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ELEIÇÃO DE OBAMA MOSTROU QUE INIMIGOS DO ISLÃ NÃO ESTÃO SÓ NA AMÉRICA
Quinta-Feira, 10 de Março de 2011

EDITORIAL AEF


As recentes ondas de insurgência popular que derrubaram dois ditadores na Ãfrica – Zine Ben Ali (Tunísia) e Hosni Mubarak (Egito) – e ameaçam outros no Oriente Médio  demonstram que os reflexos positivos da eleição de Barack Obama, tão ansiosamente esperados por todo o mundo, começaram a ser efetivamente observados. Algumas zonas de conflito no quadrante oriental, principalmente as que tangem o universo muçulmano, vislumbram agora novas possibilidades de democratização.


E, na raiz deste novo movimento, está a constatação de que os inimigos do Islã não são os EUA e seus aliados do Ocidente. O povo islâmico percebe agora que seus reais inimigos são tiranos sanguinários e corruptos que se apropriaram, indevidamente, de boa parte das riquezas das nações que desgovernaram por décadas.


A troca de George W. Bush por Barack Obama, este um negro de origem afro-muçulmana, contribuiu para desfazer parte da cortina de ódio, maquiavelicamente construída, que coloca os muçulmanos a favor de seus tiranetes e contra o “inimigo que vem da Américaâ€. Uma espécie de Muro de Berlim invisível, ou Cortina de Ferro islâmica – em analogia ao termo que designava os países do Leste Europeu, aliados da extinta União da Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e responsáveis pela divisão geo-política que opôs a Europa Capitalista e a Europa Comunista durante a Guerra Fria, entre as décas de 1960 e 1980.


Sem a figura do Grande Satã, projetada sobre os EUA e tão bem encarnada por este nos anos da Era Bush, os ditadores da Ãfrica islâmica e do Oriente Médio passaram a figurar eles próprios como inimigos do povo. Perderam o escudo que os protegia contra insurgências populares. Perderam o argumento que cegava o povo, insuflava o ódio e instigava uma devoção insana e doentia a ditadores travestidos de líderes espirituais e administrativos.   


O povo muçulmano percebe agora, com clareza inédita, que seus grandes inimigos são a falta de liberdade e de progresso. Percebe que, enquanto seus Mubaraks e Kadafis amealhavam fortunas bilionárias no exterior e viajavam pelo mundo, a população afundava na pobreza, no isolamento e no autoritarismo. Acordaram de um pesadelo e agora querem voltar a sonhar, apeando seus tiranetes do poder.


É um sopro de democracia e de paz chegando ao Oriente. Com a candidatura – e possível vitória – de Mohamed ElBaradei para presidente do Egito, abre-se uma janela espetacular para a entrada da liberdade em uma região tão marcada pelo medo e pela falta de valores democráticos.


Um efeito da Era Obama, não se tenha dúvida. Um movimento que precisa ser apoiado e estimulado, principalmente pelos EUA, que, por anos a fio, ajudaram a fortalecer o regime dos tiranos que hoje querem combater. Uma ironia do destino, mas ao mesmo tempo uma oportunidade de redenção.              




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