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PREFEITURA E CAIXA IRÃO CORRIGIR FALHAS EM CONDOMÃNIO POPULAR DE BLUMENAU
Quarta-Feira, 25 de Maio de 2011

O pior defeito do ser humano não é errar, mas insistir no erro. Por outro lado, não há uma única entre as virtudes humanas que seja mais nobre que a capacidade de reconhecer erros e trabalhar para corrigi-los. Quando é capaz de admitir que errou e resignar-se em busca da correção, o homem faz o mais duro e dolorido exercício de humildade. Mostra que está acima das vaidades, das ambições pessoais e da avareza. Transcende a uma instância existencial restrita, reservada àqueles que demonstram alguma superioridade de espírito.


São virtudes e características que também se aplicam aos gestores públicos, evidentemente, por serem eles seres humanos, suscetíveis, portanto, às leis e máximas que regem a vida humana. Por isso o pior defeito do gestor público, da mesma forma, não é errar. Pois, como todos nós, homens e mulheres, ele já nasce pré-destinado a cometer erros. Seu pior desvio é não reconhecer nem corrigir seus erros. Quando os reconhece e os corrige, entretanto, ascende à uma condição igualmente restrita da vida pública: a de estadista.


Foi justamente esta nobre virtude que fez Winston Leonard Spencer-Churchill, por exemplo, desistir de usar gás venenoso contra civis alemães, numa tentativa desesperada de revidar as atrocidades de Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial. Aconselhado por seus generais, o primeiro-ministro inglês desistiu da ideia e entrou para a posterioridade como um dos maiores estadistas da história. Tivesse ele sido intransigente e feito a besteira que cogitou, teria transformado o carniceiro Hitler em herói e ele próprio entrado para o panteão dos inimigos da humanidade. Mas Churchill reconheceu seu erro e corrigiu-o, mudando de decisão.


Nesta linha, os gestores da administração municipal de Blumenau e da Caixa Econômica Federal seguramente também merecerão aplausos no futuro, por decisão tomada nesta quarta-feira. Após série de matérias publicadas pelo Análise em Foco, que mostrou falhas na construção de condomínios populares erguidos na cidade (clique aqui e aqui para conferir), a prefeitura e a Caixa decidiram remarcar a entrega das unidades habitacionais, prevista para esta quinta-feira, para o próximo dia nove de junho, para que serviços de reparo e adequação possam ser feitos e os problemas apontados pelo portal – e depois por demais veículos de comunicação – resolvidos.


Ao reconhecer as falhas do projeto e providenciar sua correção, a prefeitura e a Caixa demonstraram ter a maturidade e o desprendimento que se espera do gestor público. Ninguém pode exigir que não errem, mas que tenham humildade para reconhecer erros e corrigi-los é o mínimo que se espera deles. Afinal, quando um veículo de comunicação aponta falhas e deficiências de um organismo qualquer, como fez o AEF no caso dos condomínios populares de Blumenau, o faz com o único objetivo de provocar o debate e precipitar mudanças saudáveis.


Para que o efeito desta provocação seja positivo, no entanto, é preciso que do outro lado da linha estejam pessoas e instâncias responsáveis e maduras, que possam acolher a crítica construtiva e trabalhar para melhorar. Foi o que aconteceu desta vez, felizmente, e, quando isso acontece, quem ganha é o cidadão, eleitor e contribuinte, que pode ficar um pouco mais tranquilo em relação a seus interesses junto à administração pública e ao comportamento dos representantes que elege.      


Também merece reconhecimento, no caso dos condomínios da rua Mathias Bornhofen, a forma democrática e transparente como a questão foi conduzida pelos gestores do processo. Em momento algum, o acesso aos apartamentos foi controlado ou impedido, de forma que a imprensa pôde fazer seu trabalho e relatar, livremente e sem constrangimentos, os problemas gerados na construção dos imóveis. Uma demonstração de que democracia é realmente um valor consolidado por aqui.         


MORADIA POPULAR COM ATRIBUTO DE MÉDIA E ALTA RENDA?


É o que diz, em seu site, a construtora Bairro Novo, responsável pela construção dos condomínios da rua Mathias Bornhofen, em Blumenau. Empresa das Organizações Odebrecht, ela anuncia:


“Criada para atuar focada na construção de moradias para famílias com renda entre 0 e 10 salários mínimos. A proposta é inovadora: construir bairros planejados de mil a 10 mil unidades, formados por diversos condomínios integrados, com casas de 2 e 3 dormitórios e apartamentos de 2 dormitórios, localizados em zonas residenciais, com qualidade de vida e infraestrutura urbana. Os projetos chamam a atenção pelos atributos antes só usados em empreendimentos de média/alta renda, em um novo paradigma de habitação popular e econômica â€.


Os atributos que se vê nos condomínios da Mathias Bornhofen, contudo, estão longe, e muito, de pertencerem a média e alta renda. Ou a Bairro Novo revê sua apresentação ou refaz os projetos em curso, porque apartamento com menos de 2,80 metros de pé-direito e janelas com infiltração, definitivamente, não são atributos das rendas mais elevadas do país. Muito pelo contrário.


A Bairro Novo está construindo cerca de 24 mil unidades habitacionais populares, em todo o Brasil, sendo 10 mil para famílias com renda de 0 a 3 salários mínimos, contempladas pelo programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal. Além de Blumenau, onde vai construir 1.120 unidades, entre as quais estão as 580 da rua Mathias Bornhofen, a empresa constrói moradias populares em Camaçari (BA), com 2.532 unidades; Fortaleza (CE), com 2.846; Brasília (DF), com 8.000; Queimados (RJ), com 1.500; Salvador (BA), com 2.400; Campinas (SP), com 2.380 unidades e um lançamento em Porto Velho (RO), com capacidade para 3.186 mil moradias.


Para construir as 580 unidades dos condomínios da Mathias Bornhofen, o orçamento entregue pela Caixa Econômica à Bairro Novo foi de R$ 26 milhões, ou R$ 44,8 mil por apartamento, aproximadamente. Com este valor, certamente seria possível construir algo melhor do que foi construído em Blumenau. Então, que os prejuízos para reparar as falhas cometidas no projeto corram por conta da empresa, e sem suplementação orçamentária. Senão, quem vai pagar a conta será você, outra vez.


    


             




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