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FURB, UFSC E EPAGRI DISCUTEM A PRESERVAÇÃO DAS FLORESTAS CATARINENSES
Terça-Feira, 03 de Maio de 2011

Começa nesta quarta-feira e segue até sexta (6), no Teatro Carlos Gomes, em Blumenau, o II Seminário sobre Inventário Florestal. No evento serão discutidos novos rumos para a política florestal do estado, a partir dos resultados do Inventário Florístico-Florestal de Santa Catarina (IFFSC) e de questões como o pagamento de serviços ambientais e as alterações da vegetação diante das mudanças climáticas.


O evento terá palestras da equipe cientifica do IFFSC, bem como conferências de pesquisadores brasileiros e estrangeiros.


– Os resultados de quatro anos de levantamentos realizados pela Furb, em parceria com a Ufsc e a Epagri, mostram que, apesar de termos uma cobertura florestal de aproximadamente 36%, não temos nada a comemorar: as nossas florestas são nem sombra daquilo que eram; a grande maioria, ao redor de 95%, dos remanescentes florestais é constituída por florestas secundárias, contendo árvores de espécies pioneiras, jovens, com troncos finos e baixo potencial de uso – comenta o coordenador da equipe da Furb, professor Alexander Christian Vibrans.


Segundo os dados apurados, estas florestas têm menos da metade do estoque original de madeira e de biomassa, além de um número muito reduzido de espécies arbóreas e arbustivas. As constantes intervenções humanas na floresta, como a exploração indiscriminada de madeira, roçadas e, principalmente no planalto e no oeste catarinense, o pastoreio de bovinos dentro da floresta, surtiram estes efeitos, reforçados pela agrícultura intensiva. 


Cerca de 90% dos fragmentos florestais de Santa Catarina têm área menor que 50 hectares, considerados remanescentes muito pequenos, o que os torna bastante suscetíveis às influências do seu entorno, como o uso do fogo e de defensivos agrícolas, além de perder umidade com a incidência maior do vento e do sol. Os efeitos do pequeno tamanho das áreas florestais e de seu uso inadequado resultam num significativo empobrecimento da floresta e na simplificação de sua estrutura. Isto prejudica as suas funções protetoras do solo e dos mananciais, bem como sua função de reservatório de carbono e guardião da biodiversidade, explicam os pesquisadores.


Outro resultado alarmante é a drástica redução da biodiversidade arbórea, comparada com os levantamentos de 50 anos atrás, realizados pelos botânicos Roberto Miguel Klein e Raulino Reitz. Um quinto das espécies encontradas entre 1950 e 1970 não foram mais observadas em 2010.


– Encontram-se entre elas, principalmente, as espécies naturalmente raras, que sempre ocorreram em pequena quantidade e em poucos locais ou em locais com área muito restrita. Elas sofreram com a redução da área florestal e desapareceram dos nossos olhos, ameaçadas de extinção – lamenta Vibrans.


ESPÉCIE NOVA


Mas, apesar de toda a redução das florestas, foram encontradas diversas espécies novas, até então desconhecidas pela ciência. Uma delas é a Vriesea rubens,  bromélia que habita as copas de arvores altas, encontrada no município de Orleans. Outras espécies novas ainda aguardam a sua identificação definitiva.


Somente na floresta pluvial atlântica (na vertente atlântica do estado) foram encontradas 1.614 espécies de angiospermas (plantas com flores), o que representa 12% de todas as espécies da Mata Atlântica e confirma o Estado de Santa Catarina como um importante centro da biodiversidade.


EXTENSÃO DAS FLORESTAS 


Quanto à extensão da cobertura florestal, (representada pela soma de todos os remanescentes florestais), a situação de Santa Catarina é mais favorável, comparada a outros estados brasileiros. Os levantamentos mostram que a cobertura florestal remanescente em Santa Catarina é de 36,8%. Isto quer dizer que 36,8% do território, com uma margem de erro de 1%, estão cobertos por formações florestais com mais de 10 metros de altura e 15 anos de idade. Estas são as florestas que são detectáveis pelos sensores nos satélites Landsat e Spot utilizados. Na floresta estacional no Oeste de Santa Catarina este percentual é de 27%, nas florestas com pinheiros no planalto é de 28% e na floresta pluvial atlântica entre a Serra Geral e Serra do Mar e a costa os remanescentes somam 53%.


(Com informações da assessoria de imprensa da Furb)


OPINIÃO DO PORTAL


Santa Catarina precisa olhar com muito carinho para seus remanescentes florestais e pensar seriamente em políticas públicas de incentivo à preservação – a remuneração de reservas naturais particulares é uma delas. O Oeste e o Planalto Serrano, como indicam os números do IFFSC, são as regiões de maior risco. Ali, as reservas de floresta são muito mais fragmentadas do que as do Litoral e Serra do Mar, sofrendo mais os impactos do entorno e estando mais suscetíveis à degeneração que este as impõe.


Elas guardam uma reserva de biodiversidade que não se pode perder. A Mata dos Pinhais, que abriga a majestosa araucária angustifolia e tem uma das belezas naturais mais exuberantes da flora catarinense, hoje é mantida, em parte, por pequenas propriedades particulares, de municípios da Serra e Oeste Catarinense.


Estes pequenos pedaços de terra, sobre os quais estão as reservas de araucária, precisam ser costurados e transformados numa extensão maior, para que a fragmentação não lhes reduza a capacidade de reprodução e crescimento. Para isso, será preciso incentivar o aumento das áreas de regeneração natural, para que os espaços entre uma reserva e outra possam ser preenchidos e transformados em área contígua.


Ãreas que hoje são ocupadas com agricultura (como a da foto acima), pecuária ou reflorestamento de pinus, poderiam ser isoladas e entregues de volta à natureza, que, com o tempo, fará sua parte e devolverá a selva original que habitava o local antes da devastação. Para isso, é preciso incentivar quem tem floresta em suas terras a deixá-las em pé. Elas precisam valer mais do que a lavoura, as cabeças de gado ou as plantações de pinus, que estão desconfigurando a geografia natural do Planalto. E é preciso fazer isso logo, enquanto há matriz genética abundante. Depois ficará muito mais caro e difícil, talvez até impossível.


No litoral e Serra do Mar, a situação é um pouco mais confortável, pois as reservas são extensas e precisam mais de preservação do que recuperação. O desafio, neste caso, é frear a exploração extrativista e imobiliária, que seguem ameaçando paraísos verdes em SC.      


PROGRAMAÇÃO


As inscrições para o II Seminário sobre Inventário Florestal reabrem às 13h desta quarta-feira, no Teatro Carlos Gomes e durante à tarde acontecem diversas atividades. A solenidade de abertura está agendada para as 18 horas e a conferência de abertura, ambas abertas ao público, será as 19 horas, proferida pelo professor Hermann Behling, da Universidade de Göttingen, Alemanha, com o tema ‘Um olhar para o passado: dinâmicas vegetacionais, climáticas e do fogo no quaternário tardio do Sul do Brasil’.


                    




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