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CONTRA UM E A FAVOR DE OUTRO
Sexta-Feira, 30 de Setembro de 2016

AeF ELEIÇÃO


No último debate entre os candidatos a prefeito de Blumenau, levado ao ar pela RBS TV nesta quinta-feira à noite, um jogo de estratégia entre concorrentes foi o destaque. De um lado, o principal concorrente do prefeito conseguiu passar quase ileso pelo encontro, após providencial compaixão dos adversários; do outro, o prefeito precisou ficar nas cordadas durante quase todo o embate, encurralado por intenso ataque dos oponentes.


O deputado estadual Jean Kuhlmann (PSD), que concorre com apoio do governador Raimundo Colombo (PSD), até agora é o principal concorrente do prefeito e tem possibilidade até de vencer o primeiro turno, de acordo com a única pesquisa oficial feita nesta eleição – encomendada pela RIC Record, a sondagem colocou Kuhlmann quatro pontos percentuais à frente de Bernardes. Seria, teoricamente, alvo preferencial de quem busca tirar votos de outrem para aumentar a própria margem. Surpreendentemente, no entanto, foi poupado pela artilharia de frente do debate e ainda assistiu de camarote a uma caçada implacável ao prefeito e principal adversário, que passou o debate inteiro na defensiva. Se a estratégia foi deliberada ou não é impossível saber, mas foi suficientemente clara para qualquer bom entendedor. Estariam os concorrentes a prefeito de Blumenau acreditando que sua melhor chance de ir para o segundo turno é tirar votos do prefeito e não de seu arqui-rival? Seria um levante deliberado contra quem está no poder? Uma fantástica coincidência de convicções ideológicas? Uma costura muito bem feita de interesses comuns?


Isso dificilmente se saberá, mas a clareza do evento foi indiscutível. Kuhlmann, que já vinha colhendo resultados na campanha, deve ter saído com sensação para lá de satisfatória do debate. Afinal, se não sabia do que ocorreria, deve ter ficado bastante surpreso; se sabia, satisfeito com o resultado. Só não deve é ter ficado triste. Resta saber o que pensará o eleitor sobre a estratégia dos debatedores.


Avaliação


O debate desta quinta-feira pode ter sido mais um sinal de que a estratégia de comunicação da campanha tucana precisa ser reavaliada. Os candidatos estão absolutamente à vontade para bater no prefeito, o que de alguma forma pode denotar a captura de um sentimento coletivo. Neste contexto, a linha do “vai fazer porque já fez†parece não dar os resultados que se pretendia e os adversários do prefeito podem ter percebido isso, partindo para o ataque na tentativa de explorar o vácuo. Se há apenas uma pesquisa oficial e ela até pode ser questionável, como todas são, é possível perceber, de forma empírica, que o momento não é muito favorável ao projeto da reeleição. O risco de não perceber isso, para os estrategistas do PSDB, é abrir ainda mais flancos para os adversários.  Aparentemente, a principal candidatura de oposição conseguiu produzir aquilo que todo candidato tenta produzir para vencer uma eleição: uma onda. Jean Kuhlmann, desde a derrota para Napoleão em 2012, apostava na possibilidade da revanche, e aparentemente conseguiu encaixar seu jogo e seu discurso, pelo menos até agora. No debate de ontem saiu-se muito bem e certamente chega ao Dia D desta eleição em situação muito melhor do que chegou há quatro anos. Daí a necessidade dos tucanos evitarem o clima de já ganhou e focarem na estratégia, para se manter no jogo em condição de igualdade e não ter surpresa desagradável pela frente.


Capital para isso eles tem. Com iniciativas bem avaliadas por nichos estratégicos do eleitorado blumenauense – o setor produtivo, por exemplo, que já foi bem mais arredio ao atual projeto, hoje exalta algumas de suas iniciativas, inclusive aquela, polêmica, do transporte público.


– A questão da Piracicabana é bem simples: não havia outra solução. O tema é apropriado para exploração eleitoral, mas foi feito aquilo que era preciso fazer – opina interlocutor do PIB blumenauense e do Observatório Social. 


