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E ENTÃO, SENHORES, COMO INOVAR E DESENVOLVER TECNOLOGIA?
Sexta-Feira, 16 de Setembro de 2016

AeF ELEIÇÃO


Na última quarta-feira os candidatos a prefeito de Blumenau estiveram no Instituto Gene, incubadora de novos negócios, para falar sobre inovação e tecnologia. Como este é o tema que estamos acompanhando com maior foco nesta campanha, pela importância que atribuímos a ele, fomos ao evento para acompanhar as propostas e as opiniões de cada prefeiturável sobre o assunto. Pinçamos aquilo que consideramos mais importante no discurso de cada um deles, confira:


Arnaldo Zimmermann – defendeu a criação de um fundo de inovação. Não detalhou a proposta, mas deu a entender que poderia se tratar da destinação de recursos públicos para iniciativas na área de inovação e tecnologia. A ideia não é ruim, mas, como toda iniciativa que envolve recurso e metodologia governamental, tem o duro desafio de ser eficiente, criteriosa e imparcial, e não burocrática, permissiva e parcial. Sabe-se bem como é o trato do dinheiro público do Brasil, então seria preciso três pés atrás na hora de executar o projeto. Todavia, já existem similares em andamento, como fundos de venture capital (investimento de risco) mistos, formados por recursos públicos e privados, com resultados consistentes. Em uma cidade como Blumenau, que tem grande volume de capital acumulado, poderia até ser aposta viável, se bem executada.


Ivan Naatz – trouxe um dado interessante para o debate com a comunidade inovadora de Blumenau. De acordo com ele, atualmente as empresas blumenauenses de TI deixam na cidade cerca de R$ 14 milhões em impostos, recolhidos através do ISS. Enquanto isso a indústria têxtil, que é a maior do município, recolheria apenas R$ 1 milhão com o mesmo tributo. É evidente que isso ocorre porque as têxteis recolhem maior volume de ICMS, que também gera retorno para a cidade através do Fundo de Participação dos Municípios. O que Naatz argumenta, contudo, é que, diante desta estatística, vale a pena investir na expansão do segmento de tecnologia e inovação, pelo volume de imposto municipal que recolhe. Faz sentido. Faltou esclarecer, contudo, como a administração municipal pode incentivar o segmento e a expansão da arrecadação.  


Jean Kuhlmann – destacou dois eixos básicos de ação para incentivar o setor de tecnologia e inovação. O primeiro deles seria o fortalecimento dos espaços físicos de inovação. Lembrou que como secretário e deputado estadual viabilizou a criação de Centros de Inovação pelo estado – Blumenau deve ganhar o seu em 2017. O segundo eixo de incentivo proposto por Kuhlmann seria a isenção fiscal para empresas de TI. As propostas têm prós e contras: os centros de inovação podem ajudar bastante, mas desde que atraiam investimento. Se ninguém se dispuser a apostar nas empresas iniciantes, ficará bem mais difícil cunhar grandes projetos. Os incentivos fiscais, por sua vez, beneficiam aquelas empresas que já estão consolidadas, vendendo e faturando bem. No universo da inovação, contudo, uma ideia precisa ser desenvolvida e acelerada antes de começar a dar retorno, de forma que o investimento de risco é a melhor alternativa para fazer esta travessia.


Napoleão Bernardes – o prefeito de Blumenau reforçou que acaba de ser premiado pelo Sebrae por ter criado a Praça do Empreendedor, estrutura que concentra serviços relacionados à abertura de empresas. A ideia é boa mesmo, reconhecida por interlocutores do segmento produtivo inclusive. Mas está longe de ser mola propulsora de inovação em Blumenau. É, no máximo, uma grande aliada. O que pode impulsionar bruscamente o segmento é investimento, principalmente em startups de potencial. Neste sentido, Bernardes tem uma ideia a se considerar: tornar a máquina municipal tomadora de serviços tecnológicos desenvolvidos por empresas blumenauenses. Neste caso, porém, o grande desafio também é fazer isso de forma eficiente, criteriosa e imparcial.  Já o maior risco é fazer do poder público bóia de salvação. É preciso ter foco em inovação e em serviços que efetivamente tragam avanços de gestão e representem ganho para a administração pública.


Valmor Schiochet â€“ o candidato petista disse uma das coisas mais sensatas do debate: primeiro é preciso definir qual o modelo de intervenção que o município pretende elaborar para impulsionar o segmento da inovação e da tecnologia. Esta é uma verdade irrefutável, deve-se reconhecer. Principalmente porque o próprio segmento parece confuso em relação a isso. Entre as dez perguntas feitas aos candidatos por diferentes entidades representativas, nenhuma foi ao cerne da questão: como mobilizar capital local para investimento de risco em startups? Em uma cidade com riqueza acumulada como Blumenau, esta é a principal dúvida a ser dirimida se o objetivo for dar passos largos no segmento da tecnologia e da inovação. Se não fizer isso, o município poderá perder grandes oportunidades de transformar ideias em negócios vencedores. Incluir Blumenau no roteiro de recursos públicos da esfera federal, destinados a inovação, ou criar um estatuto para empreendedores, como sugeriu Schiochet, vai ser um caminho longo demais para a urgência da necessidade. Quanto mais curto o caminho, mais chances a cidade tem de percorrê-lo até o fim.


Definição


O que se vê e ouve sobre inovação ainda é muito difuso em termos de discurso político. Alguns clichês aqui e acolá, obviedades por lá e por ali, propostas vagas, objetivos não muito definidos. O próprio mercado parece ainda ter dificuldade para definir e  encaminhar esta demanda junto ao poder público.


Quando se fala em tecnologia e inovação, é importante que se considere as diferenças entre uma e outra. Produzir tecnologia não necessariamente é produzir inovação. Na primeira, pode-se replicar produtos e modelos de negócio já consolidados gerando valor agregado através do aperfeiçoamento. Na segunda, é preciso desenvolver novos produtos e modelos de negócio, e aí o buraco é bem mais embaixo. Uma você incentiva com isenção fiscal, outra com investimento de risco. Para definir políticas eficientes para o setor, portanto, é preciso ter esta variável em mente.


Lei Rouanet da inovação


Um assunto que vem passando completamente batido no debate eleitoral é aquela espécie de Lei Rounet da inovação, criada algum tempo atrás mas completamente esquecida nas gavetas da esfera pública. A ideia do dispositivo é bem interessante: abater imposto de quem investe em empresas inovadoras. Algo que, se funcionasse como funciona a lei de incentivo à cultura, certamente produziria efeitos absolutamente sensíveis e transformadores. Ninguém viu, ninguém sabe e ninguém fala do mecanismo, contudo.  


Que os candidatos a prefeito de Blumenau, entre os quais está o próximo gestor da cidade, possam debruçar-se com afinco sobre o tema. Sem dar atenção especial a ele, Blumenau seguramente perderá grandes e promissoras oportunidades para o futuro. Pensem nisso, senhores.




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