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EM UM PAÃS PACÃFICO, MILITARES SÃO DECISIVOS NO APOIO À POPULAÇÃO
Quarta-Feira, 26 de Agosto de 2009


O tenente-coronel Henrique Ruffo já esteve na Amazônia, onde conheceu os assentamentos, por assim dizer, de militares naquela região. Ali, na fronteira com países andinos, como Bolívia e Colômbia, oficiais e soldados do Exército montam grupamentos com cerca de 40 militares. No meio da mata, em plena selva. Chegam a levar a família, para realmente morar ali. Mantimentos são entregues somente com aviões, tal o nível de isolamento geográfico destes pelotões.


Nos últimos anos, o número de grupamentos militares saltou de 30 para 200 na região amazônica. Alguns incorporaram índios e caboclos, transformando-se em cidades com até 10 mil habitantes. O objetivo do Exército, com a implantação dos pelotões, é um só: garantir o domínio brasileiro sobre a região e a fronteira.


Ruffo também já atuou em missões de apoio à Defesa Civil e ao Ibama, em casos de incêndio florestal, por exemplo. Mas jamais viu nada igual, assegura, à tragédia de novembro na região, quando esteve no 23º Batalhão de Infantaria, em Blumenau, para comandar as operações aéreas do Exército. Naquele fatídico episódio, os militares foram decisivos nas complicadas missões de salvamento e apoio logístico. E o tenente-coronel, que hoje comanda o 23º BI, não esquece do que viu e ouviu por aqui em novembro de 2008. Faz esforço para conter a emoção, mas admite: “Era complicado ver crianças naquela situação, algumas mortasâ€.


Abaixo, no artigo que escreveu, com exclusividade, para o Análise em Foco, Ruffo conta detalhes das operações de novembro. Fala também da possibilidade do Exército executar as obras de reconstrução do Porto de Itajaí; da Estratégia Nacional de Defesa, assinada esta semana pelo presidente Lula, e, claro, sobre o Dia do Soldado, celebrado nesta terça-feira (25).  Também dá bons pitacos sobre biopirataria.


Leia, a seguir, o artigo de Henrique Ruffo:


   


A Constituição Federal estabelece como missões das Forças Armadas “[...] a defesa da Pátria, a garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordemâ€. Essas destinações orientam todo o preparo e o emprego da Força Terrestre, e são complementadas por leis que estabelecem normas gerais para atuação em outras missões, como a participação em ações subsidiárias. Essas ações compreendem a participação em missões de paz, a construção de estradas, pontes e ferrovias, o combate à seca, ao fogo e às emergências sanitárias e, entre outras, o apoio à Defesa Civil e à população acometida por desastres de grande porte.


Recentemente, observamos esse apoio à Defesa Civil em Santa Catarina, no auxílio às populações atingidas pela enchente do Vale do Itajaí, quando socorremos cidadãos isolados pelos desmoronamentos e escorregamentos na região do morro do Baú e zona urbana de Blumenau. Também atendemos regiões inteiras alagadas na cidade de Itajaí, e transportamos milhares de toneladas de suprimentos doados pela população brasileira.


Para enfrentar esta calamidade, o Exército deslocou para a área atingida 4 viaturas blindadas do tipo M113, 29 caminhões de 5 toneladas, várias embarcações, 5 helicópteros, mais de 5 mil militares e sua capacidade de Comando e Controle, de modo a dar uma resposta rápida e oportuna, com o precípuo maior de minimizar o sofrimento dos atingidos, marca inconteste de suas atuações através da História.


O 23º Batalhão de Infantaria serviu de base de desdobramento para esses meios, constituindo-se no núcleo a partir do qual estas operações foram executadas, depois de planejadas pela 14ª Brigada de Infantaria Motorizada, cuja sede é na cidade de Florianópolis, mas que para lá deslocou seu Posto de Comando.


Completando, neste ano, 70 anos de história, o 23º BI participa de operações de apoio à Defesa Civil em Blumenau desde 1983, quando, sob o comando do seu antigo comandante, Coronel Antônio Bascherotto Barreto, esboçou as bases do que é hoje o “plano de chuvas e enxurradas do municípioâ€.


Atualmente, os planejamentos do Batalhão fazem parte do plano municipal, integram as ações de apoio à população, juntamente com os órgãos de segurança pública. Basicamente, atua em três principais frentes: a organização inicial dos abrigos; o armazenamento e distribuição de gêneros alimentícios e medicamentos; e a busca e o resgate de pessoas e comunidades isoladas, ou em locais de risco.


Na tragédia de novembro, o 23º BI ocupou 62 abrigos em igrejas, clubes e escolas, com as tarefas de controle da disciplina interna, organização dos trabalhos comunitários e segurança. As equipes eram compostas por militares que se revezavam de 4 a 7 jornadas, durante os 72 dias em que permaneceram cumprindo suas funções.


Os depósitos e câmaras frias do Batalhão armazenaram os alimentos e água recebidos para doação, dividindo espaço com seus próprios suprimentos, e sua farmácia foi abastecida para suprir a enfermaria que recebeu diversos atendimentos externos. A distribuição fora feita primordialmente para a Igreja Santo Antônio, outro posto de distribuição, até que o executivo municipal assumisse a tarefa.


