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A MASSA FALIDA NEM TÃO FALIDA ASSIM
Quinta-Feira, 13 de Junho de 2013

Mesmo encarando dificuldades financeiras que quase a tiraram do mapa e um processo de falência que se arrasta por mais de uma década, a têxtil blumenauense Sulfabril vem conseguindo se equilibrar na corda bamba e segue lançando suas coleções no mercado.  Perto de completar sete décadas de vida, ela ainda opera como “massa falida em continuidade†(situação decretada em 1999), produzindo cinco marcas diferentes e exportando para três continentes. Emprega cerca de mil trabalhadores, mantém como sede a unidade que lhe deu origem e, nesta semana, viu a Justiça decretar sentença que fará bem tanto para credores da massa falida quanto para ela própria.


Na última segunda-feira, a juíza Quitéria Tamanini Vieira Peres, responsável pelo processo, despachou pela liberação de pagamentos do quadro de credores da Sulfabril, dentro de um percentual que poderá ser absorvido pela mesma. Conforme a decisão judicial, pessoas físicas e jurídicas com valores a receber junto à massa falida terão 15% dos débitos honrados neste primeiro momento. Os trabalhadores, de acordo com a lei, serão os primeiros a receber, seguidos pelos representantes comerciais.  Demais débitos, junto a fornecedores, prestadores de serviço e bancos, entre outros, serão atendidos em segunda ordem.


Assim, quem tem, por exemplo, R$ 10 mil a receber em direitos trabalhistas, receberá R$ 1,5 mil neste primeiro momento. Ao todo, serão distribuídos R$ 8,8 milhões entre cerca de 1,5 mil trabalhadores, demitidos sem ressarcimento de encargos à época da falência. Em média,cada um receberá R$ 5,8 mil, aproximadamente, nesta etapa dos pagamentos.


Se não é o que todos esperavam após quase 15 anos de tramitação judicial do processo, é o que foi possível construir, ao longo deste período, para que tanto os credores quanto a massa falida pudessem ter parte de seus interesses atendidos. Bem ou mal, a Sulfabril continua sendo uma peça importante da economia blumenauense. Junto a outros ícones como Altenburg, Dudalina, Haco, Hering, Karsten e Teka, entre demais peixes grandes do segmento têxtil em Blumenau, a empresa fundada pelo empresário Paulo Fritzche há mais de 60 anos certamente deve orgulhar não só ao município, mas a todo o estado.


Responsabilidade e orgulho


Processos de falência dolorosos como o da Sulfabril costumam gerar muitos comentários e tentativas de explicação. Os proprietários e controladores, não raramente, são acusados de gestão fraudulenta ou má administração, enquanto seguem sua vida à margem das especulações e entregam sua obra para as mãos do destino. Com Gerhard Fritzche, filho do fundador da Sulfabril, não foi diferente, e, desde 1999, quando a empresa auto-decretou falência, ele vem sendo paulatinamente acusado de ter supostamente desequilibrado as contas da companhia. Se foi ou não um gestor irresponsável, no entanto, só os especialistas e as autoridades podem determinar.


Ocorre, contudo, que a obra de indivíduos como os Fritzche, pela dimensão e importância a que chega, transcende a esfera pessoal e atinge um status de significado coletivo, de forma que, a partir de certo ponto, é preciso pensá-la mais num contexto social e econômico do que administrativo ou financeiro. Afinal, empresas com o porte e a reputação de uma Sulfabril passam a fazer parte do DNA de uma sociedade, transformam-se em motivo de orgulho para diferentes cidadãos. Ou alguém imaginaria os norteamericanos, por exemplo, deixando a Apple ou a HP abandonadas à própria sorte num caso de hipotética má gestão de Steve Jobs ou Bill Hewlett?


Sendo assim, os blumenauenses e os catarinenses devem comemorar, sim, o fato da Sulfabril ainda estar operando, embora como massa falida. O Ministério Público, a Justiça, o sindicato dos trabalhadores e a própria massa falida, por sua vez, merecem um reconhecimento especial por terem chegado a um entendimento tão positivo, que seguramente fará um bem enorme para a economia e para o orgulho regional.


 




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