Bernardes também teve o mérito de administrar bem as contas do município, encarando uma perda milionária de receita, provocada pela crise econômica, sem desarrumar as finanças – hoje Blumenau tem uma dívida de aproximadamente R$ 60 milhões, mais ou menos o que tinha quando o tucano assumiu. Nas escolas, fez reformas bem planejadas, na logística de gestão teve ações interessantes e na infraestrutura até que conseguiu se virar nos trinta (seu maior problema foi realmente a mobilidade urbana, onde faltou novos projetos e sobrou erros em iniciativas já iniciadas). Mas são coisas que o marketing de campanha do prefeito não conseguiu explorar adequadamente, pelo que indica a realidade dos fatos até agora. Por isso seus estrategistas precisam encontrar uma alternativa, pois, se considerarem que é possível ganhar o jogo mantendo a mesma tática, podem acabar tendo alguma surpresa desagradável.


Opção


Ivan Naatz (PDT), terceiro concorrente mais cotado da única pesquisa eleitoral oficial feita até agora, atacou Napoleão Bernardes tão severamente e poupou Jean Kuhlmann tão solenemente no debate da RBS que parece já ter feito sua opção para o segundo turno – caso a expectativa se confirme e a eleição prossiga com o social-democrático e o tucano na disputa. Fixando-se na faixa dos 7% das intenções de voto, Naatz chega a sua terceira eleição para prefeito ostentando um capital político consolidado, que, se ainda não é suficiente para elegê-lo prefeito, tem tudo para mantê-lo no Legislativo e no centro da cena política em Blumenau.


Para Valmor Schiochet (PT) e Arnaldo Zimmermann (PCdoB), concorrentes de primeira viagem, o jogo é valorizar o passe para eventuais composições no segundo turno e/ou candidaturas futuras. No caso deles, em que não há mais risco algum envolvido na disputa, a não ser o de um milagre, o jogo fica bem mais tranquilo e cada jogada pode ser executada sem muita cerimônia.  


Schiochet, por exemplo, ficou tão à vontade no debate desta quinta-feira que parecia estar brincando num parque – pelo menos da metade do evento em diante, quando aliviou-se da pressão das câmeras e discorreu com mais naturalidade. Arriscou até um ataque franco e duro ao prefeito Napoleão Bernardes, algo que não lhe vem sendo tão peculiar nesta eleição, mostrando que pode ficar mais forte com a experiência e melhorar suas chances se a desventura da legenda pesar menos em algum momento. Passa a ser uma carta importante na manga do PT blumenauense.  Zimmermann, enquanto isso, consagrou-se como surpresa desta eleição e consolidou o próprio nome para a próxima. Foi bem no debate, dosando equilibradamente ataques e propostas. Mostrou, mais uma vez, que de bobo não tem nada e sai da disputa comemorando, independente do resultado.


Responsabilidade


Mas a bola agora está com você, eleitor, que é o juiz do processo. É você quem vai dizer, neste domingo, quem está com a razão para merecer sua confiança nos próximos quatro anos. Quem convenceu a você, seja nos debates, na internet ou no olho no olho. Quem apresentou as melhores propostas para fazer Blumenau melhor nos próximos anos.


Por isso, quando acordar neste domingo e sair para votar, lembre-se de que não estará indo jogar bingo ou fazer aquela fezinha na loteria, tendo o acaso e a sorte como únicos aliados. Pense que você estará indo ajudar a construir o futuro do lugar onde vive. Alie-se Ã  razão, ao discernimento e ao critério. Pesquise bastante sobre seu candidato onde for possível, na rede social, no Google, na biblioteca, em qualquer lugar. Faça isso até a véspera da eleição, vasculhe até a última hora. Não gaste seu voto como quem gasta uma nota de R$ 50 no botequim ou no supermercado. Pense nele como um investimento: quanto mais você pesquisar pela melhor opção, mais chances vai ter de ganhar.


E aos candidatos uma sugestão: lembrem das promessas e propostas que estão apresentando hoje. Seja qual for o vencedor, que governe para cumprir o que prometeu, pois, do contrário, será cobrado em 2020. O tempo da memória curta acabou para o eleitor, ele agora consegue lembrar do que foi dito e do que foi feito bem rapidinho. Lembrem disso, senhores.




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