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A LEMBRANÇA DE QUE É PRECISO LEMBRAR, SEMPRE
Terça-Feira, 01 de Agosto de 2017

Para quem gosta de destilar veneno, a pompa com que foram inaugurados um quiosque da Polícia Militar e um memorial às vítimas de tragédias ambientais ocorridas na cidade, ambos localizados na Praça Victor Konder, ao lado da prefeitura, seria um prato cheio. Houve até quem fizesse piada dizendo que Blumenau estava parecendo cidade pequena diante da peculiaridade dos eventos. Com direito a apresentação da banda do Exército, discurso de autoridades, hasteamento de bandeiras e cobertura midiática, eles receberam o melhor dos caprichos no protocolo oficial.

Olhando por outro ângulo, contudo, há que se reconhecer também a importância prática e simbólica dos fatos. A falta de um posto policial no Centro de Blumenau era coisa difícil de se entender e aceitar, mesmo considerando os níveis ainda invejáveis de segurança pública da cidade. Através de parceria entre o município, que cedeu o espaço e ajudou com os custos de instalação, e o 10º Batalhão de Polícia Militar, que destacou guarnição para o local, foi possível preencher esta lacuna e reforçar a sensação de segurança numa região, que, infelizmente, já não é mais tão pacata quanto era há poucas décadas. Convém ressaltar ainda que as condições de acomodação oferecidas aos PMs de Blumenau são bem mais adequadas do que as oferecidas a seus colegas do Rio de Janeiro, por exemplo, acomodados em guaritas minúsculas, no caso do Centro e da Zona Sul, ou containers adaptados, no caso das Unidades de Polícia Pacificadora instaladas nos morros – estas últimas, aliás, estariam contribuindo bem mais para a paz se ao invés de gaiolas fossem áreas com quadra de esporte, escola, área de lazer, etc.

Óbvio invisível

Já o memorial às vítimas das tragédias de Blumenau lembra aquelas canções de artistas consagrados que dizem o óbvio mas viram sucesso porque apesar de óbvias nunca foram ditas por ninguém. Trata-se de um mero caixote de mármore com uma placa de alumínio sobre ele, mas lembra aquilo que ninguém havia ainda lembrado através de um monumento: a quantidade de vidas que Blumenau já perdeu nas sucessivas tragédias ambientais que marcaram sua história. Difícil até acreditar que, depois de quase 200 anos sofrendo com enchentes, enxurradas e desmoronamentos, a cidade ainda não tivesse erguido um monumento em memória dos blumenauenses mortos pela força das águas e das encostas.

– No mundo inteiro as cidades fazem homenagens a pessoas que perdem a vida em guerras, catástrofes e outros acontecimentos que tiram a vida de seres humanos. Nós estamos fazendo o mesmo, homenageando aqueles que nos deixaram antes da hora nas catástrofes ocorridas em Blumenau – observa o prefeito Napoleão Bernardes, atribuindo a concepção da ideia aos gestores da Defesa Civil de Blumenau.

Cultura

É evidente que ele vem transformando qualquer evento que ocorra na cidade em palco ou palanque para alavancar eventuais saltos na corrida eleitoral do ano que vem – o tucano está cada vez mais cotado para ser candidato a vice-governador, senador ou deputado federal. Mas, de qualquer forma, os dois atos da praça Victor Konder valem para além do marketing político.

– Quando você reforça a memória deste tipo de evento, cria também uma cultura que favorece a prevenção – observa o secretário de Conservação e Manutenção Urbana de Blumenau, Marcelo Schrubbe, lembrando que a grande régua de medição colocada em uma das pontes sobre o rio Itajaí-Açu, no Centro da cidade, não serve como instrumento técnico porque é imprecisa, mas ajuda a lembrar a todos que passam por ela o drama que são as  enchentes para os blumenauenses.

Prejuízo

O vice-prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt, ressalta ainda que a ocorrência de cheias não provoca prejuízo apenas quando chega a níveis mais elevados, mas a cada vez que o sistema de prontidão precisa ser ativado, a partir dos 8 metros de elevação do rio Itajaí Açu.

 Há uma série de procedimentos que precisam ser adotados, seja com uma rua alagada, 10 ou 100, então a cada cheia é hora-extra, equipamentos e outros custos que começam a ser gerados para garantir o atendimento da população e preservar sua segurança – explica.

Diante destes fatos, portanto, nunca será demais lembrar que a qualquer hora o Itajaí-Açu poderá subir rápida e repentinamente para alagar ruas e casas, ou as chuvas ficarem torrenciais para provocar enxurradas e deslizamentos, colocando em risco a vida de pessoas. Neste sentido, tanto os memoriais quanto os mecanismos preventivos são mais do que bem vindos.

Navalha

Mas é igualmente importante ir além dos monumentos e eventos públicos. É preciso manter em dia as estratégias, os investimentos e os treinamentos necessários para qualificar o equipamento de prevenção do município e da região. Sem isso, não haverá memorial que dê conta de honrar a memória das pessoas que perderam e porventura ainda virão a perder a vida em desastres ambientais ocorridos em Blumenau.

Também é imprescindível que as pessoas façam sua parte evitando a ocupação de áreas de risco. Não coloque sua vida sobre o fio da navalha construindo em um local que poderá alagar quando o rio subir ou desabar quando chover forte. Hoje a prefeitura tem um mapeamento completo das áreas de risco do município, consulte-o antes de construir, preserve a segurança de si mesmo e da sua família. Afinal, você é mais responsável por ambos do que o poder público.

A inauguração do memorial às vítimas das tragédias ambientais ocorridas em Blumenau, na última segunda-feira, encerrou a programação do Julho Laranja, mês escolhido para marcar a importância das iniciativas de prevenção a desastres naturais na cidade. 




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