As missões de busca e resgate foram cumpridas pelas forças de reação, que permaneceram na Unidade, organizadas com base em frações como o grupo de combate (9 homens) e o pelotão de fuzileiros (35 homens).


A DIFICULDADE DA EMOÇÃO


Entre as maiores dificuldades, estava a gestão de todas as demandas que chegavam naquele momento. Havia muitas chamadas, algumas, possivelmente, trotes. Tínhamos que escolher as chamadas que iríamos atender, e às vezes chegávamos ao local e não havia mais ninguém lá. Ou por já ter ocorrido o socorro, ou por tratar-se de brincadeira. Então, a logística do processo era muito complicada.


Lidar com a emoção em uma hora como essa também é difícil. Você precisa manter-se equilibrado, e isso não é fácil. Quando víamos as crianças, isso então tornava a manutenção do auto-controle ainda mais complicado. Um dos militares que atuou nas missões conta que recebeu uma crianças nos braços, entregue pelo avô, e apressou-se em providenciar o salvamento. Ela, no entanto, já estava morta. É muito difícil uma situação como esta, pior do que tudo o que já enfrentara anteriormente.


Embora o preparo no dia-a-dia de uma Organização Militar não foca seu emprego em Ações Subsidiárias, este deriva das instruções de combate que objetivam as missões principais da Força Terrestre. Ensinamentos colhidos em treinamentos militares são adaptados para sua aplicação em outras áreas onde, no caso dessa calamidade, mostrou-se eficaz.


Seja no cioso atendimento de suas missões constitucionais ou na assistência à população, o Exército Brasileiro continua fiel ao ideal de seu patrono, de uma escola de civismo e brasilidade. Nas comemorações do Dia do Soldado os militares homenageiam muito mais que seu maior líder o Duque de Caxias. Eles reafirmam o compromisso de que permanecerão sempre integrado à Pátria que tanto amam e tão bem representam.


LIGAÇÃO COM O POVO


O Exército Brasileiro, desde a sua formação, nos Guararapes, sempre esteve ligado ao seu povo, sendo parte e todo do processo de amalgamação entre o sentimento de Nação e a parcela da sociedade que a compõe. Embora a semente de uma Força Terrestre fora lançada na batalha do Monte das Tabocas, em 3 de agosto de 1645, foi com Caxias que a Instituição tomou a forma profissional e comprometida que a identifica até hoje.


Militar e estadista, o único Duque da monarquia brasileira participou de diversas campanhas contra revoltas internas e guerras externas, fazendo-se diferenciar pela aplicação inconteste da doutrina militar, pelo respeito aos subordinados e vencidos e pela organização de uma Força fundamentada no atendimento aos anseios de seu povo. Em todas as campanhas das quais participou, procurou agir sempre no estrito cumprimento de seus deveres legais.


Nesta semana, o presidente Lula assinou a Estratégia Nacional de Defesa, que prevê o serviço civil obrigatório. De acordo com o dispositivo, os jovens que não quiserem servir o Exército, poderão contribuir com a sociedade em serviços que interessam à população.


DEFESA DA FRONTEIRA E DA INFRAESTRUTURA


O Exército brasileiro também tem atuado fortemente na região amazônica. Lá, o número de pelotões saltou de 30 para cerca de 200 nos últimos anos. Cada um deles com cerca de 40 militares, que levam a família e passam a morar lá. Suprimentos são encomendados e entregues de avião, tal o nível de isolamento. Alguns destes destacamentos acabaram incorporando índios e caboclos, entre outras pessoas, a transformaram-se em cidades. Estamos atuando na manutenção do controle brasileiro sobre a região.


Outra marca forte do Exército é sua capacidade para atuar no planejamento e execução de obras de engenharia. Recentemente, pavimentamos a BR-282, no Planalto, e fizemos a Ferro-Oeste, ferrovia que hoje facilita o transporte na região Oeste de Santa Catarina.


Atualmente estamos aguardando definições em relação às obras do porto de Itajaí, onde a empresa contratada para realiza-las questionou itens do contrato. Alega que um estaqueamento, previsto para ter entre 20 e 30 metros de profundidade, precisaria de 50 metros. Para isso, sugere a empresa, os valores precisariam ser revistos.


Peritos do Exército, no entanto, fizeram avaliação e constataram que é possível, sim, fazer o estaqueamento com a profundidade prevista inicialmente. A questão está sendo definida e, se não houver acordo com a empresa, provavelmente os militares farão a obra. E isso não será problema, pois o Exército brasileiro, que em Santa Catarina tem um Batalhão de Engenharia, em Lages, tem a qualificação necessária para este tipo de operação.


Só não podemos fazer nada em relação à biopirataria, que já ocorre em larga escala na amazônia, por exemplo. Para isso, só há um jeito: é preciso estabelecer bases avançadas e desenvolvidas de pesquisa na região. O Brasil precisa trazer para cá os pesquisadores que hoje atuam em outros países, desenvolvendo patentes a partir de princípios ativos encontrados na floresta brasileira.




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