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MEDIAR CONFLITOS FORA DO CAMPO PEDAGÓGICO É FUNDAMENTAL
Quarta-Feira, 16 de Junho de 2010

Recentemente, Braz Eunildo Wiltuschnig assumiu o mandato de vereador suplente por 30 dias. Na Câmara de Vereadores de Blumenau, encarou a polêmica votação da Lei do Esgoto e o desembarque do partido dele, o PP, do governo municipal.


Mas a praia em que surfa mais à vontade é mesmo a educação. Há 31 anos, desempenha a mesma função no processo educativo: zelar pelo rigor disciplinar dentro da escola e mediar a relação entre estudante, pais e instituição de ensino.


E rigor disciplinar, para ele, continua sendo uma das bases de sustentação da qualidade educacional. Na curta passagem que teve pelo Legislativo, sugeriu aos colegas de legislatura a criação de uma função semelhante à sua na rede pública.


– Para atender o que não é diretamente pedagógico, como conflitos e outras situações, justifica.


Ele também defende a concessão de subsídios para que a iniciativa privada possa atender à maior parte das demandas educacionais.


A seguir, o artigo escrito por Braz Eunildo Wiltuschnig para o Análise em Foco:



"Estou no colégio Bom Jesus Santo Antônio desde março de 1979, quando comecei nesta função (coordenador disciplinar), ainda no curso técnico de Contabilidade. Em agosto de 1986, passei para os turnos matutino e vespertino do primeiro e segundo graus, como chamavam-se, à época, o ensino fundamental e médio.


Ao longo desta trajetória de três décadas, pude perceber mudanças nítidas de postura entre os estudantes dos anos 80 e os de agora. E as diferenças são bem distintas:


Antes, os alunos estudavam mais, "brigavam" para ver quem tirava nota mais alta. Era necessário repressões mais firmes, eles "aprontavam" mais, ao mesmo tempo em que também eram mais cobrados pela família.


Agora, o aluno é mais acessível, mas estuda menos e parece ter vergonha de tirar notas altas. E muitos não são cobrados pela família.


Da minha parte, também houve grande mudança de comportamento. Precisei me adaptar à evolução tecnológica, saber  lidar com novas situações (particularidade específica constatada), aprendi a ouvir mais, ser mais ponderado, ouvir os dois lados em conjunto e, principalmente, aprendi a ter muito mais paciência.


Hoje ainda é exigida a disciplina, só que as soluções para as condutas de indisciplina são diferenciadas e aplicadas à cada situação. Hoje trabalho primeiramente com muita orientação, esclarecimento,  chamando o aluno para responsabilidade e possíveis consequencias de suas atitudes. Trabalho muito acreditando em sua palavra e dando confiança para que não repita erros.


DIFERENÇAS ENTRE ESCOLA PÚBLICA E PRIVADA AINDA SÃO GRANDES, INFELIZMENTE


Pela longa experiência que tenho como profissional da educação, é normal que me perguntem: a diferença entre as escolas públicas e privadas ainda é muito grande?


Infelizmente, sim. Principalmente em relação à qualidade do espaço físico e da organização pedagógica (o preparo dos professores, reciclagem, a cobrança da qualidade). O salário, claro, também influencia muito.


Ambos (ensino privado e estatal) têm problemas em comum, como o envolvimento/comprometimento nem sempre satisfatório dos professores e funcionários. A escola privada, contudo, pode demitir, por exemplo, enquanto a pública precisa respeitar a estabilidade dos professores concursados, protegidos pela garantia formal do emprego. A gestão do rigor disciplinar também pode ser um fator de diferenciação entre o ensino público e o privado.


De qualquer forma, houve avanço do ensino público nos últimos anos. O sistema evoluiu muito, dependendo da região, principalmente na qualificação dos professores e na unificação dos conteúdos.


Para avançar mais , em minha opinião, é preciso investir constantemente no professor, na qualidade do material didático e de apoio, em estruturas modernas e conteúdos pedagógicos consistentes.


Para isso, tais investimentos deveriam ser discutidos com todos os profissionais envolvidos na cadeia educacional do Estado. Suas experiências, com certeza, melhorariam muito qualidade do ensino público. São eles que sabem as dificuldades e o necessário para melhorar.


SISTEMAS DE CONCESSÃO PÚBLICA PODERIAM CONTRIBUIR PARA MELHORAR A EDUCAÇÃO


E a concessão da educação pública para a iniciativa privada, como chegam a defender alguns, poderia ser uma boa ideia?


Se fosse feita a concessão, o estado, ou munícipio, através de suas Secretarias de Educação, deveriam controlar o funcionamento do sistema, cobrando qualidade, resultados, melhoria nas instalações, investimentos na qualificação dos professores e funcionários.


Poderia ser viável, e isso também ajudaria a acabar com o sucateamento das estruturas educacionais, que muitas vezes acomete o ensino público. Como o estado  e o município estariam pagando pelo serviço, poderiam exigir mais.


Estado, ou município, subsidiariam instituições privadas para oferecer educação, no caso de defasagem de vagas na rede pública. O governo contrataria a iniciativa privada, exigindo mais eficiência e menos desperdícios. Ou seja: buscaria fazer mais com menos e mais qualidade.


COMO É POSSÃVEL CONTINUAR MELHORANDO A EDUCAÇÃO NO BRASIL?


Caso assumisse uma secretaria de educação hoje, faria primeiro um levantamento para ver como está a situação real da educação, para então ver o que é necessário e urgente para melhorar a qualidade.


Investir nos professores, dando a eles oportunidade de capacitação constante, assim como reunir diretores para checar dificuldades específicas (bairro/região) e/ou comuns, contudo, é indispensável para o avanço da educação pública. Se possível fosse, firmar contrato com um grupo educacional para dar apoio e prestar serviços pedagógicos.


O problema é que, muitas vezes, quem está à frente do sistema educacional tem cargo meramente político, e não está envolvido e preocupado diretamente com a educação.


Mas acredito que, em uma década, com tantas pessoas querendo fazer o melhor para a educação, haverá um crescimento positivo.


Só não se pode, jamais, deixar de investir cada vez mais na qualidade dos docentes, na parte pedagógica e no espaço físico. Deve-se aprimorar sempre os conteúdos e o material pedagógico (livros), incentivando a leitura, criando hábitos de estudo.


Como vereador suplente, ocupando mandato por 30 dias, creio ter sido possível deixar uma pequena contribuição, como a ideia de criar, nas escolas do município, função semelhante a de um coordenador disciplinar, para atender o que não é diretamente pedagógico, como conflitos e outras situações, sempre de acordo com a coordenação pedagógica exercida pela direção, é claro. 


Para que os problemas fossem resolvidos dentro da escola, e não fora dela. Isso envolveria, para a solução do problema, os pilares básicos da boa educação: aluno, família e escola.


Esta ideia foi discutida com outros vereadores, e, possivelmente, será levada adiante no futuro.


Também sugeri uma semana comum para o recesso escolar em julho, para todas as redes, o que permitiria ao professor ter uma semana de descanso merecido. Afinal, muitos professores trabalham tanto na rede pública quanto na privada, dividindo-se entre as duas para compor um rendimento mais adequado.



 


Por Braz Eunildo Wiltuschnig, coordenador disciplinar do colégio Bom Jesus Santo Antônio e vereador suplente


 




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