Conforme publicou o site de informação econômica Noticenter, a maior empresa de Santa Catarina - Bunge Alimentos - poderia estar prestes a deixar o Estado. Ainda não há confirmação, mas, de acordo com o veÃculo, fontes que gravitam em torno do poder central da Bunge seriam a origem dos comentários, o que dá a eles alguma base de sustentação.
Informa o Noticenter que, após uma série de medidas administrativas voltadas à restruturação do maior conglomerado agroindustrial da América Latina, poderiam estar revendo a localização da sede administrativa, que hoje fica em Gaspar, no Médio Vale do ItajaÃ.
Supostos motivos: o distanciamento das fontes de matéria prima e a queda na qualidade de vida da região, às voltas com a eclosão da violência urbana e dos congestionamentos. Isso estaria criando obstáculos para trazer os melhores executivos da empresa para o Vale.
Qualquer análise fria e imparcial, mostrará que tais argumentos não são estapafúrdios. O Vale do Itajaà e sua economia estão sendo duramente asfixiados pela grave deficiência de infraestrutura viária.
Com as duas rodovias - BR e SC 470 - que ligam a região ao porto de Itajaà e à BR-101 esgotadas, o Vale está perdendo a capacidade de competir. Toda Santa Catarina perde, aliás, afinal Blumenau e região são um dos motores mais potentes da economia catarinense.
Neste domingo de Páscoa, por exemplo, quem mora na região precisou de muita paciência na hora de voltar do litoral para casa. Tanto a Jorge Lacerda (SC 470) quanto a BR-470 (foto) ficaram quase intransitáveis. Para percorrer cerca de
É evidente que isso afasta profissionais e empresas da região. Não é preciso ser brilhante para perceber isso. Assim como qualquer avaliação simplista, sem nenhuma complexidade, permite vislumbrar um futuro complicado para a região, se nada for feito.
LogÃstica é tudo para o desenvolvimento social e econômico. Foi justamente uma organização viária diferenciada que fez Blumenau e região se desenvolverem de forma tão proeminente, no começo do século passado. Além do capital humano em nÃvel de excelência, a região tinha um porto e uma ferrovia, voltados para o escoamento da produção e o tráfego de pessoas.
Agora, por ironia do destino, é justamente a falência dos modais de transporte que está minando, aos poucos, a economia do Vale. Não há mais porto nem ferrovia, e as rodovias estão saturadas.
É como pegar um dos melhores funcionários de uma empresa, amarra-lhe braços e pernas, e exigir depois o cumprimento das metas. É como punir, e não premiar, o melhor executivo de uma indústria, reduzindo-lhe o salário após aumento de faturamento. É como cortar o oxigênio de alguém até a asfixia completa.
O que estão fazendo com o Vale do Itajaà e Santa Catarina, ao empurrar com a barriga o projeto de duplicação da BR-470, assim como as propostas de construção de uma ferrovia e exploração da cabotagem no rio ItajaÃ-Açu, é quase um crime. É, no mÃnimo, um acinte, uma agressão moral, um ataque a quem deveria ser protegido. É o mais legÃtimo fogo amigo.
Perdem, e muito, a região e o Estado, mas perde também o Brasil, atrofiando a capacidade produtiva de um filho seu. Um dos mais pródigos, aliás. Uma só palavra resume bem a postura de gestores públicos e representantes polÃticos em relação ao Vale: burrice.
E, se a Bunge não deixar a região, outras empresas deixarão de vir. O prejuÃzo é lÃquido e certo, enquanto durar a agonia das estradas.