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QUANDO O MAL EXEMPLO VEM DO PRÓPRIO CIDADÃO
Segunda-Feira, 27 de Junho de 2016

Em sua última postagem, o Análise em Foco salientou que, apesar da crise, alguns sinais vindos da esfera pública permitem a brasileiros e blumenauenses alimentar boa dose de esperança em relação ao futuro da cidade e do país. Na postagem atual, contudo, iremos no sentido contrário e mostraremos um exemplo altamente negativo, vindo da própria sociedade, do próprio cidadão, que, em tese, deveriam dar bons exemplos para, então, cobrar de seus representantes que façam o mesmo.


No sábado ao meio dia, por volta das 12h, em Blumenau, o AeF flagrou retumbante atentado à lei, às pessoas que a respeitam e às autoridades que a fiscalizam. Na bastante movimentada esquina entre as ruas Henrique Benertz e Dois de Setembro, no bairro Itoupava Norte, um caminhão betoneira fazia uma manobra arriscada e inconveniente para entrar na Henrique Benertz e seguir por cerca de 300 metros na contramão, forçando outros veículos a mudar de trajetória para evitar uma colisão.


Quem trafega por aquela rua sabe o quão arriscado e perigoso é fazer aquilo. Transversal importante do sistema viário conhecido como Binário da Rua Paris, a Henrique Benertz é estreita, com área de estacionamento de um lado e casas muito próximas da pista do outro. Além disso inclui uma íngreme ladeira que leva muitos veículos a aumentar sua velocidade. Receita perfeita para um acidente na situação descrita acima.


Abordado pela reportagem do portal no momento em que cometia a infração, o motorista alegou que teria uma autorização para trafegar na contramão e fazer a entrega do concreto em uma obra. O Serviço de Trânsito e Transportes de Blumenau (Seterb), contudo, nega que tenha autorizado a manobra, esclarecendo que autorizou apenas a permanência do veículo sobre a pista enquanto fazia o descarregamento do material na obra – o órgão destaca ainda que transitar na contramão é infração gravíssima. Na empresa responsável pelo serviço, a Salseiros Concreto, que tem matriz em Navegantes e filial em Blumenau, um funcionário identificado por Marcionei disse que checaria o assunto e reprimiria a conduta do motorista caso constatasse que ela foi de fato irregular. Como se pode ver pelas fotos acima, não resta muita dúvida desta irregularidade.


Postura


Não bastasse a gravíssima infração de trânsito descrita, a postura de alguns cidadãos que testemunhavam o episódio deu contorno ainda mais emblemático a ele. Entre os que observavam a cena e se interavam do assunto, não faltou quem sugerisse tolerância com a conduta do motorista que desafiava a lei, a autoridade de trânsito e a segurança de quem trafegava pela rua Henrique Benertz naquele momento. No discurso dos tolerantes, o mesmo argumento questionável de sempre: que aquele era um cidadão trabalhador e seu erro não significa tanto assim em um país como o nosso, que o “jeitinho†que ele estava dando era só uma forma de agilizar seu trabalho, que num sábado ao meio dia havia pouco movimento, que tinha a suposta autorização (desvirtuada por ele em benefício próprio), que isso, que aquilo.


Pois o brasileiro precisa fazer uma opção: tolerar ou não tolerar a corrupção. Um corrupto, vale observar, não é apenas o sujeito que coloca dinheiro público no bolso. É qualquer indivíduo que contraria a lei com o objetivo de levar alguma vantagem e com isso prejudica as pessoas. É o sujeito que anda na contramão para chegar mais rápido ao destino ou fazer menos esforço até ele. Assim, não adianta ir para a rua pedir cadeia para os políticos enquanto defende quem comete infração de trânsito. Não há como rezar a mesma oração para dois santos diferentes. Se queremos exigir que nossos representantes sejam honestos, temos de sê-lo também, não há alternativa. 


Afinal, o sujeito que desvia recursos públicos ocupando cargos no poder também pode ter uma justificativa para seus atos. Pode dizer, por exemplo, que a corrupção é só uma forma de remunerar mais adequadamente a qualidade de seu trabalho, de dar-lhe uma participação de resultados não prevista para o servidor público. Pela ótica de quem tolera a conduta do motorista flagrado na situação descrita acima, haveria certo sentido nesta justificativa. Ou não?




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