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A CADEIRA DE HOJE PELA CADEIRA DE AMANHÃ
Sexta-Feira, 03 de Novembro de 2017

A cerimônia de posse do vereador Marcos da Rosa (DEM) – que assumiu interinamente a prefeitura de Blumenau, em substituição ao prefeito Napoleão Bernardes (PSDB), licenciado por 15 dias do cargo para se dedicar à filha recém nascida – foi um evento de efeito prático e também simbólico.

No campo da praticidade, mostrou a sintonia fina que há entre o Executivo e o Legislativo, afinal o arranjo que permitiu a Rosa tomar posse envolveu uma viagem do vice-prefeito Mário Hildebrandt no mesmo período da licença paternidade de Napoleão. Seria arranjo impensável se não houvesse o desejo explícito de congraçamento entre os poderes. Se o presidente da Câmara fosse o vereador Jovino Cardoso (PSD), por exemplo, vice-prefeito de Blumenau na primeira gestão napoleônica, isso jamais ocorreria. Encontrando fácil interlocução e pouca dificuldade para encaminhar seus projetos no Legislativo, o Executivo não viu nenhuma dificuldade em fazer um mimo ao presidente da Casa, que sentará na cadeira de Napoleão por 15 dias.

Mas é no campo da simbologia pré-eleitoral que estão os maiores reflexos da cerimônia desta sexta-feira de feriadão. Ela foi uma espécie de tira-gosto daquilo que pode estar por vir na cidade, com a eminente candidatura do prefeito Napoleão Bernardes ao governo do estado ano que vem. Uma candidatura que só não sai se os tucanos do plano estadual decidirem insistir com o agora bastante desgastado senador Paulo Bauer, que virou matéria-prima de meme hostil depois de ajudar a livrar a pele do colega Aécio Neves no Senado. Considerando que Bauer já concorreu ao governo do estado e perdeu, em 2010, seria bastante otimista considerar que agora teria mais chances, chamuscado pela laberada produzida no Senado com a operação Salva Aécio.

Conspiração

Para o tucanato blumenauense, que hoje comanda o reduto mais importante do partido em Santa Catarina, lançar Napoleão candidato ao governo é uma prioridade inabalável, cuja eventual inviabilidade vai provocar frustração indisfarçável – principalmente após o infortúnio de seu principal adversário dentro da legenda. Foi por este, entre outros fatores, que a cerimônia desta sexta-feira em Blumenau foi tão concorrida. Foi como uma espécie de show de abertura da apresentação principal, que pode ser a despedida definitiva de Napoleão Bernardes dentro de alguns meses.

O universo político regional conspira para isso, o nacional também. Com o inferno astral de velhos caciques do PSDB, como Aécio Neves, José Serra e Aloísio Nunes, abre-se espaço para o avanço de novas lideranças, como Geraldo Alckmin e João Dória em São Paulo ou Napoleão Bernardes em Santa Catarina.

Efervescência

Toda esta atmosfera de efervescência pode ter contribuído para transformar uma cerimônia que seria só mais um ritual político e protocolar em um concorrido evento que deixou o São Nobre da prefeitura pequeno. O gesto do prefeito para com o vereador e seu partido mostra que, além de estágio avançado de pré-candidatura, Napoleão já pode estar mirando também nas costuras e alianças que precisariam ser feitas para ir às urnas com chance mínima de vitória. Concorrer só por concorrer, deixando para trás uma prefeitura importante como a de Blumenau, não deve ser exatamente o que passa pela cabeça do tucano a esta altura. Ele seguramente deve estar pensando em possibilidade de candidatura e de vitória, como fez em 2012, quando pouca gente acreditada que poderia concorrer e vencer.

Em esferas importantes do status quo o potencial latente de uma candidatura napoleônica já desperta expectativas em interlocutores de projeção.

– O prefeito Napoleão é o nosso candidato ao governo – já disse sem nenhum receio o presidente da Associação Empresarial de Blumenau (Acib), Avelino Lombardi, em conversa com o editor do Análise em Foco, logo que assumiu o comando da influente entidade blumenauense.

Representação

O fato é que o Vale do Itajaí, responsável por metade do PIB de Santa Catarina (junto com o Litoral-Norte),  anseia há décadas por melhor representação em Florianópolis. Para um território e uma gente tão acostumados a trabalhar duro e produzir riquezas importantíssimas para o estado, fica uma grande lacuna jamais ter ocupado uma cadeira no comando do poder Executivo estadual. Outras mesorregiões importantes do estado já o fizeram, mas o Vale do Itajaí jamais fez um governador ou vice – o ex-governador Vilson Kleinübing veio para Blumenau, onde elegeu-se prefeito, mas era natural de Videira, no Meio Oeste catarinense.

João Paulo Kleinübing (PSD) é outra estrela de ascendência política local, igualmente bem aceito por setores politicamente estratégicos, mas hoje encontra  dificuldade para encarar a missão porque está em um partido que tem outro candidato na sucessão do governo, concorrendo  com o apoio do atual governador.

Prenúncio

Uma das costuras que se cogita no momento para adequar estas variáveis seria a ida de Kleinübing para o Democratas, que acaba de assumir a prefeitura de Blumenau por 15 dias, com o vereador Marcos da Rosa, aproveitando brecha aberta pelo prefeito Napoleão Bernardes e por seu vice Mário Hildebrandt, do PSB, partido que apóia Gelson Merisio para o governo estadual (candidato do governador Raimundo Colombo) mas precisará aceitar o apoio já declarado de Hildebrandt a Napoleão.

Está difícil de entender, não é? É um número de varáveis amplo e em pleno movimento, que vai definir o futuro da eleição, do estado e da região. A disputa por espaços no evento desta sexta-feira foi um prenúncio disso. A esta altura já deve ter muita gente olhando seriamente para as possibilidades do futuro e tentando identificar nelas a que melhor se encaixa em seus projetos.




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