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TOFFOLI, LEWANDOWSKI E OUTROS QUATRO SUAVIZAM FUTURO DE MENSALEIROS
Quinta-Feira, 19 de Setembro de 2013

E quando todos pensavam que o Brasil transformara-se enfim num país um pouco mais sério e decente, vem o baque desta quarta-feira. Sob a alegação de um tal embargo infringente, apresentado pela defesa dos réus e acolhido pelos ilustres ministros do Supremo Tribunal Federal, os mensaleiros do Planalto ganharam nova oportunidade para mostrar aos brasileiros que o crime, no Brasil, de fato compensa, e seriedade nada mais é do que uma utopia. Enquanto acaba o sonho de alguns, portanto, começa o de outros.


Com a magnânima decisão do STF – subscrita pelos ministros Luis Barroso, Teori Zavascki, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski, Celso Melo e Dias Toffoli (aquele, o amigão do Lula) – a turma do molha-a-mão terá direito a novo julgamento, pelos crimes de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, e tem tudo para escapar da cadeia que pegaria ainda este ano, se tudo desse certo. Agora, José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, João Paulo Cunha e companheiros poderão ter suas defesas revistas e, pelos prognósticos mais recentes, deverão privar a nação daquela que seria sua grande catarse. Terão a possibilidade de livrar-se da penitenciária, onde quase todo brasileiro gostaria de vê-los passar longas férias. Pelo menos aquela cadeia real, em que o sujeito passa o dia inteiro vendo o mundo quadrado, sem ir a restaurante bom, sem tomar vinho caro, sem fazer reunião em apartamento de luxo. Ao que tudo indica, precisarão comparecer ao xilindró apenas para bater cartão, à noite, gozando de ampla liberdade no restante do dia.


E assim, a tecnicidade (palavra feia mas adorada pela turma do martelo) da legislação brasileira vai favorecendo, mais uma vez, quem desafia a lei, a ética e o espírito coletivo. Não obstante a necessária preocupação com o equilíbrio da Justiça e o amplo direito de defesa do cidadão, conclui-se novamente que o labirinto quase inacabável de recursos e dispositivos judiciais que permite aos contraventores embrenharem-se pela selva do Judiciário serve mais ao interesse de quem anda à margem da lei do que aos cidadãos de bem. Vá você tentar interpretar as leis e seus meandros a seu favor, para pagar menos impostos, receber mais serviços ou agilizar a burocracia paralisante do Estado, por exemplo. Dificilmente conseguirá mover montanhas, como conseguem os homens do colarinho branco.  


Não há muito mais o que dizer sobre o assunto, fora o que todo calejado cidadão brasileiro está cansado de saber. O número de comentários na postagem em que o G1 informa a decisão dos ministros do Supremo fala por si só: quase 3 mil. Brasileiros indignados, que não suportam mais a falta de seriedade e decência do país em que vivem.


Um dos internautas que deixou sua mensagem no portal de notícias da Globo, aliás, lembrou bem a música de Renato Russo e sua Legião Urbana: “Nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado/ Ninguém respeita a Constituição, mas todos acreditam no futuro da nação/ Que país é este?â€. Mas, como diz a mesma música, para alívio de todos, “O Brasil vai ficar rico, vamos faturar um milhão/ Quando vendermos todas as almas dos nossos índios num leilãoâ€.


Só assim, pelo jeito, pois, no que depender de nossas instituições e homens públicos, está difícil livrar-se da miséria. Não apenas da miséria econômica e social, mas também da cívica e moral. Este é o nosso Brasil, que alguns, inclusive nós, acreditaram estar se transformando. Pois não está, é o mesmo país de 500 anos atrás, que pune quem trabalha e premia quem explora. Este parece ser nosso karma, nosso destino inexorável. Lamentemos todos, pois.




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