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ENCHENTE DEVE SER MODERADA
Segunda-Feira, 05 de Junho de 2017

Algumas previsões do tempo e a situação climática do Vale do Itajaí têm alimentado certo pavor na região e no estado. Um receio de que as chuvas desta semana possam ser piores do que as da semana passada e provocar uma cheia ainda maior. A própria Defesa Civil tem se preparado para o pior, alertando a população para a possibilidade de um evento climático de proporções maiores que o registrado na semana que passou – pelos menos foi o que disseram fontes do órgão em entrevista a veículos de imprensa.

O Análise em Foco pediu a um profissional com domínio de informações meteorológicas que analisasse dados de satélite e formulasse uma opinião sobre o tema. Piloto de uma companhia aérea, ele observou dados e imagens às quais tem acesso para formular planos de vôo, avaliando, com base neles, as probabilidades de se ver confirmada a previsão de uma cheia nos próximos dias. Por orientação da empresa, ele está impedido de dar declarações públicas tratando de assuntos que possam ter relação com o trabalho, por isso suas considerações serão tratadas em off nesta publicação.

De acordo com a fonte consultada, o momento inspira cautela, não pânico.

– Observando a temperatura da áreas de nebulosidade, percebe-se que não há quantidade excessiva de zonas úmidas de temperatura muito baixa. Isso faz com que a nebulosidade presente não tenha volume excessivo de água a ser precipitado – observa.

Obstáculo

Neste momento o que mais preocupa é uma zona estacionária de alta pressão, que está parada sobre o Oceano Atlântico e impede as nuvens sobre Santa CatarinaVale do Itajaí de se dispersem. Isso ocorre em função do encontro de uma frente fria e uma frente quente, que acabam criando um bloqueio para o curso das nuvens em direção ao mar. Com isso, embora elas não sejam tão carregadas, permanecem por mais tempo que o desejado sobre a região e acabam elevando os índices de precipitação, encharcando o solo e favorecendo a ocorrência de deslizamentos.

Em relação ao risco de enchente, a fonte consultada pelo Análise em Foco  destaca que ele vai depender principalmente do manejo das barragens do Alto Vale do Itajaí, que seguram boa parte da água trazida pela chuva para a bacia hidrográfica do rio Itajaí-Açu. Neste momento elas já operam perto do esgotamento (Ituporanga com 100% e Taió com 72%), mas, como a chuva deu uma trégua na região do Alto Vale e o nível do rio ainda está sob controle, é possível que elas possam ter as comportas parcialmente abertas para aliviar o nível dos reservatórios e acumular novas precipitações.

Também joga a favor do momento o fato de que a barragem de José Boiteux desta vez poderá ser acionada, se necessário for – isso depende de uma série de fatores, entre os quais o nível do rio Itajaí-Açu em Blumenau e o índice de precipitação na região de José Boiteux, por exemplo. Embora esteja com a casa de máquinas danificada por vandalismo (os responsáveis pela estrutura no momento em que isso ocorreu eram os indígenas que ocupam o local), o dique de contenção podeser fechado com ajuda da gravidade, garante o secretário de Defesa Civil de Santa Catarina, Rodrigo Moratelli.

A princípio, portanto, não há motivo para pânico, apenas para cautela, principalmente nas encostas, onde pode haver deslizamentos. Fique atento às chuvas, ao nível do rio e à cota de enchente da sua rua, caso ela fique em área alagável. Todas estas informações estão acessíveis no site do Alertablu, sistema de monitoramento e alerta da bacia hidrográfica do rio Itajaí-Açu.

Investimento

E assim vai ficando claro mais uma vez a importância dos investimentos em prevenção de enchentes na região. Tanto o aumento das barragens de Ituporanga e Taió quanto a reativação da barragem de José Boiteux, promovidos recentemente, estão se mostrando indispensáveis para reduzir as cheias e os prejuízos causados pela chuva na região do Vale do Itajaí.

Mas fica claro também que os investimentos não podem parar por aí. É preciso construir novas barragens no Alto Vale e canais extravasores nas partes baixas da bacia, onde a extensa sinuosidade do rio Itajaí-Açu reduz a velocidade de vasão da água e favorece as cheias. O governo do estado já tem projetos para estas obras, agora resta esperar para ver se vai ter também dinheiro e boa vontade para tirá-las do papel.

Até porque o nível de precipitação pluviométrica dos últimos dias está longe de ser dos maiores já verificados na região, então parece plausível pressupor que, se chover como já choveu em alguns momentos do passado, vai ser um Deus nos acuda outra vez no presente.




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