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ROUBOS TOMAM CONTA DE SP, QUE FICA LOGO ALI
Quarta-Feira, 17 de Maio de 2017

OPINIÃO DO ANÃLISE


Esperar pelo ônibus em São Paulo está virando um pesadelo para quem depende do transporte público na maior cidade do país, oitava maior do mundo.  De acordo com investigações da polícia, grupos de até 10 pessoas chegam a ser roubadas de uma vez nos pontos de embarque do município, através de arrastões que se espalham por toda a megalópole. O objeto mais procurado é o celular. Na maioria dos casos, os assaltos ocorrem pela manhã, por volta das 6h, quando as vítimas estão a caminho do trabalho.


As estatísticas da Secretaria da Segurança Pública de São Paulo mostram que, no primeiro trimestre de 2017, foram registrados 41,8 mil roubos na capital e 81,9 mil no estado. No mesmo período do ano passado, a capital teve 39,6 mil registros, enquanto o estado relatou 80,6 mil. Segundo levantamento oficial, as regiões com maior aumento de roubos na capital são Vila Santa Maria, na zona norte de 48 para 129 casos (168,7%); Consolação, no centro, de 183 para 421 (130%); e Santa Cecília, também no centro, de 102 para 198 (94%). Nos últimos 12 meses, enquanto o número de homicídios teve uma queda acentuada, os roubos permaneceram com tendência de alta.


Para a delegada Raquel Kobashi Galinatti, presidente do Sindicato dos Delegados do Estado de São Paulo (Sindesp), o aumento de crimes contra o patrimônio está diretamente ligado à falta de investimentos na polícia judiciária.


– A Polícia Civil de São Paulo está com seu quadro envelhecido e desfalcado em meio a uma estrutura que não oferece condições ideais de trabalho. Quanto mais crimes deixam de ser esclarecidos, maior a sensação de impunidade para o criminoso e pior serão as consequências para as pessoas de bem – analisa ela.


Brasil real


Por ter o maior estado e a maior cidade do país, São Paulo é um espelho fiel do Brasil real, aquele que não se esconde atrás dos morros da colonização europeia e seus índices importados de qualidade de vida, como em  nossas queridas Blumenau e Santa Catarina – que, no entanto, também já sentem os efeitos da escalada da violência.


E neste Brasil real, do qual São Paulo é a grande vitrine, as políticas de segurança pública estão claramente esgotadas. A estratégia da violência contra a violência, muitas vezes aplaudida por parte da sociedade, não tem produzido outro efeito que não seja a morte de inocentes na guerra entre a polícia e o crime. Para o cidadão de bem, que paga seus impostos e gostaria de ter serviços públicos à altura de seu esforço, andar na rua está ficando cada vez mais perigoso e menos seguro, ao contrário do que ele gostaria de ver acontecendo. Há quem olhe estatísticas com descrença, mas, neste caso, parece que a realidade das ruas confirma a conclusão dos números.


Olhando os dados em sua totalidade não se tem a verdadeira dimensão do fato, mas, ao estratificá-los, percebe-se facilmente que trata-se de verdadeiro descontrole. Dividindo-se o número de roubos verificado na capital paulista (41,8 mil) pela população da cidade (12 milhões), por exemplo, chega-se ao assustador coeficiente de 291. Ou seja, a cada grupo de 291 paulistanos, um foi assaltado nos três primeiros meses do ano. Adaptando esta relação Ã  realidade de nossa ainda pacata Blumenau, seria como se a cidade tivesse 1,6 mil roubos no primeiro trimestrede 2017. De acordo com estatísticas da Polícia Militar foram pouco mais 60 ocorrências do gênero durante o primeiro trimestre do ano em Blumenau – o que já é muito, diga-se de passagem, para uma cidade que até pouco tempo atrás desconhecia este tipo de ocorrência.


Tecla


Por isso o Análise em Foco vem batendo nesta tecla há muito tempo: o Brasil precisa de novas políticas de segurança pública, não apenas de mais efetivo policial e novos equipamentos de combate ao crime. Novas políticas que passam tanto pela ação policial quanto por uma reforma do código penal e, principalmente, por uma revisão profunda do sistema carcerário. Enquanto o combate ao crime resumir-se a chacinas periódicas (nas quais muitas vezes as grandes vítimas são inocentes)  e à superlotação das cadeias, o resultado vai ser este que se vê nas ruas de São Paulo e de muitas outras cidades do país, das grandes às pequenas.


Sendo assim nós, blumenauenses, protegidos ainda pelos morros da nossa colonização europeia e pelos índices confortáveis de qualidade de vida que ainda ostentamos, precisamos olhar para a segurança pública não apenas como uma questão de efetivo policial, mas de políticas públicas corretas. O governo do estado vem fazendo sua parte, aumentando o contingente de policiais em cerca de 10% nos últimos 12 meses. Mas precisa pensar também em treinamento adequado para a corporação e, principalmente, em estratégias que possam coibir o crime, não apenas combatê-lo.


Aos blumenauenses cabe sobretudo, além de se manter mobilizados por avanços no efetivo policial, formular uma visão mais sadia e madura do tema, evitando clichês do tipo “bandido bom é bandido mortoâ€, ou “quem não quiser ir para cadeia lotada que não cometa crimeâ€. Tal tipo de visão sobre o assunto não leva a nenhuma melhora na qualidade do serviço prestado pelo poder público, como se pode perceber pelos números observados acima.


Exportação


Pensemos nisso, seriamente, antes que seja tarde demais. Afinal, São Paulo é logo ali, pouco mais de 600 quilômetros distante de Blumenau. Pertinho da Silva para exportar crime e violência para cá, como possivelmente já exporta. Melhor, portanto, não achar que o problema não nos afeta.


Da redação da Band, com edição do AeF




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