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INICIATIVA DO EQUADOR MUDARIA RUMOS, MAS MUNDO “CIVILIZADO†É BARREIRA
Quarta-Feira, 05 de Dezembro de 2012

Vez ou outra, os países ditos civilizados e desenvolvidos perdem ótimas oportunidades para mostrar ao mundo que são, de fato, desenvolvidos e civilizados. A América Latina, por sua vez, tantas vezes colocada como um foco doentio de pobreza e atraso, vem mostrando a este mesmo mundo, liderado pelos ricos e “evoluídosâ€, que ela pode, sim, fazer sua parte e assumir um papel decisivo na “salvação†ambiental, econômica e política do Planeta. Afinal, o flerte com a crise energética que sucederá o fim petróleo, assim como a ameaça de eventual ataque especulativo da China aos EUA, que derrubaria o dólar e geraria pânico no sistema financeiro mundial, têm feito muita gente perder o sono e faz até alguns norteamericanos delirarem, imaginando a possibilidade de uma guerra civil na terra do Tio Sam.


Pois bem, neste contexto, o paupérrimo e “atrasado†Equador, conhecido mais pela famosa linha imaginária que divide a Terra ao meio e corta seu território do que por suas potencialidades e particularidades, vem defendendo, há alguns anos, um projeto inovador, revolucionário e, o mais importante, absolutamente limpo. Em uma exuberante área de selva amazônica ainda intacta – onde, acredita-se, estaria a maior reserva de biodiversidade (animal e vegetal) do mundo – a ideia é trocar a exploração da farta reserva de petróleo (estimada em US$ 7 bilhões) pela emissão da metade deste valor (US$ 3,5 bilhões) em créditos de carbono no mercado mundial. Ou seja, ganhar dinheiro com a preservação da floresta, não com sua exploração.


Primeiro os equatorianos tentaram emitir os créditos de carbono em igual valor ao das reservas petrolíferas que estão sob o solo do Parque Nacional do Yasuní. Depois de tomar muitos chás-de-cadeira e dribles dos europeus (os ingleses chegaram a desmarcar reunião por telefone, com os equatorianos no táxi, a caminho do encontro, em Londres), contudo, o Equador decidiu reduzir o valor da oferta pela metade. Após nova rodada de conversas com representantes das nações endinheiradas, então, conseguiram chegar a pouco mais de US$ 1 bilhão – Alemanha e Espanha foram os países que mais se dispuseram a gastar com a aquisição dos créditos de carbono oferecidos pelo país latinoamericano. Os alemães querem comprar US$ 500 milhões, os espanhóis R$ 200 milhões. França e Reino Unido também dizem que querem, mas não divulgam valores. Noruega e Suécia oferecem gorjetas de US$ 20 milhões e US$ 1 milhão, respectivamente.


Enquanto isso, uma das mais importantes reservas de biodiversidade da Terra (reconhecida pela Unesco) corre o risco de destruição pela demanda fiscal de um empobrecido país, que precisa de divisas para se desenvolver e, caso não emplaque sua louvável proposta, precisará destruir a floresta e os povos indígenas que ela abriga para tirar o ouro negro do subsolo. Neste caso, acabarão fazendo exatamente o mesmo que fizeram os ricos e “civilizadosâ€, tanto lá como aqui, onde fincaram colônias para explorar recursos naturais e devastar o meio ambiente – além de destruir culturas e etnias, como Incas, Maias e Astecas.


E assim os ricos e “civilizadosâ€, que na hora de socorrer seus colegas perdulários e falidos ou promover agiotagem internacional colocam a mão no bolso sem rodeios, vão mais uma vez se negando a acertar a dívida histórica que acumularam junto ao meio ambiente e aos países que exploraram e empobreceram. Ao melhor estilo “devo, não nego, mas pago quando puderâ€, vão empurrando seus débitos com a barriga e torrando o dinheiro que ainda têm com outras “prioridadesâ€.


A gênese do apocalipse e do lucro


Desta forma, levam a vida na Terra para cada vez mais perto do buraco e ainda geram mais lucro com isso, inundando o mercado com opções de consumo cultural e de entretenimento, por exemplo. Exemplo da vez: o badalado Apocalipse Maia de 2012, que aqueceu a produção em muitos estúdios da TV e do cinema, além de editoras e demais veículos de comunicação da Indústria Cultural.


Mas o que os Maias previam, na verdade, é o fim de uma era e o começo de outra. Uma nova era cujo começo bem poderia ser o sucesso da proposta implementada pelo Equador, que, reconheça-se, está fazendo sua parte para transformar a previsão dos Maias em um recomeço positivo para a humanidade. Com os ricos e “civilizados†agindo irredutivelmente à moda antiga, contudo, ficará difícil, muito difícil.


Daqui a pouco, vão acabar fazendo seu roteiro catastrófico prevalecer, mais uma vez, até que a vida (humana) na Terra possa, enfim, chegar ao fim, como tanto preconizam. Deste jeito, não há profecia que não se confirme. A culpa, no entanto, não será dos deuses, dos astros ou da natureza terrestre, como acreditavam os Maias. A culpa será nossa, somente nossa, de mais ninguém.                                                                                                                                                   




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