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APLICATIVO SUBSTITUI VEREADOR EM DEMANDAS DE MANUTENÇÃO URBANA
Sexta-Feira, 01 de Dezembro de 2017

Em uma realidade na qual o poder público às vezes tem dificuldade até para manter serviços essenciais (um pouco pelo contexto temporário e bastante por responsabilidade própria, afinal só o Executivo municipal tem cerca de 300 cargos comissionados, por exemplo), seria otimismo surreal acreditar que o aplicativo lançado pela prefeitura de Blumenau nesta semana consiga resolver todos os problemas de atendimento ao cidadão – denominado Blumenau Cidade Jardim, permite que os blumenauenses fotografem e peçam o reparo ou a manutenção de equipamentos urbanos do município. Com a cidade repleta de demandas em todas as regiões e em todas as áreas, de roçadas a tapa-buracos, passando pela conservação de praças e sinalização em ruas, entre outras demandas latentes e reprimidas, o máximo que se pode esperar da nova ferramenta é delinear o tamanho do problema e, quem sabe, diminuir um pouco sua extensão.

O secretário de Conservação e Manutenção Urbana, Marcelo Schrubbe, reconhece com sinceridade lacônica o principal aspecto envolvido na questão:

– O aplicativo não faz o mato crescer, não abre buraco na rua nem depreda patrimônio público, então são demandas que já existem e a gente não atende porque não fica sabendo ou não tem condição, mas aí é um problema nosso.

Controle

É exatamente aí, contudo, que está o xis da questão, na opinião de Schrubbe. Ele acredita que, se for usada em larga escala pela população e produzir número significativo de registros, a nova ferramenta poderá servir como um banco de dados para avaliar resultados e planejar ações na área de conservação urbana.

– Atualmente eu não tenho nenhum sistema eficiente de controle sobre os serviços efetuados. Tudo que há são ordens de serviço, de papel, assinadas e protocoladas – constata o secretário, dando prosseguimento a uma sinceridade incomum para um político (a bem da verdade ele tem perfil mais técnico do que político, embora já tenha sido vereador e candidato a deputado estadual).

Com o aplicativo, destaca, o gestor da pasta poderá acompanhar em tempo real o registro de uma demanda, o estágio de seu atendimento e o resultado final do serviço efetuado. Da solicitação feita pelo cidadão ao trabalho das equipes de manutenção do município, todo o processo será acompanhado por fotos, descrição do custo previsto e orçamento efetivado. Primeiro a pessoa que tem a solicitação a fazer tira uma foto do problema a ser resolvido e envia para a secretaria através do aplicativo – que é bastante intuitivo, facilitando a navegação e o envio da mensagem. 

No sistema do administrador, o pedido recebe uma indicação do tipo de trabalho a ser feito e a quantidade de material a ser utilizada. Caso a extensão do problema seja maior do que o relatado, uma nova imagem precisa ser feita pelos profissionais da Secretaria de Conservação e Manutenção Urbana (Seurb) e anexada ao histórico do serviço. Detalhe: as informações sobre o pedido e seu atendimento ficam disponíveis para consulta do cidadão no próprio aplicativo.

- Vai ficar muito mais fácil para detectar desperdício, por exemplo, ou para fazer um planejamento logístico mais adequado – observa Schrubbe sobre o aproveitamento dos dados que serão compilados pelo aplicativo.

Racionalização

O titular da Seurb lembra que hoje o meio mais utilizado pela população na hora de pedir serviços de manutenção urbana é a Câmara de Vereadores, através de requerimentos encaminhados pelos vereadores ao Executivo.

– O sujeito pede o conserto de um buraco ao vereador, que faz o requerimento ao gabinete do prefeito, que despacha para a secretaria responsável, que encaminha a solicitação internamente até fazê-la chegar na mão de quem realmente vai para a rua fazer o serviço. Só de despachos e assinaturas este processo consome algumas semanas – calcula Schrubbe, sem economizar na sinceridade que não surpreenderia se não viesse de um agente público.

Com a ferramenta desenvolvida por sua pasta, o pedido do cidadão agora vai chegar em tempo real à tela do computador de quem responde pelo atendimento, além de ficar disponível para consulta de quem espera pelo serviço. É a tecnologia a serviço da transparência e da eficiência. É também o prenúncio do epitáfio de um nicho eleitoral bastante apreciado por alguns legisladores, que elegem-se para a Câmara de Vereadores para virar uma espécie de fiscal de obras a serviço de seus eleitores, quando na verdade deveriam se preocupar mais com o aprimoramento da legislação municipal e a fiscalização do poder.

Somando, dividindo e multiplicando, portanto, percebe-se que o principal legado da ferramenta desenvolvida pela administração municipal não vai ser necessariamente a quantidade de buracos consertados, praças recuperadas ou terrenos roçados. Vai ser a racionalização administrativa, ajudando a saber com maior precisão o que, como e por quanto fazer. Resultado que geralmente traz consigo mais economia e qualidade para a prestação de um serviço ou confecção de um produto.

Pechincha

Chama a atenção também o custo de desenvolvimento surpreendentemente baixo da ferramenta, que, de acordo com o secretario de Conservação e Manutenção Urbana, custou apenas R$ 3 mil. Uma verdadeira pechincha, negócio da China para os padrões do mercado de desenvolvimento e programação. O segredo da façanha, que na verdade não é nenhum segredo, foi um só: uma parceria bem feita entre o público e o privado. A Seurb pediu a empresa do ramo tecnológico, que presta serviço para a prefeitura, um fluxograma detalhado para o desenvolvimento da ideia, nascida dentro da secretaria. Depois, entregou a causa aos programadores concursados da própria administração municipal, que escreveram os códigos do app e deram vida a ele.

Envolvimento

Agora será fundamental que a população utilize a ferramenta e encha a tela dos computadores da Seurb com pedidos de manutenção e conservação – o app já está disponível na Play Store para sistema Android, e logo estará também na App Store para sistema IOS.

Se, por acaso, o cidadão continuar recorrendo aos vereadores na hora de pedir conserto de rua, roçada ou manutenção de praça, estará abrindo mão de assumir ele próprio o controle da situação. A administração municipal teve coragem e lançou feitiço que pode acabar se voltando contra o feiticeiro, então cabe a quem se interessa pela feitiçaria fazer sua parte para que ela tenha efeito.

Ressaltando que, se isso acontecer, vai ser bom para ambas as partes: a administração pública, que vai ter elementos para melhorar a qualidade do serviço prestado à população, e para esta própria, que vai ter uma cidade ainda melhor do que já tem para viver. Que Blumenau seja a grande beneficiada com a iniciativa.




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