Análise em Foco > Personalidade
FOZ DO BRASIL COMPLETA 2 ANOS EM BLUMENAU. GANHAMOS OU PERDEMOS?
Sábado, 14 de Abril de 2012

O desenvolvimento econômico não é sinônimo de qualidade em saneamento, no Brasil. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o país, que ocupa a sexta posição no ranking das maiores economias do mundo, é apenas o 67º quando se fala em tratamento de esgoto. O número reflete também em Santa Catarina, que é o sexto estado em geração de riqueza do Brasil, mas, entre as 27 unidades federativas, ocupa uma desonrosa 20ª posição em saneamento. Somente 11,8% da população catarinense é atendida com coleta de esgoto, sendo ultrapassada pelos demais estados do Sul. Atualmente, apenas 4% das cidades catarinenses têm sistema de coleta de esgoto, e nem todas fazem o tratamento dos dejetos.


Há dois anos, quando a Foz do Brasil – empresa das Organizações Odebrecht, multinacional brasileira especializada em grandes obras – assumiu a coleta e tratamento de esgoto em Blumenau, o município possuía apenas 4,8% da população beneficiada.


– Nossa missão é promover soluções ambientais para a melhoria da qualidade de vida com capacidade de gestão, investimento e tecnologia de ponta. Hoje a coleta atende 7% da população e até o final de 2012 deve alcançar 40% – comenta o diretor de operações da Foz do Brasil, Antonio Carlos Brandão de Alencar.


A ampliação do saneamento básico pela Foz do Brasil pode melhorar outras situações que refletem não só localmente, mas em toda a bacia Itajaí-Açu, já que a cidade é responsável por um quarto do esgoto despejado na região. São 40 milhões de litros de dejetos sem tratamento lançados todos os dias no rio.


Até o fim de 2012, serão investidos R$ 100 milhões, em 340 quilômetros de rede coletora. A conclusão de duas novas estações de tratamento nos bairros Garcia e Fortaleza, e mais 33 estações elevatórias, com destaque para a da Praça do Estudante, que bombeará o esgoto das regiões da Velha, Vila Nova, Itoupava Seca e Boa Vista até a ETE Fortaleza. Atualmente, a Foz do Brasil também desenvolve parcerias com entidades locais na área da saúde, educação e pesquisa.


Monitoramento dos Rios


Uma parceria com FAEMA e SENAI avalia a condição da água em 15 pontos da cidade. Este número pode chegar a 50 até o final do ano. O desempenho dessa pesquisa pode tornar a cidade uma referência para o saneamento básico no país.


Os dados levantados neste monitoramento em Blumenau também estarão disponíveis para profissionais, estudantes e ambientalistas para estimular pesquisas que promovam o conhecimento da população blumenauense sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí Açu.


Educação Ambiental


Durante este ano, professores e alunos de 30 escolas do entorno das regiões em obras participarão de programa de capacitação. O objetivo é despertar a consciência ambiental de crianças, adolescentes e adultos. Na área da saúde, uma parceria com a secretaria municipal, dará orientação para agentes em saúde. A proposta é levar conhecimento e consciência sobre a importância do saneamento básico através de pessoas próximas a comunidade.


Preparação profissional


Começa este mês a capacitação gratuita de encanadores para atender a demanda que será criada quando chegar a hora de fazer a ligação doméstica aos encanamentos externos para coleta dos efluentes. Além das demonstrações práticas, os encanadores particulares ou técnicos ligados às empresas que prestam assistência à clientela das casas comerciais de material de construção terão alguma base teórica de hidráulica, aprimorando as capacidades na hora da execução dos serviços.


Catarina até o final de 2012.


(Da assessoria de imprensa da Foz do Brasil)


OPINIÃO DO PORTAL


O processo de concessão do esgoto em Blumenau - feito através de uma licitação pública vencida pela Foz do Brasil –, como todo procedimento deste porte e desta natureza, foi cercado de polêmica, crítica e questionamento judicial. A Justiça, contudo, considerou o processo legal e a implantação da rede de esgoto avança a passos largos na cidade, como qualquer cidadão percebe, pelo volume e pela velocidade das obras em andamento.


Em relação às críticas, questionamentos e fofocas acerca da concessão, cabe fazer algumas observações e análises importantes:


1) Muito falou-se, e ainda se fala, por corredores, salas de café e lavabos públicos, sobre eventuais maracutaias durante o processo de licitação do esgoto. O de sempre: contribuição (por fora) a caixas de partidos, agentes de intenção nem sempre louvável aproveitando o momento e os valores em jogo para se locupletar, procedimentos administrativos nebulosos. E, a bem da verdade, não é de se duvidar por completo que eventuais desvios neste sentido tenham de fato ocorrido, embora nenhum deles, até o momento, tenha sido comprovado por ninguém nem qualquer instituição jurídica ou penal. Afinal, sabemos muito bem que a esfera pública (e a privada também) está longe de ser composta apenas por anjos altruístas do firmamento.


É preciso salientar, contudo, que se fosse o próprio município o responsável pela implantação e o gerenciamento da coleta e tratamento de esgoto, não seria de se esperar que os R$ 350 milhões a serem investidos no projeto passassem somente pela mão destes mesmos anjos altruístas. Iria ter muito capeta no meio da história e certamente também surgiriam muitas mãos molhadas ao longo da trama, que poderia até ficar mais extensa.


Trata-se, infelizmente, de verdadeiro “se correr o bicho pega se ficar o bicho comeâ€. Não deveria ser assim, mas é, para prejuízo da nação, do contribuinte e do cidadão.


2) Também é de se questionar a capacidade estrutural do município para executar uma obra do porte da que está em andamento em Blumenau, na velocidade em que vem sendo implementada. A própria Foz do Brasil, que pertence a um dos grupos mais competentes e preparados do mundo para executar grandes obras (a Odebrecht participa de construções de porte colossal em diferentes cantos do Planeta), teve muita dificuldade para iniciar a implantação da rede coletora. Faltou mão-de-obra e equipamentos disponíveis no mercado local, e a solução foi a contratação de uma empresa especializada em abrir buracos, enterrar canos e recolocar asfalto sobre eles â€“ a Escave Bahia, que presta o serviço para a Foz..


3) Em relação ao fato de que a concessão do esgoto vai deixar a conta de água mais cara, não há como fugir. Em todas as cidades com rede para coleta e tratamento, o custo do saneamento é repassado ao consumidor, invariavelmente. A situação ideal, que seria a melhor utilização dos recursos públicos para sobrar mais dinheiro e termos mais investimento em obras públicas, infelizmente, ainda está distante até dos nossos melhores sonhos.


4) No final das contas, o que isso tudo mostra é que o Brasil precisa promover, como vem defendendo o Análise em Foco há muito tempo (pesquise pela ferramenta de Busca do portal e encontre referências sobre o assunto), uma reforma política e administrativa profunda. Só vamos parar de discutir estas dicotomias perniciosas quando tivermos um sistema político, fiscal e administrativo mais enxuto, confiável e descentralizado. Precisamos rever nosso Pacto Federativo, que dá ao Poder Central mais poder do que ele é capaz de administrar. Até que isso aconteça, seguiremos perdendo tempo discutindo o sexo dos anjos (ou demônios?) de Brasília – que, de altruístas, têm nada ou muito pouco.        




+ Notícias
Todos os direitos reservados © Copyright 2009 - Política de privacidade - A opinião dos colunistas não reflete a opinião do portal