No último dia 10, o Análise em Foco levantava a discussão (clique aqui e confira): por que os blumenauenses, 86 enchentes depois, ainda demonstravam tamanho pânico e desespero ante a uma inundação, como a ocorrida dias atrás? E os veÃculos de comunicação, por que seguiam dando enquadramento um tanto espetacular ao evento?
Na avaliação do portal, conforme foi exposto naquele artigo, este tipo de comportamento poderia não fazer bem para a economia da cidade, visto que o apelo dramático costumeiramente dado à cobertura das cheias poderia afugentar empresas e investidores interessados em vir para o municÃpio.
– Certamente isso afugenta investidores, não resta dúvida. E não são apenas as empresas de fora que deixam de vir para cá, mas as daqui que vão embora, como ocorreu após a anchente de 1983, por exemplo – analisa o economista Claudio Formagi, professor do Centro Universitário Leonardo da Vinci (Uniasselvi), de Indaial.
Ele cita a previsão de 14 metros para o rio ItajaÃ-Açu, feita pelo Centro de Operação do Sistema de Alerta (Ceops) durante a última enchente, como demonstração da forma ainda pouco racional com que se lida com a cheia em Blumenau:
– Disseminou-se aquela informação com ênfase tal que assustou-se boa parte da população desnecessariamente, pois o nÃvel máximo a que o rio chegou foi 12m60.
O também economista Ralf Marcos Ehmke, da Universidade de Blumenau (Furb), observa que o potencial dramático da cheia assusta as empresas não apenas pelo medo que elas têm da água, mas pelos efeitos colaterais que o fenômeno provoca na cidade.
– Você tem problemas com a paralisação dos transportes, a imobilização da mão-de-obra, os impactos na infraestrutura e na logÃstica. Tudo isso afeta a produção de uma empresa – constata Ehmke, observando que a ocorrência de fenômenos climáticos agudos, como cheias, secas e enxurradas, entre outros, deve ser agravada pelas mudanças em curso no clima do Planeta.
– Ou você se adapta a estas mudanças, ou sucumbe a elas – conclui o economista da Furb.
ESPETACULARIZAÇÃO E FALTA DE INVESTIMENTOS
É evidente que os impactos da conotação trágica que se dá à ocorrência das cheias em Blumenau, muitas vezes com a espetacularização do evento em nÃvel nacional, prejudica bastante a imagem da cidade e o interesse dos investidores por ela. Um prejuÃzo incalculável, pela amplitude de seus reflexos, e que possivelmente também tem contribuÃdo para o encolhimento proporcional do PIB blumenauense, em comparação a outros municÃpios do estado, como já mostrou o AEF – clique aqui e confira. Por isso é preciso que se faça duas coisas, e rapidamente: enquadrar a enchente de forma mais racional e menos emotiva, por um lado, e, por outro, cobrar das autoridades, insistente e incisivamente, a promoção de obras e iniciativas indispensáveis à diminuição dos efeitos das cheias para o Vale do ItajaÃ.
Uma destas iniciativas já está em curso, que é a fiscalização mais intensa do povoamento urbano em áreas de risco, evitando que as pessoas se instalem em locais perigosos.
O projeto de recuperação da margem esquerda do rio ItajaÃ-Açu, que também ajudará bastante, deu passo importante nesta quinta-feira, com a mudança de postura do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do rio ItajaÃ-Açu. Depois de vetar projeto apresentado pela prefeitura, alegando que ele era ambientalmente falho, o comitê cedeu a pressões da sociedade e aprovou a proposta, que agora poderá receber R$ 10 milhões liberados pelo Ministério das Cidades*.
Uma ótima notÃcia*, pois, como observou respeitada e renomada fonte blumeauense, em entrevista recente para o AEF (clique aqui e confira), esta última cheia teria mostrado uma mudança severa no comportamento do rio, cuja correnteza agora estaria castigando mais fortemente justamente a já combalida margem esquerda, na região central da cidade.
A construção de mais barragens e a ampliação das já existentes são outra boa opção para prevenir as cheias no Vale do ItajaÃ, mas, infelizmente, seguem esbarrando na falta de interesse polÃtico e escassez de recursos públicos para investimento. Ademais, provocam impactos ambientais que precisam ser cuidadosamente mensurados.
PROJETO JICA É DETALHADO NESTA QUINTA-FEIRA, NA ACIB
Nesta quinta-feira à noite a Associação Empresarial de Blumenau (Acib) recebeu representantes do Projeto Jica, que apresentaram relatório final de um estudo preparatório feito para elencar obras e ações de prevenção à s cheias na bacia hidrográfica do ItajaÃ-Açu*.
A ideia do governo do estado, gestada logo após o desastre ambiental de novembro de 2008, é captar recursos na ordem de R$ 2 bilhões junto à Agência Japonesa de Cooperação Internacional (JICA), que financiaria os projetos de prevenção na bacia do ItajaÃ.
Que a sociedade blumenauense esteja empenhada, pois, em fazer a proposta decolar. Os impactos ambientais de sua execução devem, sim, ser devidamente pesados e relevados, como bem o faz o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do ItajaÃ-Açu, mas os econômicos também. Afinal, sem iniciativas firmes de enfrentamento da cheia, Blumenau e o Vale do Itajaà correm o risco de, no futuro, passar de terra do progresso e da prosperidade para território do atraso e do empobrecimento, pelos danos que as inundações causam à economia da região.
Não é possÃvel esperar mais 87 enchentes, portanto, para fazer aquilo que há 161 anos se sabe que é preciso fazer: prevenir os desastres. Apenas transformá-los em substrato para o sensacionalismo e o pânico não resolverá o problema, há que se ter iniciativas sóbrias, planejadas e exequÃveis. Pensem nisso, senhores homens públicos e tecnocratas, antes que seja tarde demais.
* Trechos alterados após a publicação, para fins de atualização de conteúdo