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PRÉ-CANDIDATO, PERO NO MUCHO
Quinta-Feira, 09 de Março de 2017

Três dos principais partidos de Santa Catarina já se movimentam intensamente na direção de 2018. O PSD do governador Raimundo Colombo reuniu-se recentemente para anunciar que está fechado em torno da candidatura do deputado estadual Gelson Merisio para o governo do estado; o PSDB do prefeito de Blumenau, Napoleão Bernardes, promoveu encontro estadual para dar início às convenções municipais e dizer que vai ter chapa-pura na proporcional e candidato próprio na majoritária, com Bernardes entre os pré-candidatos a governador; já o PMDB do vice-governador Eduardo Moreira aproveitou sua titularidade temporária para fazer um tour de visitas eleitoreiras e promessas não muito factíveis por SC – o partido também garante novamente que terá candidato na próxima eleição ao governo, coisa que, nas duas últimas, não aconteceu.


Perguntamos a um interlocutor do primeiro escalão do governo estadual o que de tudo isso é fato consumado e o que pode ser mero teatro para composição de chapas. Ele respondeu assim:


– Em época de acasalamento é necessário todo mundo mostrar seus atributos.


Assim, na visão dele, pode ter gente mostrando seus dotes para ver se atrai algum parceiro, mas, se isso não ocorrer, a busca por um relacionamento mais aberto passa a ser alternativa. Ou seja, os partidos podem anunciar candidatura própria para valorizar o passe e avançar em eventual composição, emplacando um vice, por exemplo, ou um candidato a senador.


Olhando para as estatísticas e para a lógica do momento, percebe-se que:


1) A candidatura do PSD é a que parece mais líquida e certa, pois não há absolutamente nenhuma razão para acreditar que o partido do governador Raimundo Colombo possa abrir mão de sua popularidade e da consistência de alguns indicadores de seu governo. Poderia haver alguma dúvida em torno do nome que o partido irá lançar, mas com o deputado federal e ex-prefeito de Blumenau João Paulo Kleinübing dando pinta de que não pretende polarizar a disputa com Merisio e pode estar de olho em uma vaga para concorrer ao Senado (Colombo, por exemplo, cumpriu a sequencia Prefeitura-Câmara-Senado antes de se eleger governador), parece que as coisas tendem mesmo a seguir o caminho do consenso no partido do governador.


2) O PSDB fez 30% dos votos na última eleição para governador, com o senador Paulo Bauer concorrendo contra o franco-favorito Raimundo Colombo, no auge da popularidade do governador. É um índice significativo por um lado e pouco expressivo por outro, já que fica na média história dos segundos colocados em eleições catarinenses. Das nove eleições ocorridas desde 1982, cujos dados estão disponíveis no site do TRE, cinco tiveram o segundo colocado situando-se entre 20% e 30% dos votos. Nas quatro ocasiões em que isso não aconteceu, as disputas foram acirradíssimas, com diferença inferior a 3% entre o vencedor e o segundo colocado. De todos os segundos colocados desde 1982, apenas Vilson Kleinübing conseguiu eleger-se numa segunda tentativa – fez 25% dos votos em 1986 e 42,5% em 1990. Ou seja, as estatísticas e as probabilidades não jogam muito a favor de uma candidatura de Bauer. A menos que o governo de Colombo estivesse em crise, o que não ocorre. 


3) O PMDB, para concorrer com alguma chance de vitória, precisa de pelo menos um aliado forte, em torno de uma candidatura que até o momento parece bastante difusa e indefinida. Eduardo Pinho Moreira? Udo Dohler? O vice-governador tem pouca expressão fora do Sul do estado, o prefeito reeleito de Joinville não vai muito além do Norte. Sobre os possíveis apoios, considerando que PP e PSB estariam próximos de fechar com o PSD, sobra pouco mais que o PSDB, que no entanto tem seus próprios nomes para governador, e o PT, que já não é mais o aliado de outrora dos peemedebistas. Resumindo, o partido do vice-governador tem tudo para virar noiva outra vez na dança do acasalamento. Mas está na Presidência da República, vale lembrar,e isso sempre pode agregar valor a uma legenda. 


Variáveis


Uma variável importante do processo será a postura do prefeito de Blumenau, Napoleão Bernardes, que administra a maior entre as cidades comandadas por tucanos catarinenses. Reeleito com mais de 50% dos votos no ano passado, está com moral e vem sendo colocado na vitrine por correligionários de peso (como o ex-prefeito de Joinville, Marco Tebaldi), que o “lançou†como pré-candidato a governador no último encontro do PSDB, ocorrido há uma semana. Por isso o blumenauense certamente poderá embolar o meio de campo do xadrez eleitoral se resolver partir com vontade para o jogo das articulações.


Perguntamos a um expoente do tucanato em Blumenau, membro do primeiro escalão de governo e cardeal do alto clero tucano na cidade, se Bernardes estaria com a mesma disposição de concorrer que estava em 2012, quando encarou muitos interesses contrários para viabilizar uma candidatura na qual poucos acreditavam e vencer uma eleição que para muita gente era bastante improvável para ele. Deu no que deu. Em 2016 voltou-se a duvidar que pudesse se reeleger, aconteceu o que aconteceu.


Seria fácil pressupor, portanto, que no caso de querer mesmo ser candidato a governador em 2018, Bernardes seria páreo duríssimo tanto para demais tucanos interessados na candidatura quanto para candidatos de outros partidos. Mas, segundo a fonte consultada pelo Análise em Foco, o prefeito de Blumenau vive um outro momento e o número de variáveis para considerar hoje é muito maior. Em 2012 ele era só um vereador que voltaria à Câmara caso não se elegesse prefeito; hoje é um prefeito reeleito que pode não voltar ao cargo caso renuncie e não se eleja governador. É exatamente aí que reside o xis da questão.


– Se você perguntar ao prefeito qual é sua prioridade, ele responderá que é finalizar a composição do governo e exercer o segundo mandato da melhor forma possível – comenta o interlocutor tucano ouvido pelo AeF.


Ele observa ainda que os tucanos têm outros nomes fortes para concorrer ao governo do estado, como o senador Paulo Bauer. Também dá a entender que uma composição com o PMDB de Udo Dohler poderia ser alternativa. Neste caso o raciocínio faz sentido: arriscar uma eleição em que o candidato do governador deve estar forte e sofrer uma segunda derrota para o PSD poderia ser bem danoso Ã  imagem dos tucanos catarinenses. Para o prefeito de Blumenau, então, seria pior ainda, no caso de ser ele o candidato.


Como se vê, portanto, as peças já estão sendo lançadas no tabuleiro de 2018. Como estarão organizadas no final do jogo, contudo, ainda é impossível prever, embora dê para imaginar.




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