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VAI COMEÇAR A ALEGRIA DE QUEM SE DIVERTE, DE QUEM TRABALHA E DE QUEM ARRECADA
Sábado, 30 de Setembro de 2017

Faltando menos de uma semana para começar a 34ª edição da maior festa da tradição germânica fora da Alemanha, Blumenau se prepara para colocar novamente o nome de Santa Catarina na vitrine de todo o Brasil e até de países estrangeiros, que costumam exportar visitantes para o evento todos os anos. Principalmente os do Cone Sul, de onde muita gente aproveita a vizinhança conosco para conhecer o país, o estado, a cidade e a festa.

Mas além de palco para lazer e gastronomia da melhor qualidade, a Oktoberfest de Blumenau também é uma grande oportunidade de negócio para muita gente. Dos prestadores de serviço do evento aos fornecedores de insumos e matérias-primas consumidos na festa (são centenas de milhares de litros de chope e demais bebidas, inclusive as não alcoólicas; dezenas de milhares de pratos típicos e muitos souvenirs, trajes típicos e demais artigos ligados à tradição germânica e à festa), muita gente produz renda e faturamento extra trabalhando antes, durante e depois da Oktoberfest, já que o ciclo de organização do evento é praticamente ininterrupto – quando termina um, o planejamento do próximo já tem início e assim sucessivamente. Não por acaso tem-se um evento extremamente bem sucedido, líder do segmento no estado desde que nasceu, 34 anos.

Investimento

Por isso, quando se mede o que é investimento e o que é gasto na organização da Oktoberfest é preciso levar em conta diferentes aspectos, alguns mais perceptíveis outros menos. Mais diretamente, tem-se uma movimentação financeira e econômica significativa, na casa dos milhões, que gera lucro para as empresas envolvidas na produção da festa (assim como para a Vila Germânica, que organiza o evento) e arrecadação de impostos para a administração pública.

Mas existe também um efeito indireto da festa blumenauense, que traz para o estado turistas que acabam voltando depois ou indicando-o a conhecidos  atributos turísticos é o que não falta a Santa Catarina, em todas as épocas do ano. Se fosse feito um levantamento para medir a extensão deste impacto, haveria boas possibilidades de se identificar visitantes que voltaram ao estado depois de conhecê-lo através da maior festa da tradição germânica fora da Alemanha. Uma pista desta influência pode ser obtida de forma empírica mesmo, através de uma enquete com os visitantes do evento. Pergunte-se a quem vem de outros estados ou países para se divertir na Oktoberfest quem está em Santa Catarina pela primeira vez e quem pretende voltar em outra ocasião. Os resultados da sondagem possivelmente trariam uma amostra significativa da influência do evento no turismo catarinense.

Tecnologia

Outra área em que a Oktoberfest pode ter uma influência sensível é a tecnológica, fomentando e gerando demanda por uma série de novos serviços e produtos voltados para o atendimento dos oktoberfesteiros. Da bilhetagem eletrônica ao uso de sistemas ultramodernos de monitoramento e segurança, passando por soluções de interatividade e gestão do evento, não faltam campos onde sua grandiosidade pode servir de alavanca para o desenvolvimento de novas ferramentas tecnológicas e interfaces, contribuindo, inclusive, para o crescimento de novas empresas – o faturamento da startup florianopolitana Blueticket com venda de ingressos eletrônicos durante a Oktober, por exemplo, pode dar uma pista deste reflexo altamente positivo.

Debate

Neste contexto a questão levantada recentemente pelo deputado estadual Ismael dos Santos (PSD), que questionou investimento de R$ 700 mil do Governo do Estado na organização da Oktoberfest, é pertinente e merece ser relevada, afinal sabe-se da situação de dificuldade financeira da administração pública no Brasil. Mas neste debate é preciso considerar também todas as variáveis observadas acima, pois elas podem indicar que este aporte trata-se mais de investimento do que de gasto.

– O Oktoberfest não precisa dos recursos do governo do estado para ser organizada – diz o presidente do Parque Vila Germânica e secretário de Turismo de Blumenau, Ricardo Stodieck.

Lucro

Olhando para o balanço financeiro do evento, nota-se que ele talvez tenha razão. Em 2016, a Oktoberfest obteve um saldo positivo superior a R$ 2 milhões, descontando-se os gastos efetuados das receitas obtidas com a promoção do evento.

De qualquer forma, R$ 700 mil em capital de giro sempre ajuda a fazer girar um negócio, e a Oktoberfest nada mais é do que um grande e bem sucedido negócio, que movimenta milhões todos os anos só em receita própria e gera impacto intensivo na cadeia produtiva. Por outro lado o estado, além dos ganhos diretos com a movimentação econômica e financeira gerada pelo evento, ganha também o direito de explorá-lo em suas campanhas e estratégias de divulgação do turismo catarinense.

Qualificação

A bem da verdade, se todo investimento público fosse eficiente e bem administrado como a Oktoberfest, talvez a situação dos cofres públicos fosse outra – só a saúde pública tem um déficit superior a R$ 500 milhões em Santa Catarina, o que daria para quase mil anos de aportes do estado em seu principal evento de turismo. Na Oktoberfest você dificilmente vai encontrar algum prestador de serviço ou trabalhador que esteja lá só por indicação ou arranjo político. Ou o serviço oferecido tem qualificação para atender a meio milhão de pessoas em 18 dias ou não tem, simples assim. Ali nada pode dar errado, como acontece em tantas outras áreas da administração pública, sob pena de se ter um incidente irreparável para a imagem da cidade e de quem organiza o evento.

Sorte

Por isso mesmo a Vila Germânica precisa chamar a empresa responsável pela montagem das estruturas metálicas provisórias do evento para apurar responsabilidades na queda da cobertura montada sobre as bilheterias e catracas do Setor 1. Graças a um golpe de muita sorte, o desastre ocorreu antes de começar a festa. Caso tivesse ocorrido depois, poderia ter ferido gravemente alguma pessoa e aí as consequências para a imagem do evento, da cidade e do estado seriam gravíssimas. Este é aquele típico problema que simplesmente não pode ocorrer, pelos riscos que acarreta. Nem com a chuva de 2008 poderia ter ocorrido, muito menos com a garoa dos últimos dois dias. Além de explicações por parte do prestador do serviço, será preciso cobrar também mais rigor na montagem das estruturas, para que o aviso de hoje não se transforme na tragédia de amanhã.




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