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DIFICULDADES E CUSTOS DA EXPLORAÇÃO PODEM DIFICULTAR SONHO DO PRÉ-SAL
Quinta-Feira, 03 de Setembro de 2009

Nosso atual presidente, Luís Inácio Lula da Silva, anunciou nesta semana algumas regras para a exploração do petróleo proveniente de uma camada chamada de Pré-Sal. Esse negócio está dando muito pano para manga, pano demais até...


Tecnicamente, o pré-sal é um gigantesco reservatório de petróleo e gás natural, localizado nas Bacias de Santos, Campos e Espírito Santo. Essa região litorânea abrange os estados de Santa Catarina e Espírito Santo. O problema é que estas reservas estão localizadas abaixo de uma imensa camada de sal, que pode ter até 2 quilômetros de espessura. Considerando ainda a profundidade do mar na região onde estão localizadas, constata-se que o petróleo anunciado está entre 5 e 7 mil metros abaixo do nível do mar.


Poucos sabem que, caso der tudo certo, teremos petróleo dessa camada de pré-sal somente após 2016. É certo que a Petrobrás iniciou, em setembro de 2008, através de uma plataforma chamada de P-34, uma operação de exploração de petróleo da camada pré-sal, mas em quantidade reduzida, ainda não comercial, ou seja, ainda em fase de testes. E, como se previa, já foi interrompida por problemas técnicos em função das dificuldades naturais.


Considero os problemas previsíveis, porque essa riqueza energética está em uma região geológica de difícil acesso e pouco conhecida, e por isso apresentará dificuldades naturais e riscos ainda não estudados. Isso por si só derruba a afirmação do “risco-zeroâ€, que o presidente tanto insiste quando fala do petróleo do pré-sal.


Mas o fato indiscutível é que a exploração desse mar de petróleo, e em larga escala, somente ocorrerá “quando os astros estiverem alinhadosâ€. Isso significa dizer que deverá haver tecnologia para essa exploração (afinal estamos falando de milhares de km de profundidade), deverá haver petróleo em quantidade e qualidade suficientes para justificar esse investimento todo (e ainda não se tem certeza absoluta sobre isso) e, principalmente, deverá haver preço de mercado para isso (hoje não tem).


A questão do mercado é importante, pois ela altera sim a perspectiva da exploração em grandes profundidades, pelo menos por enquanto. Para ter ideia do que estou falando, o barril de petróleo, que em junho de 2008 estava custando, no mercado internacional, 138 dólares, hoje é vendido a 70 dólares, ou seja, houve uma desvalorização de 50% em um ano. Isso significa que o custo do petróleo extraído dessa camada, hoje, não poderia passar de 70 dólares o barril, pois caso acontecesse não seria economicamente viável. E então pergunto: temos tecnologia para fazê-lo a um preço competitivo? A resposta ainda parece ser não.


Isso tudo equivale àquele velho ditado do “tesouro no fundo do marâ€: se o custo para tirar um tesouro de lá for maior que o próprio tesouro, é mais barato deixar ele lá, quietinho, e esperar o dia certo para retira-lo.


Enquanto isso, os estudos e as pesquisas devem continuar, pois vai chegar o dia em que o petróleo do pré-sal será economicamente viável. Mas não será hoje, nem nesta década.


Por Malcon Tafner, reitor do Centro Universitário Leonardo da Vinci, professor do Instituto Catarinense de Pós-Graduação (ICPG) e membro da família que controla o Grupo Uniasselvi: Assevim (Brusque), Fameblu (Blumenau), Fameg (Guaramirim), Famesul (Rio do Sul), ICPG e Uniasselvi (Indaial).




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