não só em Blumenau, mas em todos os municípios que até hoje não pensaram mais seriamente a questão da mobilidade urbana.


O primeiro agravante: a redução das reservas mundiais de petróleo, que deixará o óleo cada vez mais caro, assim como seus derivados e a manutenção dos equipamentos alimentados por eles. Logo, portanto, o transporte também encarecerá.


Ao mesmo tempo, a população das cidades, assim como as frotas de automóveis particulares, tendem a crescer, inflamados pela ampla mobilidade social que o Brasil oferece a seus habitantes. Isso levará à concorrência cada vez maior entre o ônibus e o automóvel, como já está acontecendo. E a lei de mercado é implacável: quem oferece melhor custo e qualidade, leva o jogo.


É o que acontece em Blumenau, onde andar de carro é mais barato, confortável e rápido que tomar um coletivo. Será difícil, assim, estimular o uso do transporte público.


A planilha de custos do Serviço Autônomo Municipal de Trânsito e Transportes de Blumenau (Seterb), mostra que, fora os gastos com folha de pagamento, não há nenhum item que não seja aceitável para padrões vigentes de logística.


Cada ônibus do sistema, de acordo com dados da planilha, roda 2,5 quilômetros com um litro de óleo diesel. O número é semelhante a um caminhão de carga, que, às vezes, roda com mais de 30 toneladas.


Um veículo de passageiros, então, bem mais leve e livre das serras íngremes, não deveria fazer mais do que isso? Aí é que entra: por rodar somente na cidade, utiliza mais as marchas de arranque, parando e partindo com frequencia insistente, o que aumenta bastante o consumo.


Por isso, os dados da planilha apresentada pelo Seterb são toleráveis, dentro de padrões do transporte de carga. A folha de pagamento das operadoras do sistema coletivo, nesta comparação, é que estaria além do desejado. 


De qualquer forma, a conta é realmente cruel e o transporte público está ficando caro ao ponto de se tornar inviável. É um drama. Para o cidadão, que se vê cercado pelo problema, e para o poder público, que precisa resolve-lo.


CULPA NÃO É APENAS DESTA GESTÃO, MAS DE TODAS, INCLUSIVE DAS ANTERIORES


E não se pode culpar somente esta administração pelo entrave, pois ele vem de anos e mais anos de negligência dos gestores públicos. Quando pensaram a cidade, esqueceram de imagina-la com 300 mil habitantes e quase 200 mil veículos. Cometeram o engano de prepara-la somente para interesses e demandas imediatistas.


Sabe-se também que, por trás de movimentos como o desta terça-feira, geralmente há interesses políticos. Líderes de oposição inflamam suas bases e organizam os protestos. Mas isso faz parte da democracia.


O fato é que o problema do transporte realmente existe. A passagem é cara, os ônibus têm pouco conforto e as viagens demoram. Isso precisa ser resolvido, e a curto prazo. Senão continuará como nitroglicerina para os opositores.


A administração do município promete implantar ainda este ano o corredor exclusivo para ônibus, que é um bom começo. A hora em que o sujeito, embarcado em um coletivo, passar a 60 km/h ao lado dos congestionamentos, pagará R$ 2,55 com prazer, para chegar em casa depois do trabalho perdendo menos tempo.


Quando fizer isso com ar condicionado, para alívio dos dias de calor, não pensará duas vezes em deixar o carro na garagem e embarcar num ônibus.


ALTERNATIVA DO GNV NÃO PODE SER IGNORADA


Não se pode esquecer, da mesma forma, o fato de que o Gás Natural Veicular (GNV) está aí, e pode ajudar muito a reduzir o custo do transporte coletivo. Neste caso, é preciso incentivo para que a indústria crie motores compatíveis com o uso deste combustível, o que passa também pela esfera federal do poder público, de onde poderiam partir benefícios fiscais para esta iniciativa, por exemplo.


O problema, infelizmente, não vai ser resolvido somente com protestos, embora eles até possam contribuir. Nem tão pouco com esforços somente do município, que tem autonomia e caixa limitadíssimos para atacar a questão. Afinal, é sempre bom lembrar que a União fica com 70% de tudo que pagamos de impostos, e por isso não podemos exigir apenas do prefeito a solução da crise do transporte.


É preciso política pública e união de esforços em nível municipal, estadual e federal. O protesto, que hoje foi relativamente pequeno, amanhã poderá ficar maior. A luz amarela está acessa, gestores públicos, planejem o futuro com brevidade*.  


*Os argumentos acima refletem a opinião do portal.


 


 


 




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