Os fenômenos climáticos são cÃclicos e se repetem periodicamente. As grandes mudanças climáticas, como as Eras do Gelo e o aquecimento global, sempre ocorreram. Nos últimos dois milhões de anos, ocorreram 16 glaciações, intercaladas por 16 fases de temperaturas mais quentes. Dentro dessas grandes mudanças, ocorrem flutuações climáticas, que são pequenas oscilações para mais frio ou pra mais quente. A natureza continuará assim até o fim dos tempos., não está nem aà para a espécie humana. O processo deve continuar.
As Eras do Gelo se caracterizam por uma queda de 5 graus centÃgrados na temperatura global, menos chuva, rebaixamento do nÃvel dos oceanos e avanço das calotas polares, que podem chegar até o paralelo 30º. Como conseqüência ecológica, as florestas se contraem e se formam grandes desertos e áreas de semi-árido. Esses fenômenos ocorreram no Brasil entre 10.000 e 100.000 atrás.
Nas fases inter-glaciais (efeito estufa) a temperatura sobe, aumentam as precipitações pluviométricas, a água do mar aquece, as florestas expandem e o mar tende transgredir sobre os continentes. O último efeito estufa natural ocorreu há 5 mil anos.
E, assim como as grandes mudanças climáticas, as pequenas flutuações também se repetem. Agora estamos passando por um aquecimento global, acelerado pelas emissões de combustÃveis e queimadas de florestas. Dentro dessa tendência geral de aquecimento, temos pequenas flutuações climáticas que incluem perÃodos mais quentes e mais frios, com maior ou menor precipitação pluviométrica.
Por isso, os perÃodos de mais chuvas e estiagens vão continuar ocorrendo, tanto no presente como no futuro. O que nós temos de fazer é nos preparar para essas flutuações, porque a natureza continuará com seus processos.
HOMEM DEVE ADAPTAR-SE À NATUREZA, NÃO O CONTRÃRIO
Não é a natureza que tem de se ajustar à espécie humana, mas sim o homem a ela. Em sÃntese, tragédias como a de novembro em nossa região, assim como a grande seca deste ano, no Oeste de Santa Catarina, vão se repetir, mais cedo ou mais tarde. As ações humanas de desmatamentos, emissões de gases, entre muitas outras ações inconseqüentes, aumentarão as conseqüências dessas tragédias.
Muitas encostas não desabaram, mas trincaram e formaram fendas que continuam existindo até hoje. O risco atual, portanto, passa a ser maior, na medida em que essas fendas e trincas são caminhos preferenciais para a água, e com isso podem encharcar ainda mais o solo. Além do mais, em muitas encostas o solo já está desestruturado (não tem mais coesão e resistência), e isso pode facilitar a liquefação e provocar novos deslizamentos.
A pergunta, então, não é se ocorrerão novas tragédias, mas quando elas ocorrerão!
Para evitar novas tragédias devemos evacuar as áreas de riscos e evitar a ocupação de áreas ambientalmente frágeis como fundos de vale, margens de rios e encostas muito Ãngremes.
EXPLOSÃO DO GASODUTO, INTERFERÊNCIA HUMANA E OBRAS DE PREVENÇÃO
Outras questões pertinentes em relação ao assunto:
Teria a explosão do gasoduto provocado deslizamentos?
Não me parece o caso. O que deve ter ocorrido é que a acomodação da encosta deve ter trincado a tubulação e com isso o gás foi preenchendo os poros do solo e aumentando o potencial explosivo. Um tempo depois, o deslizamento rompeu totalmente a tubulação e então uma faÃsca detonou o gás acumulado no local. Do contrário, como explicar uma explosão tão violenta ? É porque já existia gás acumulado na área. Assim, me parece que a explicação mais lógica é que a explosão do gasoduto foi efeito e não a causa dos deslizamentos. É lógico que uma explosão daquele porte provoca propagação de ondas vibratórias, mas, no entanto, o efeito deve ser localizado.
As obras estruturais construÃdas nos últimos meses ajudam a conter as encostas?
Definitivamente sim. No entanto, existem muitas obras que não estão sendo construÃdas de forma tecnicamente correta. Já constatamos em várias áreas obras estruturais caras e ineficientes. Outras obras foram construÃdas tecnicamente incorretas, tais como: taludamentos inadequados, aterros mal adensados, drenagens mal feitas e desperdÃcio de materiais.
Um grande número de drenagens e taludamentos são mais adequados para estabilização de encostas do que obras estruturais que são caras e ineficientes. É o que tem sido constado na prática nos últimos meses. Graças à s crÃticas que técnicos e a sociedade em geral têm realizado em cima das obras incorretas, algumas correções têm sido realizadas nos últimos meses. A sociedade tem que estar alerta, porque, afinal, é o dinheiro de seus impostos que estão sendo aplicados nessas obras. Compete ao poder público gerenciar adequadamente nossos impostos e a nós estarmos vigilantes para que isso aconteça.
Os escorregamentos ocorreram aqui nas Serras Litorâneas porque as condições geomorfológicas e geológicas são propÃcias a esse tipo de fenômeno. A presença de solos profundos, falhamentos geológicos, como aqueles da Coripós, e a ocupação desordenada dessas encostas fragilizadas induzem aos escorregamentos. O agente detonador dos escorregamentos é a água, mas as ações humanas como desmatamentos, cortes e aterros inadequados é que induzem a grande maioria dos movimentos de massa. É verdade que ocorreram deslizamentos em áreas de matas, no entanto, os levantamentos efetuados mostraram que a absoluta maioria ocorreu em áreas que tinham sido ocupadas por alguma atividade humana inadequada para aquele local.
A floresta com seu sistema radicular (raÃzes) ancora o solo evitando que ele escorregue. A floresta extrai a água do solo pela evapotranspiração. Além disso, até
Por Juarês José Aumond, geólogo, mestre em Geografia e doutor