Na última sexta-feira (26), o reitor da Universidade Regional de Blumenau (Furb), João Natel, interrompeu uma reunião para atender ao Análise em Foco, às 15h, conforme o combinado, sem atrasos.
Durante a conversa de aproximadamente 25 minutos, em seu gabinete, o novo comandante da universidade blumenauense – Natel assumiu o cargo há um mês e meio – foi bastante enfático, em diversos momentos: a situação financeira da Furb hoje está equilibrada, mas no futuro pode sofrer desarranjos, se mudanças de estratégia não forem adotadas.
Para evitar que isso aconteça, ele tem uma linha de ação bem clara: reduzir a participação das mensalidades cobradas na graduação no orçamento da instituição. De 75%, como está hoje, para 60%.
Além disso, Natel pretende trabalhar pela criação de uma Fundação, privada, vinculada à Furb, com o objetivo de estimular parcerias entre a universidade e o mercado, através da prestação de serviços. O apoio à pesquisa também deve crescer na gestão do novo reitor.
Confira, a seguir, a primeira parte da entrevista de João Natel para o AEF. Na segunda-feira você confere a segunda.
FINANÇAS AINDA ESTÃO EQUILIBRADAS. FUTURO PREOCUPA, MAS TAMBÉM MOTIVA
ANÃLISE EM FOCO – A Furb, sabe-se, tem uma situação financeira difÃcil, com uma dÃvida significativa para administrar e capacidade limitada de investimento. Vale a pena ser reitor da Furb nesta situação? Por quê?
JOÃO NATEL: Vale muito a pena. É uma instituição na qual trabalhamos há mais de 20 anos. É uma instituição relevante, com uma história importante no Médio Vale do Itajaà e
AEF – Como atacar o déficit de caixa da instituição e, ao mesmo tempo, promover seu crescimento?
NATEL: Bom, hoje nós temos um equilÃbrio financeiro na universidade. Por outro lado, temos uma condição preocupante, porque a maior parte dos recursos que financiam a universidade vem dos alunos. Temos as contas equilibradas no sentido de que as despesas fixas, a capacidade de tocar a universidade, ela operacionalmente está equilibrada. Nosso orçamento anual, em torno de R$ 120 milhões, já tem receitas estimadas para contemplar o funcionamento da instituição, neste momento.
Mas há riscos para o futuro. Como três quartos do que nós temos aqui depende da mensalidade dos alunos e, em geral, no Sistema Acafe, tem existido um decréscimo no número de ingressantes no ensino superior, temos um quadro de dificuldades para o futuro. E há várias explicações para isso.
Uma delas é que o número de alunos no Ensino Médio tem diminuÃdo, porque nosso estado tem uma tendência a ter uma pirâmide populacional com menos jovens e mais adultos e idosos (fenômeno que também ocorre no restante do paÃs, cuja média etária está aumentando). Então aquilo que foi projetado 15 ou 20 anos atrás, em termos de capacidade da universidade, precisa ser redimensionado.
Uma outra ameaça para as universidades ditas comunitárias (sem fins lucrativos, como é o caso da Furb) é a expansão do ensino federal, superior, das universidades federais.
Portanto, hoje a Furb tem um equilÃbrio financeiro, ela não é uma instituição deficitária, as suas contas estão equilibradas. Mas o cenário para os próximos anos é um cenário preocupante.
AEF – Como vencer estes obstáculos?
NATEL: A universidade vai ter que buscar a diversificação de seus produtos, além do ensino de graduação. Melhorar o ensino de graduação, lançar novos cursos, que respondam a demandas da sociedade, e partir para outras fontes de receita.
AEF – Qual seria a proporção ideal de receita vinculada ao pagamento de mensalidades, que hoje é de 75%? Quais as outras fontes possÃveis de receita?
NATEL: Nós temos várias preocupações, uma delas diz respeito a depender menos das mensalidades. Um número bem confortável seria na faixa de 60%. Isso implica também que esse 40% que nós vamos ter que buscar, teriam que ser obtidos através das outras potencialidades que a universidade tem, essa é uma discussão importante.
Uma universidade é fundamentada em ensino, pesquisa e prestação de serviços, que é chamada de extensão. A Furb tem estrutura, docentes (professores) e técnicos administrativos capazes de fazer pesquisa de ponta, de qualidade. Tanto este incremento qualitativo quanto quantitativo, a universidade tem. O que precisamos é dar condições ao pesquisador, dentro da instituição, diminuindo a carga dele de ensino na graduação e deixando-o mais dedicado à pesquisa e à pós-graduação, e buscar competição nos editais de financiamento de pesquisa, em diversos ógãos, como Fapesc, CNPQ, Finep, etc e tal.
Isso, no orçamento da universidade hoje, de R$ 120 milhões operacionais, a verba que vem para pesquisa é de cerca de R$ 18 milhões. A Furb tem potencialidade para aumentar cada vez mais este valor ao longo do tempo.
AEF – Até quanto poderia chegar este valor? É possÃvel estabelecer uma meta?
NATEL: Não, nós não temos esta dimensão porque isso depende do apoio ao pesquisador, a resposta não é imediata e você depende de algo que é muito variável. O processo da pesquisa é demorado. Você projeta ela para um ano, mas há fatores que podem interferir e aumentar sensivelmente este tempo.
AEF – E no campo da prestação de serviços, quais são as perspectivas da Furb?
NATEL: A Furb já tem uma excelência na prestação de serviços. A análise de combustÃvel, por exemplo, entre outros serviços, já estimulam pessoas, empresas da região, estatais ou não, a procurar a Furb para parcerias em termos de prestação de um serviço, seja para a análise de água ou combustÃvel, para o planejamento de uma empresa ou outro serviço.
Isso representa ingresso de recursos no caixa da instituição. Mas nossa grande dificuldade hoje (para ampliar a participação destes recursos) é que a Furb é uma instituição pública, então existem alguns limites impostos pela lei para a captação de recursos via serviços, pelo fato da universidade ser pública.
Por isso o que nós pretendemos, ao longo desta gestão, é ter um braço da Furb, uma fundação própria da Furb, de natureza privada, para prestar estes serviços e ser esta interface do mercado com a universidade. Em outras palavras: vamos supor que eu tenha determinado serviço para oferecer a uma empresa ou à comunidade. Então, a fundação prestaria este serviço e passaria para a universidade valores para equipar laboratórios, pagar profissionais. Esta é uma vocação da estrutura que está aqui montada.
Como eu já disse, há 20 anos, o planejamento da universidade previa que, para o ponto onde ela está, tivesse 15 mil alunos na graduação. Hoje nós temos 10 mil alunos, e uma capacidade ociosa em torno de 50%,