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CULPADOS PRECISAM PAGAR, PELA HONRA DOS MORTOS
Terça-Feira, 29 de Janeiro de 2013

EDITORIAL AEF


A verdade por trás da tragédia de Santa Maria é uma só: se as autoridades e órgãos competentes fiscalizassem como deveriam as construções e estabelecimentos comerciais, eventos trágicos como este não ocorreriam com a frequência que ocorrem. Tome-se o noticiário dos últimos anos e constate-se a quantidade de mortos e feridos em prédios que caem, shopping centers que explodem, crateras que se abrem, encostas que deslizam, boates que pegam fogo e por aí vai. Uma triste realidade, mas indiscutivelmente constatada.


Infelizmente, a fiscalização não funciona. Prédios são erguidos à revelia de projetos e do plano diretor, estabelecimentos abrem com alvará vencido (como era o caso da boate Kiss) e fiscais, não raramente, deixam de ver aquilo que deveriam enxergar – sabe-se muito bem por que. Um quadro caótico e perigoso, que transforma o crescimento urbano em uma bomba relógio.


Não apenas no Rio Grande do Sul, onde ocorreu o triste episódio das 234 mortes, mas em todo o Brasil. Nas grandes e nas pequenas cidades, nos bolsões de miséria e nas ilhas de prosperidade. Não há recanto do país que não sofra com o problema da falta de planejamento e fiscalização do crescimento urbano. Blumenau, com seus 80% de endereços irregulares, que o diga.


Por isso é preciso transformar a dor da perda, que agora dilacera o coração de quase 300 famílias, em uma oportunidade. Uma chance a mais de perceber um erro e trabalhar para corrigi-lo. Para lograr este efeito, contudo, é preciso impor dura e severa punição aos culpados pelo acontecimento macabro que marcou a história do município gaúcho. Dos responsáveis pelo funcionamento da casa incendiada aos fiscais que deixaram de ver as coisas erradas que havia lá, passando pelos organizadores do evento que desencadeou a tragédia, todos precisam receber as penas previstas em lei – de preferência aquelas para homicídio culposo (quando não há intenção de matar).


Se, mais uma vez, tratarem o assunto como uma fatalidade, como uma mera crueldade do destino, estarão permitindo que a perda de tantas vidas inocentes seja em vão. Para honrá-las, é preciso transformar o episódio em um precipitador de mudanças, que leve o poder público a atuar mais responsavelmente no controle do crescimento urbano.


– Nós temos diversos indicativos de que a casa não podia estar funcionando. Se a boate estivesse regular, não teria havido quase 240 mortes – afirmou ao G1 o delegado regional de Santa Maria, Marcelo Arigony.


Esta, aliás, é uma constatação à qual não é nem preciso ser perito para chegar. Que metam os responsáveis atrás das grades, portanto, para que a proporção das mudanças deflagradas a partir daí seja a mesma da tragédia que abalou Santa Maria. Que não deixem estas mortes ocorrerem em vão.  




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