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EM UMA FINAL HISTÓRICA, IRONIAS E MAIS IRONIAS DO DESTINO
Domingo, 16 de Dezembro de 2012

Quis o destino, por uma destas cruéis ironias que costuma produzir, que fossem os criadores do futebol e, indiretamente, do próprio Sport Club Corinthians Paulista (cuja criação foi inspirada no Corinthian-Casuals Football Club, clube inglês que excursionou pelo Brasil em 1910 e levou um grupo de operários, descendentes de portugueses, a criar sua versão tupiniquim), os adversários da final que marcou a história do mais popular entre os esportes. Sim, pois certamente o jogo entre Corinthians e Chelsea, neste domingo, entrará para os anais futebolísticos como uma obra prima, uma jóia rara, um metal precioso que não se encontra todo dia.


Num jogo em que o comando da partida trocou de mãos por várias vezes – ora os brasileiros dominavam, ora os ingleses davam as cartas –, o movimento das peças mais lembrava um tabuleiro de xadrez. Iniciativas bem estudadas e articuladas, estratégias bem definidas, raciocínios lógicos bem dispostos, jogadores concentrados e responsáveis taticamente. Na verdade, foi um show de matemática, em que o vencedor foi o Corinthians, mas poderia ter sido o Chelsea. 


Tudo isso combinado em uma partida recheada de emoção, com lances antológicos (como as defesas milagrosas do corinthiano Cassio) e 41 mil fiéis sofredores testemunhando in loco o espetáculo produzido no estádio de Yokohama,  do outro lado do mundo.


Não resta dúvida de que foi encantador, sublime, estupendo, inesquecível. Bem diferente da sofrível final do ano passado, em que o Santos de Neymar sucumbiu vexatoriamente ao Barcelona de Messi. Num jogo em que a tônica foi a disputa, não o massacre, uma outra ironia do todo-poderoso destino: o gol que deu o título ao Timão veio da  cabeça de um peruano chamado PAOLO GUERRERO. Lembrando: São Jorge, padroeiro do clube paulista, era um padre GUERREIRO, que lutou como soldado romano nos tempos do império, enquanto PAOLO Rossi foi o carrasco italiano que despachou a antológica seleção brasileira de Telê Santana, na Copa do Mundo de 1982, num jogo que jamais deixará a memória da torcida brasileira.


O Chelsea, vale observar, valorizou muito a conquista corinthiana no Japão. Jogou com a frieza e a racionalidade dos ingleses e anglo-saxões, mas deixou-se entristecer profunda e visivelmente (talvez até pela predominância do sangue latino entre seus jogadores, entre os quais brasileiros e espanhóis) ao fim da partida, deixando claro que pretendia, sim, vencer aquele jogo e levantar a taça de campeão do mundo.


As lições da batalha


A quem buscar uma lição mais do que lúdica na disputa memorável deste domingo, um aprendizado: a força de equipe, os espírito de luta e a união entre os combatentes (das instâncias militares ou civis) fazem toda a diferença em uma batalha. Sem nenhuma estrela consagrada do futebol nem orçamento astronômico, o Corinthians conseguiu vencer um jogo que, para muitos, era improvável. A multimilionária máquina esportiva da Europa, a princípio, seria indestrutível, e só poderia ser vencida por um acaso do destino. Pois ela foi vencida com técnica, garra, estratégia e muita força de grupo. O destino também colaborou, claro, sempre cruel e implacável – desta vez com os ingleses, felizmente –, mas foi só coadjuvante.


Por fim, uma outra lição importante deste episódio épico: o sucesso não se faz com milagres nem tampouco com negociatas escusas, como tentaram gestões anteriores, num passado recente, dentro do clube paulista. Desde que Andrés Navarro Sánchez (não, ele não é espanhol, apenas descendente) assumiu a presidência do Corinthians, em 2007, e abandonou a ideia espúria de “venda†do clube para supostos investidores estrangeiros, trocando-a por bem fundamentadas estratégias de marketing esportivo, o esquadrão de Parque São Jorge passou a colecionar títulos, patrocínios e novos torcedores. O caminho, pois, é este, para qualquer caminhada vitoriosa. É preciso planejamento, muito trabalho e metodologia. E um pouco de sorte, claro, como tiveram, de sobra, os corinthianos, neste domingo. Salve Jorge, portanto, e Paolo também, claro! Quem diria... 


Ah, sim, um último detalhe importante: oficialmente, o Corinthians é bi-campeão mundial, conforme reconhece a Fifa. Moralmente, contudo, todos sabem que o triunfo deste domingo pode ser considerado seu primeiro título, pelas circunstância em que se deu o primeiro e nem é preciso mais lembrar. E viva a São Jorge, padroeiro daqueles que não desistem nunca e jamais temem a batalha. Viva aos brasileiros, viva aos corinthianos!


Rodrigo Pereira, editor do Análise em Foco e corinthiano feliz




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