Análise em Foco > Personalidade
PROJETO PESCAR AJUDA A FORMAR TRABALHADORES E CIDADÃOS
Sexta-Feira, 01 de Junho de 2012

Alunos do Projeto Pescar iniciaram, nesta quinta-feira, o trabalho que será desenvolvido ao longo do ano. Uma aula inaugural, preparada pelos próprios alunos para convidados, foi o primeiro desafio dos jovens e teve como objetivo apresentá-los publicamente, ajudando-os a vencer obstáculos como o medo e a timidez, por exemplo. O Projeto Pescar tem apoio de empresas da cidade e da Fundação Fritz Müller.


Durante a apresentação, os alunos mostraram o resultado de uma pesquisa, através da qual concluíram que outras gerações de jovens eram mais comprometidas com o trabalho, diferentemente da situação atual, em que grande parte dos jovens utiliza as ferramentas de trabalho de maneira inadequada e faz uso excessivo das redes sociais. No entanto, o grupo pretende fazer diferença e mudar a imagem, estereotipada, de que adolescentes como pessoas descompromissadas.


Dentre os desafios da turma de 17 alunos, está aprender a conviver com as diversidades e enfrentar as dificuldades.


– O projeto já está mudando a minha vida. Eu sou muito individualista e aqui estou aprendendo que cada pessoa é diferente e temos que aprender a lidar com o outro, apesar das diferenças – declarou a aluna Thaís de Oliveira.


Ao final das apresentações, os jovens entregaram aos presentes um marca-texto em forma de coruja com a mensagem: “Seja a mudança que você quer ver no mundoâ€. Segundo eles, a coruja, além de ser um símbolo intelectual, resume o que eles almejam: estar sempre atentos.


Ao longo do curso, com carga horária de 800 horas aula, os alunos recebem gratuitamente vale-transporte, lanche, material didático, uniforme e seguro de vida coletivo para o grupo.


(Da assessoria de imprensa do Projeto Pescar)


OPINIÃO DO PORTAL


O Projeto Pescar, assim como a pesquisa feita pelos alunos, são iniciativas de suma importância por atacar aquele que, hoje, no Brasil, é um dos maiores obstáculos para a extração do melhor potencial de um trabalhador: a incorreção de postura perante o trabalho. Isso é uma drama para as empresas – e para todo o sistema produtivo brasileiro, portanto. Anula muitas virtudes em trabalhadores tecnicamente competentes, mas que, ante a um comportamento inadequado no ambiente de trabalho, acabam trazendo mais problemas do que soluções para o mercado. Falta envolvimento, comprometimento, dedicação, profissionalismo, ética, espírito corporativo e por aí vai, de tudo um pouco.


Há poucos anos, a Associação Empresarial de Blumenau (Acib) produziu um compêndio minucioso sobre mercado de trabalho e qualificação profissional na terceira maior cidade de Santa Catarina, cujo PIB se aproxima dos R$ 10 bilhões. Com base em uma sondagem feita pelo instituto de pesquisa Ipac, de Blumenau, concluiu-se que nada menos que 83% das empresas blumenauenses tinham problemas na hora de contratar um funcionário. Simplesmente não encontravam profissional do mercado ou o profissional encontrado não tinha 100% das aptidões e atributos esperados dele. Entre estes últimos, uma das maiores deficiências era justamente a postura: o sujeito tinha capacitação técnica, mas seu comportamento no ambiente de trabalho não era adequado.   


Isso é muito grave. É gravíssimo. E o que é pior, em outras regiões do estado e do país é mais grave ainda. Blumenau, bem ou mal, ainda é um celeiro de mão-de-obra qualificada – até porque, a partir de estudos como o da Acib, mobilizou-se para atacar o problema e reforçou a formação profissional nas áreas identificadas como deficientes.


Ocorre que, na média, o Brasil sofre muito deste mal. Sua força de trabalho está ficando capenga, e isso certamente já compromete o desenvolvimento do país, tanto social como economicamente. Se não reforçar a formação humana de seu trabalhador – e isso começa já no ensino fundamental, passando pelo ambiente familiar –, daqui a pouco terá um exército de amebas para oferecer às empresas como mão-de-obra. Trabalhadores cujos núcleos, mitocôndrias, ribossomos e demais organelas intracelulares funcionam muito bem, mas que são incapazes de unirem-se entre si para formar um tecido fisiológico mais complexo e evoluído.


INTERDISCIPLINARIEDADE NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL E ACADÊMICA


Neste contexto, tanto os primeiros passos da formação acadêmica quanto as primeiras noções de qualificação profissional terão que ser cada vez mais interdisciplinares e envolver tanto a família quanto a sociedade. A criança, desde os mais tenros anos de vida, precisa saber o que é convivência em grupo, espírito de coletividade e bem comum, apreço pelo saber, capacidade de dedicação. Não precisa deixar de ser criança, apenas tornar-se uma criança e um adolescente diferente.


Nossos índios já faziam – e ainda fazem – isso muito bem há mais de 500 anos. Sabiam (e ainda sabem) tudo de coletividade, organização do trabalho, cumprimento de metas, produção sustentável e planejamento estratégico. Viabilizar a vida em tribo, no meio da mata, sempre exigiu tudo isso de nossas populações indígenas. Desaprendemos porque quisemos, ou talvez porque passamos a nos achar melhores que eles. Pelo  jeito, contudo, precisamos voltar para o meio da selva aprender alguma coisa outra vez.  




+ Notícias
Todos os direitos reservados © Copyright 2009 - Política de privacidade - A opinião dos colunistas não reflete a opinião do portal