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VIVA A ANGELA, VIVA A MACRON!
Quarta-Feira, 10 de Maio de 2017

Se, por um lado, parte dos franceses ficou frustrada com a vitória de Emmanuel Macron para presidência da França, por outro a maioria absoluta dos terráqueos ficou aliviada, muito aliviada. E bota aliviada nisso. Foi praticamente um êxtase, um momento daqueles em que o mundo parece ainda ter salvação, para alegria de todos.


Numa época em que ameaças de radicalismo étnico e religioso voltam a assombrar a humanidade, dividindo aqueles que, por princípio, são iguais, teria sido realmente assustador ver a vitória de Marine Le Pen e seu discurso segregador e xenófobo. Num tempo em que o mundo assiste novamente a uma crise migratória (a maior desde a Segunda Guerra Mundial) motivada por novos conflitos e disputas de poder, a ascensão de uma liderança disposta a acirrar ânimos em vez de apaziguá-los equivaleria a acender fósforo perto de barril de pólvora. Risco certo de explosão.


Por isso este é um momento de grande alívio, com a decisão do povo francês representando mais uma centelha de esperança na boa fé da humanidade. Afinal, uma espécie que se considera superior, de inteligência tão complexa, disposta a colonizar outros planetas (como se cogita seriamente com Marte), não pode tolerar tantas diferenças intoleráveis entre seus indivíduos. Povos que não se toleram por pensar diferente ou por não conseguir dividir o mesmo território não honram uma raça que desenvolveu tantos avanços tecnológicos e mudou tão radicalmente a geografia do Planeta, evocando para si o direito de sobrepujar a própria natureza. Tanto ódiopreconceito quanto se tem visto em pleno século 21, definitivamente, não é o que se espera de quem usa, ou deveria usar, mais a inteligência do que o instinto.


Perceber que uma maioria tão significativa e representativa recusa-se a contribuir com a intolerância e o preconceito, portanto, é fato dos mais positivos para toda a aldeia global, que tem na França um dos pilares mais sólidos e confiáveis.


Liberdade, igualdade e fraternidade


Mas a chegada de Macron ao poder representa também o triunfo de uma visão mais sadia do Estado, segundo a qual ele precisa ser mais enxuto, econômico e eficiente, dando espaço para que as forças de mercado produzam as riquezas necessárias para melhorar a qualidade de vida da população. Ao chancelar as propostas que elegeram o candidato de um partido criado há um ano e sem um único representante no Parlamento, o povo francês de certa forma disse: “queremos menos Estado e mais sociedade, menos paternalismo e mais desenvolvimento, menos funcionalismo e mais empregos, menos público e mais privadoâ€. As manifestações em contrário a esta visão, pelo que se vê na mídia, têm sido tão relevantes e significativas quanto aquelas contra as reformas no Brasil e a favor de Nicolas Maduro na Venezuela.


Foi um recado bem semelhante ao da Revolução Francesa, aliás, quando os franceses uniram-se para dizer à monarquia que bastava de privilégios e que o poder passaria a ser exercido pelo povo e para o povo, através da democracia, priorizando a liberdade, a igualdade e a fraternidade. O discurso de Macron antes da eleição, divulgado através de um vídeo postado em seu perfil nas redes sociais, também resgatava valores importantes da globalização econômica, que, bem ou mal, inseriu muita gente no mercado e abriu novas possibilidades de comércio e cooperação: venham para a França, pois serão bem vindos, receberemos de abraços abertos quem vier para nos ajudar a produzir inovação e com isso gerar avanços econômicos e sociais para a França, a Europa e o mundo. Basicamente foi isso que disse o então candidato e hoje presidente da sexta maior economia do mundo – com um território quase 20 vezes menor e um terço da população, além de recursos naturais bem mais limitados, França tem um PIB 30% superior ao do Brasil.


Referendo


Outro elemento importante do cenário político francês é que ele acaba funcionando como uma espécie de referendo da União Europeia para a postura sóbria, responsável e, sobretudo, humanitária da chanceler alemã Angela Merkel, que abriu as portas da Alemanha para os refugiados sírios e com isso vem ajudando a amenizar um drama com reflexos para todo o mundo. Os cidadãos alemães, por sua vez, também devem dar ótimo exemplo em setembro próximo, quando vão às urnas para, ao que tudo indica até o momento, reeleger Merkel para o quarto mandato consecutivo à frente da quarta economia mundial - ela tem ampla margem sobre o concorrente, segundo pesquisas.  


Agora falta só o presidente dos EUA aderir ao coro do bom senso e parar com esse negócio de negar visto para cidadãos de origem islâmica. Isso pegal mal demais em uma nação como a norteamericana, tão importante para o equilíbrio mundial. Está na hora de se construir mais pontes do que muros entre o Ocidente e o Oriente, pois pode haver bem mais sinergia nesta ligação do que se imagina.




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