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O CELEIRO DO MUNDO, INFELIZMENTE
Segunda-Feira, 17 de Julho de 2017

O exemplo de Blumenau e de todos os outros municípios que estão modernizando suas redes elétricas para iluminar melhor gastando menos deveria ensejar uma reflexão em torno de um dos assuntos mais emblemáticos do Brasil atualmente: a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, que está provocando uma devastação ambiental e social gigantesca na Amazônia para ampliar em parcos 10% a oferta de energia elétrica na região Norte do país.

Em um mundo em que a nova economia é feita por empresas extremamente eficientes do ponto de vista energético, nas quais computadores de baixo consumo são o principal bem de produção, é imperiosamente questionável a decisão de acabar com milhões e mais milhões de hectares de selva amazônica, aniquilando espécies da flora e da fauna e deteriorando o ambiente social do entorno, para produzir energia elétrica direcionada, basicamente, à siderurgia nacional.

Conforme vem destacando quem luta contra o avanço do projeto – que prevê outras barragens ao longo dos rios Xingu e Tapajós –, toda a devastação que está sendo promovida em um dos mais valiosos patrimônios naturais do Brasil tem como objetivo principal atender à demanda da indústria siderúrgica, exportadora de minério de ferro e aço. Ou seja, estamos acabando com parte significativa de nossa biodiversidade e de nosso equilíbrio natural para explorar o que resta de recursos naturais, vendendo-os a troco de banana no mercado internacional. Sustentamos o mundo com matéria-prima e compramos dele produtos manufaturados de alto valor agregado – recentemente o Análise em Foco destacou a diferença entre países que desenvolvem tecnologia, como os EUA, e aqueles que dependem de commodities, como o Brasil. Seguimos a mesma trilha de 500 anos, com ciclos exploratórios de ganhos restritos e nada sustentáveis, que no longo prazo afundam o país ainda mais em seu subdesenvolvimento. Quando estes recursos naturais se esgotarem, a nação estará falida.

Seria bem mais racional, portanto, do ponto de vista da lógica e da razão, que estivéssemos pensando em como transformar nossa matriz econômica para crescer com menos demanda energética e se desenvolver de forma mais sustentável. Só que não, caminhamos justamente na direção contrária: insistimos no mesmo modelo do passado para seguir esgotando o país e produzindo uma legião de miseráveis para cada novo rico que se cria. Achamos ótimo negócio ser o celeiro do mundo, permanecendo no passado para sustentar quem avança para o futuro. Definitivamente, não é este o melhor caminho para o Brasil.




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