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OFERTA DE ÃGUA EM BLUMENAU FOI LIMITADA, NÃO INSUFICIENTE
Quarta-Feira, 02 de Fevereiro de 2011

EDITORIAL AEF:


A humanidade, muitas vezes, segue invertendo o foco de análises importantes, infelizmente. Exemplo claro disso: o racionamento de água efetuado pelo Serviço Autônomo Municipal de Ãgua e Esgoto (Samae) de Blumenau, na última semana. Em função de um forte aumento de turbidez da água do rio Itajaí-Açu, causado pelo excesso de chuvas no Alto Vale do Itajaí, a autarquia precisou reduzir em 50% o tratamento e o fornecimento do líquido.


Foi um “Deus nos acudaâ€, como sempre. Pessoas reclamando, veículos de comunicação se deleitando com o assunto e o Samae correndo contra o tempo – e o clima – para “normalizar†o fornecimento. Na rádio, houve até quem fizesse ofensas pessoais ao presidente da autarquia, como se a decisão – acertada – de limitar a coleta e o tratamento de água fosse uma decisão, ou um capricho, individual.


Não era. Recolher e tratar água com tamanho nível de turbidez (que chegou a 9 mil unidades, 15 vezes mais que o tolerável) colocaria em risco a saúde da população e a vida útil dos equipamentos do Samae, ocasionando prejuízos muitíssimo maiores do que a limitação do fornecimento.


A PERGUNTA MAIS IMPORTANTE NINGUÉM FEZ


A pergunta mais importante, contudo, e que ninguém fez, é: foi a redução no fornecimento ou o desperdício que levaram muitas torneiras a secar?


É normal precisar tratar 800 litros de água por segundo para atender à demanda de uma cidade? Poder-se-ia reduzir esta demanda reduzindo o desperdício?


Piscinas, banheiras de hidromassagem, lavações de carro e toda sorte de confortos supérfluos e individualistas, entre os quais também estão os banhos longos e as torneiras insaciáveis da cozinha ou da área de serviço, sobrecarregam perigosamente o sistema. A falta de caixa d´água em muitos domicílios, da mesma forma, impõe ao mecanismo de tratamento e distribuição uma regularidade que, no futuro, pode ser posta em cheque pelo esgotamento das reservas mundiais de água potável.


Uma conta bastante intuitiva e simples ajuda a fundamentar o raciocínio. Durante o racionamento da semana passada, o Samae de Blumenau fazia o fornecimento pelo menos uma vez ao dia, em quantidade suficiente para encher uma caixa de 500 litros. E o que se pode fazer com 500 litros d´água? Muita coisa.


AEF fez levantamentos e concluiu que:


1) Um modelo simples de chuveiro, quando ligado, consome cerca de cinco litros por minuto. Em um banho de cinco minutos, portanto, gastará 25 litros de água. Este é um tempo suficiente para uma boa higienização do corpo, desde que você seja breve, organizado e objetivo em seu banho. Sabe-se, contudo, que algumas pessoas ficam 20, 25, 30 ou até 40 minutos embaixo do chuveiro, desperdiçando mais água do que enxurrada em dia de tempestade.


2) Com sete litros de água, é possível preparar feijão, arroz e macarrão para quatro pessoas, que é a média de integrantes da família brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mudando o cardápio, não mudará muito a quantidade, que poderia ficar até menor.


3) Com 20 litros, pode-se lavar toda a louça da refeição acima e ainda sobra, se a torneira permanecer fechada entre o ato de ensaboar e o de enxaguar. Para a louça do café, menos volumosa, a metade disso, 10 litros, seria mais do que suficiente.


4) Com cerca de 150 litros de água, as máquinas de lavar mais modernas podem lavar entre cinco e sete quilos de roupa, se forem utilizadas na opção econômica.


OBS: o levantamento em questão desconsidera quipamentos que dispensam o uso de água potável, como a descarga do banheiro ou as mangueiras de uso externo, que podem utilizar Ã¡gua armazenada da chuva ou reaproveitada.  


Somando-se os números acima e considerando uma família de quatro pessoas, fazendo quatro refeições em casa (almoço, janta, café da manhã e café da tarde) e lavando roupa uma vez ao dia, tem-se que seriam gastos 324 litros de água. Ou seja, para passar um dia com o mínimo de conforto e sem desperdícios, esta família gastaria 64,8% da água acumulada em uma caixa de 500 litros. Sobrariam 176 litros para usar no dia seguinte.


O consumo per capta ideal, nesta conta, é de 81 litros de água. Se você gasta mais do que isso por dia, portanto, está desperdiçando o mais importante e imprescindível líquido da Terra.


Em um futuro não tão distante assim (considerando o nível de degradação ambiental e comprometimento de mananciais hídricos, como o poluído rio Itajaí-Açu, na foto acima), é possível até que 81 litros seja muito para gastar em um só dia. Talvez não haja nem oferta para isso, ou, se houver, custe caro demais. Já imaginou a água custando o mesmo que a gasolina, quase R$ 3,00 o litro? Ou metade disso, quem sabe um terço, 10% que seja?


Neste dia, 81 litros de água por dia serão um luxo, e talvez nem caibam em seu bolso. Comece a pensar nisso, veja quanta água está desperdiçando e aprenda a economizar. Quem sabe, com a sua ajuda, o Samae precise tratar apenas 400 litros de água por segundo, e não 800, como nos dias atuais, de fartura e desperdício.     


        


 




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