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FALIDOS, EUROPEUS QUEREM DIVIDIR CONTA DA FARRA COM EMERGENTES
Domingo, 22 de Janeiro de 2012

Entre o final da década de 1980 e o fim dos anos 1990, o Brasil flertou com a falência em diferentes oportunidades, exatamente como ocorre hoje com países europeus e os próprios EUA, que também precisaram recorrer às impressoras da Casa da Moeda para pagar todas as dívidas. Sem reservas cambiais suficientes para atender a todos os cobradores estrangeiros, decretamos moratória e vendemos a alma para o Fundo Monetário Internacional (FMI), em busca de salvação. À época, dizia-se que as exigências severas do Fundo para liberar dinheiro ao Brasil – uma gorjeta, perto do rombo de quase US$ 1 trilhão que a turma do hemisfério Norte produziu em suas contas –, eram um remédio forte demais, que poderia virar veneno e matar o paciente.


Tais exigências eram ligadas, basicamente, a questões de austeridade fiscal e monetária, com o objetivo de estancar a gastança pública irresponsável e impedir que o Brasil torrasse o dinheiro a ser emprestado e desse calote outra vez. Algo como você topar fazer tudo o que o gerente de sua conta mandar para obter novo empréstimo e saldar o antigo. As regras do FMI também traziam, evidentemente, nuances de mercado que favoreceriam multinacionais estrangeiras aqui instaladas ou grupos econômicos com interesses tropicais.


FAÇA O QUE EU DIGO, MAS NÃO O QUE EU FAÇO


E o que aconteceu de lá para cá, depois que o Brasil apertou o orçamento, como mandou o Fundo, criou a Lei de Responsabilidade Fiscal e instituiu as metas de superávit primário, organizando sua economia e se transformando no 6º maior PIB do Planeta? Aconteceu que os países ricos, ao melhor estilo “faça o que eu digo, mas não o que façoâ€, exigiram austeridade dos brasileiros mas entregaram-se eles próprios a uma gastança sem freio e irresponsável, enterrando-se em dívidas que superam o PIB (caso da Itália e da Grécia, por exemplo) e tendo agora que recorrer ao pires na mão para sair do atoleiro.


Para encher este robusto pires, então, sugerem agora que países emergentes, como Arábia Saudita, Brasil, China, Coreia do Sul, Ãndia e Rússia, entrem com a maior parte de uma modesta migalha de US$ 500 bilhões que o Fundo Monetário Internacional quer levantar para colocar no bolso de seus compadres ricos – ou ex-ricos, em alguns casos. Montado em cima de US$ 351 bilhões em reservas cambiais (mais do que o total de sua dívida externa), o Brasil ficou rico e agora está sendo assediado por aqueles parentes oportunistas que, depois de anos sem fazer contato, surgem de uma hora para outra a bater-lhe às costas e pedir um trocado. Para se ter ideia de como o mundo mudou, a reserva cambial brasileira hoje equivale a três vezes da norteamericana ou da inglesa, ou o dobro da alemã. A China, por sua vez, tem US$ 3 trilhões em moeda estrangeira, o que equivale a 30% de todas as reservas cambiais disponíveis no sistema financeiro mundial - confira abaixo o top 10 da reserva cambial no mundo (em US$):


1) China – 3 trilhões


2)  Japão - 1 trilhão


3) Zona do Euro - 769,8 bilhões


4) Rússia - 522,8 bilhões


5) Arábia Saudita - 410,3 bilhões


6) Taiwan - 380,5 bilhões


7) Brasil - 351,8 bilhões


8) Ãndia - 300,2 bilhões


9) Coreia do Sul - 293,350 bilhões


10) Suíça - 249,556 bilhões


Fonte: Wikipedia


Os EUA já disseram que não darão um tostão sequer para a nova chamada de capital do FMI (alegam já ter colaborado com US$ 200 bilhões), a Inglaterra informou que só tem US$ 50 bilhões (a muito contra-gosto) e o Japão enfrenta um dispendioso processo de reconstrução – após desastre ambiental recente. França e Alemanha, que encabeçaram inicialmente a “operação socorroâ€, parecem ter cansado de passar a mão na cabeça dos primos perdulários. Sobram os países da tabela acima, que estão sendo chamados à participar mais intensamente do socorro financeiro proposto aos novos-falidos do Planeta.


TEORIA DOS JOGOS, SUBSÃDIO AGRÃCOLA E BARREIRA FITOSSANITÃRIA


Pois bem, não é preciso aplicar a Teoria dos Jogos para se chegar à única decisão que interessa de fato ao Brasil nessa história toda: para emprestar dinheiro ao Fundo, é preciso exigir que os países ricos acabem com os subsídios agrícolas e barreiras fitossanitárias que protegem seus produtores rurais da competitiva concorrência brasileira. No caso dos EUA, estes obstáculos estendem-se à metalurgia, barrando a entrada do aço brasileiro naquele país.


O Brasil não deve, em hipótese alguma, emprestar dinheiro por pura camaradagem. É preciso negociar, barganhar, exigir, jogar, explorar, como sempre fizeram conosco, desde a colonização. Não é hora de bancar o bom moço da economia mundial, pois perderemos se fizermos isso. É preciso ter a sagacidade do Tio Sam e a obstinação das águias inglesas, é preciso avançar peças no tabuleiro, não retroceder.


Senão, quem acabará ficando com nosso suadíssimo dinheiro são as vacas holandesas dos campos ingleses, os produtores de champagne das montanhas francesas e os magnatas de aço do meio-oeste norteamericano. Abram o olho, portanto, senhores diplomatas e gestores públicos, e parem de jogar nosso dinheiro fora.




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