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MARCAS DA TRAGÉDIA AINDA SE FAZEM NOTAR, MAS 2009 ACABA MELHOR QUE O ESPERADO
Quarta-Feira, 23 de Dezembro de 2009

Ele é um dos executivos mais ouvidos e respeitados do setor têxtil no Brasil. Há quase 30 anos, preside o Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau e Região (Sintex). Na Cia. Hering, que é a quarta maior fábrica têxtil do país, goza do mesmo prestígio e despacha sobre os mais estratégicos assuntos da corporação fundada há 153 anos pelos irmãos Friedrich e Bruno Hermann Hering. 


Ele é Ulrich Kuhn, cotado agora para ser candidato a vice-governador de Santa Catarina em chapa a ser encabeçada pela senadora petista Ideli Salvatti.


Aqui, no Análise em Foco, o presidente do Sintex foi o primeiro Analista em Foco do portal, quando entramos na Web, em julho deste ano.


Agora, para encerrar a série Um ano Depois, convocamos Kuhn para analisar o ano que se passou entre novembro de 2008, quando o Vale do Itajaí viveu o pesadelo da crise e da tragédia, e hoje.


Confira a seguir, somente aqui, no melhor portal de análise e opinião da Web:  



"A tragédia ambiental de novembro prejudicou e ainda prejudica, em muito, o município, seja por razões físicas de execução das obras, seja pela lentidão das soluções financeiras.


Esta realidade criou uma sensação de extrema insatisfação por parte da população, pois não somente as obras de recuperação não acontecem no ritmo desejado, mas também os serviços essenciais e rotineiros foram prejudicados.


Para uma grande maioria das empresas, a tragédia significou apenas uma diminuição da produção por falta de colaboradores, que deixaram de ir ao trabalho por diversas razões: perda de seus bens, solidariedade, isolamento, etc. Esta foi a leitura grande e visível. Porém, para um sem número de pequenos empreendedores e prestadores de serviços de setores específicos, os prejuízos foram significativos. Felizmente, este lado triste já está na sua grande maioria superado.


O processo empresarial é um eterno desafio. Tudo o que foi feito ontem, hoje já deve ser melhorado. A crise mundial recente, para alguns segmentos, trouxe realidades insolúveis a nível global, com determinados consumos despencando. Não houve outras soluções, a não ser redução de produção e demissões. Felizmente, para o setor têxtil nacional e local, as consequências não foram tão dramáticas, embora alguns sub-setores, com forte percentual exportador, amargaram problemas sérios, ainda não totalmente superados.


FORÇA DO MERCADO INTERNO SURPREENDEU O MUNDO E MOTIVOU ECONOMIA BRASILEIRA


Em Blumenau, este grupo de empresas, acreditando em um crescimento do mercado interno, manteve seus volumes de produção, em muitos casos com substancial perda de rentabilidade, passivos financeiros, porém, mantendo os empregos.


O setor como um todo, levando em consideração como já foi dito, termina o ano de 2009 com uma realidade melhor do que imaginada no início do ano. A recuperação do mercado interno brasileiro, muito elogiado e analisado pelo mundo, foi a grande motora deste fato.


As reduções tributárias pontuais e o aumento de crédito, hoje na faixa de 40% do PIB, com efeitos multiplicadores importantíssimos, gerando uma maior confiança do consumidor, fizeram com que o consumo interno, em muitos casos, absorvesse a queda das exportações e mantivesse o mercado e a economia em um ritmo de gradativa recuperação.


Os resultados econômicos, como um todo, somente poderão ser analisados após a publicação dos balanços de 2009. Não houve, contudo, significativa redução de postos de trabalho, e o ano deve encerrar com números razoavelmente iguais ao período pré- crise.


VULNERABILIDADES ESTRUTURAIS, ADMINISTRATIVAS E FINANCEIRAS AINDA REPRIMEM PIB


Os grandes entraves a uma recuperação mais sustentada, continuam sendo a alta carga tributária, o real extremamente valorizado – talvez a maior valorização em relação ao dólar e ao euro no mundo –, investimentos em infraestrutura a uma velocidade menor do que a esperada e o risco de um desequilíbrio fiscal, em função do aumento dos gastos do governo com despesas fixas.


As grandes lições desta crise, a nível industrial, são de que não pode haver acomodação. A palavra chave hoje em dia, cada vez mais, é inovar, criar e se diferenciar. A competitividade será cada vez maior, esta lição e percepção todo empresário e empreendedor deve ter.


Em nível municipal, a grande lição foi: é preciso repensar Blumenau. A nossa realidade geológica nos impõe desafios e disciplinas enormes. Tenho certeza que o poder público tem plena consciência disto.


PIOR DA CRISE Jà PASSOU, MAS EFEITOS PERSISTEM E É PRECISO CAUTELA


O cenário para 2010 indica um otimismo moderado. Sou contra os entusiasmos exagerados. Os indicadores mundiais, mesmo com algumas nuvens cinzentas, mostram que o pior já passou, embora alguns países ainda enfrentem realidades muito duras.


E o chamado consumismo, em especial o norteamericano, voltará a ser o que era?? A tendência, a prazo visível, é de que não!


A economia brasileira, impulsionada pelos mesmos mecanismos já descritos, com continuação do crescimento do crédito, somente para citar um exemplo, indica um crescimento de aproximadamente 5%. O têxtil, em especial, poderá ter um crescimento até maior, em parte impulsionado pelo crescimento da construção civil (casas e apartamentostos), que geram um consumo de produção voltados ao complemento do lar, e pelo aumento gradativo da capacidade de consumo da população de baixa renda. Teremos um início da retomada de investimentos, nos quais o câmbio é um fator positivo do lado da importação de bens. Trazendo, porém, o risco de uma gradativa queda no saldo da balança.


De outro lado, o Brasil está sendo um grande absorvedor de investimentos estrangeiros, devido a diversos fatores positivos: estabilidade econômica, imagem, Copa do Mundo, Olimpíadas, pré-sal, etc. Enfim, o saldo é positivo.


Agora, repito: devemos ser otimistas moderados, pensar seriamente, e ter consciência de que o mundo, apesar de movimentos momentâneos de protecionismo, será cada vez mais global e perverso. Há que se inovar, criar, diferenciar-se, ser competitivo no sentido mais amplo e profundo. Este será e é o nosso desafio.


Por Ulrich Kuhn, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau e Região (Sintex)




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