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A DEMOCRACIA, A COMUNICAÇÃO E A SOCIEDADE DEVEM MUITO A JOBS
Terça-Feira, 06 de Setembro de 2011

No último dia 31 o mundo recebia, atônito, a notícia de que Steve Jobs – o garoto pobre que se tornaria o mago da era digital – deixaria o comando da Apple, a marca da maçã mordida, empresa mais valiosa do mundo. As ações da companhia despencaram de um dia para o outro, os canais de TV fechada fizeram programação especial, funcionários e ex-funcionários declararam admiração profunda pelo chefe e o papo do café, entre colegas de escritório por todo o globo, foi um só: o fim da era Jobs no mercado da tecnologia e da informação.


Por que motivo uma simples mudança no organograma de uma empresa dominaria a atenção de todo o mundo? Por qual razão a figura sóbria de um executivo discreto e reservado suplantaria a força midiática dos maiores astros do showbiz?


A explicação é bem simples: Steve Jobs é um mito, uma lenda viva. Ele está para a história da humanidade como estão Albert Eisten, Nicolau Copérnico, Johannes Gutenberg, os iluministas da idade moderna, os socráticos e pré-socráticos da antiguidade.


O mundo não foi mais o mesmo depois que Jobs colocou o Macintosh no mercado e permitiu que o computador se transformasse num eletrodoméstico sobre a mesa das pessoas, unindo os habitantes do Planeta em uma rede mundial inimaginável até 1984.


A história humana, definitivamente, divide-se em duas eras: AJ e DJ, tal qual AC e DC, denominando figuras que efetivamente mudaram a trajetória do homem sobre a Terra. Sem Jobs, o Análise em Foco sequer existiria, por exemplo. Sem a revolução tecnológica e linguística por ele desencadeada, no início da década de 1980, você hoje não teria acesso gratuito e irrestrito ao melhor portal de análise, opinião, cultura, serviços e entretenimento da Web.


Também não poderia dizer o que bem entende dos políticos em seu blog, nem passaria o dia trocando mensagens com quem ama, ou detesta. As mídias sociais e as redes de relacionamento não estariam aí, para transformar todos em fonte e destino de informação, simultânea e deliberadamente. Os mais tímidos e recatados, por sua vez, não poderiam estar conhecendo pessoas e se relacionando mais desinibida e facilmente, através dos chats.


Sem Jobs, as corporações não estariam economizando bilhões todos os anos com a comunicação interna e externa entre seus colaboradores, clientes, fornecedores e parceiros. Os sonhadores e empreendedores não poderiam estar ousando desafiar impérios e monopólios de comunicação, como faz o AEF, atuando em um mercado árido e sufocante como o da publicidade, no qual boa parte do oxigênio disponível vai para os pulmões de gigantes devoradores. Fosse na TV, rádio ou jornal impresso, não haveria concorrência, como há na Web.


DEMOCRACIA PODERIA ESTAR EM XEQUE SEM A REVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO


A própria democracia poderia estar em xeque sem a base ampla e sólida que o computador pessoal – seguido pela Internet, cujos primeiros servidores também foram desenvolvidos por Jobs – criou para interligar a humanidade e dar aos sistemas de comunicação uma capilaridade e uma estabilidade intangíveis até o advento do Macintosh, da Apple e de todos que os sucederam no desenvolvimento, fabricação e distribuição de computadores pessoais e interfaces gráficas (softwares) para sua utilização.


Eis que, três décadas depois de mudar a humanidade com o Macintosh, o mouse e a interface gráfica entre máquina e usuário, Steve Jobs entregou ao mundo o Ipad, precursor e pai de todos os tablets. Agora o computador virou um livro, ficou ainda mais fácil de ser usado e em breve também ficará mais acessível – o Brasil, por exemplo, está na fase final de um projeto que pretende dar incentivos fiscais para a fabricação de tablets no país.  


Como se vê, então, o mundo de fato não seria o mesmo sem o mago da era digital, e certamente será outro com ele fora do comando executivo da Apple. Melhor já ir se preparando para o fim da Era Jobs, que deverá deixar sequelas perceptíveis. Até a próxima grande revolução, podem se passar anos, décadas ou séculos. Afinal, a humanidade não produz cópias de gênios deste quilate na mesma proporção em que produz jogadores de futebol, infelizmente.




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