Análise em Foco > Personalidade
PROPRIETÃRIO DE ÃREA PRESERVADA MERECE REMUNERAÇÃO ESTATAL, CRÊEM LULA E TAFNER
Quarta-Feira, 16 de Fevereiro de 2011

No ano passado, o reitor do Centro Universitário Leonardo da Vinci (Uniasselvi), gestor do Grupo Uniasselvi e professor do Instituto Catarinense de Pós-Graduação (ICPG), Malcon Tafner, enviou uma série de artigos para o Análise em Foco. Publicamos alguns, outros ficaram na gaveta, infelizmente, em função de pautas factuais que precisaram dividir a agenda do portal.


Por serem textos imperdíveis, tanto pela natureza dos assuntos tratados quanto pela forma tenaz, objetiva, bem fundamentada e clara com que Tafner escreve, resolvemos abrir a gaveta e tirá-los de lá. São artigos que perderam a factualidade, mas não a atualidade. Tratam de temas decisivos para nosso cotidiano, para o futuro do país e da nação, por isso vamos publicá-los, à despeito de seu “envelhecimentoâ€.


O primeiro a sair da gaveta é o que segue abaixo, tratando de um discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando este ainda governava o país, em meados de ano passado. Confira:


É PRECISO REMUNERAR QUEM PRESERVA PARA MANTER FLORESTAS EM PÉ


Estive refletindo sobre algumas palavras recentes do nosso presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (hoje ex-presidente), quando, em um momento de iluminação, falou que prefere pagar para que agricultores fiquem dentro de uma reserva demarcada, protegendo-a, em vez de expulsá-los, como vem sendo prática até o momento.


Segundo palavras do próprio presidente: “Ao criar uma reserva, ao invés de a gente tentar tirar as pessoas que moram lá, é pagar um salário para essas pessoas tomarem conta da reserva e serem o guarda da floresta. Alguma coisa desse tipo nós temos que fazer para fazer evoluirâ€. É uma pena que essa seja a sua posição apenas agora, no final do seu governo, pois até então só temos visto o contrário, ou seja, reservas sendo criadas pela vontade de poucos, ignorando por completo todos aqueles que vivem dentro dessas áreas demarcadas e ato seguinte, sendo expulsos com promessas de indenização que não acontece.


Falo disso porque conheci alguns países europeus que tem equacionado esse tipo de problema de uma forma diferente, revelando paradigmas que ainda não adotamos. Em alguns desses países, as regiões consideradas agrícolas possuem regras diferentes com propósitos de controle social e ambiental, além da própria produção agrícola, onde terrenos agrícolas não podem ser desmembrados, exigindo que tenham uma metragem mínima. Isso assegura que não se transformem em bairros, ou mesmo favelas, sempre protegidas pelo proprietário, como se fosse um cinturão verde em torno da cidades.


A proposta de termos os moradores da reserva como uma espécie de assalariados pode ser uma boa ideia, mas certamente precisa ser melhor definida. Muitas das reservas poderiam simplesmente se tornar um misto de APP (áreas de preservação permanente) com propriedades agrícolas, contando com apoio do governo, inclusive financeiro. Certamente é mais barato que comprar terras para demarcar reservas e manter estruturas de controle, que na maioria das vezes não funcionam, como todos sabemos bem. Sempre com aquela visão de um estado paternalista e centralizador.


Deixar uma reserva demarcada a Deus dará como fazem atualmente, onde impedem, inclusive o acesso de brasileiros, chega a ser um absurdo, principalmente onde deixam que ONGs internacionais circulem livremente levantando informações que nós não temos acesso (parece piada, mas infelizmente tem acontecido). Qual o propósito dessa situação? Precisamos perguntar a quem controla.


O presidente Lula quando apresentou essa ideia já percebeu que o atual modelo está pra lá de desgastado, além de possuir muitos problemas, a começar pelo aspecto social, quando expulsam agricultores de suas terras, deixando de produzir e fazendo-os migrar para centros urbanos sem recursos. Esperamos agora que essas propostas se materializem de alguma forma, e não sejam mais bravatas eleitoreiras em época de campanha. Fato é que o campo vive uma guerra contra os atravessadores, contra o MST, contra órgãos ambientais e contra o clima do planeta. Um pouco de ajuda real do governo não seria má ideia, principalmente depois da campanha.


Por Malcon Tafner, reitor do Centro Universitário Leonardo da Vinci (Uniasselvi), gestor do Grupo Uniasselvi e professor do Instituto Catarinense de Pós-Graduação (ICPG)




+ Notícias
Todos os direitos reservados © Copyright 2009 - Política de privacidade - A opinião dos colunistas não reflete a opinião do portal