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PROJETO PESCAR DEVERIA INSPIRAR ESFERA PÚBLICA
Domingo, 02 de Março de 2014

A jovem Sarah Luíza Zuchi Reiter, de 17 anos, não conseguia disfarçar a emoção que sentia no evento de formatura da terceira turma do Projeto Pescar em Blumenau, desenvolvido pela Fundação Fritz Müller em parceria com duas empresas da cidade. Depois de perder a mãe, vítima de um câncer, há oito meses, ela mal conseguia falar nesta quinta-feira à noite, quando foi ao microfone fazer o discurso de agradecimento a Deus, em nome dos formandos.


– Vamos sair daqui melhores do que entramos como pessoas, isso é o que mais terá valido a pena – disse ela, com a voz embargada e os olhos lacrimejantes.


Em relação a suas habilidades, observou que aprendeu a ter foco e empatia, a se colocar no lugar das pessoas e a ser mais confiante diante de situações desafiadoras, como falar em público.


O colega Matheus S. Telles de Matos, 16, colocou o bom humor no lugar da emoção ao falar ao microfone, mas deu um recado não menos sério e importante.


– Quantas empresas tiram dinheiro do seu bolso para investir em jovens? – indagou, referindo-se aos patrocinadores do projeto, que investem cerca de R$ 50 mil cada um.


Matos observou que, ao fim da jornada desenvolvida no Projeto Pescar, reviu uma série de conceitos e visões de mundo. Aprendeu, segundo ele, a ter persistência para buscar alternativas na busca de um objetivo.


Formação de caráter


Pois é exatamente este o principal objetivo da iniciativa, desenvolvida pela FFM em parceria com as empresas que apoiam o projeto. Além de qualificar os jovens para algumas funções, o Projeto Pescar destaca a formação de valores que fortalecerão o caráter e a postura deles.


Os nove formandos da turma deste ano tiveram ainda a honra de contar com um paraninfo ilustre, o empresário Afonso Luiz Schreiber, fundador e diretor-presidente da Taschibra, fabricante de produtos para iluminação cujo sucesso orgulha o Vale do Itajaí. Em seu discurso, também marcado pela emoção, ele observou:


– Em tudo o que fizerem na vida de vocês, sejam os melhores, dêem o seu melhor.


Schreiber lembrou que, antes de criar a empresa que hoje tem 600 funcionários e fabrica 4,5 milhões de lâmpadas e luminárias por ano, foi arrumador de pinos em cancha de bolão e comerciário em antiga loja tradicional da cidade. Nestas funções, destacou, jamais deixou de querer ser o melhor, atribuindo a esta postura os desígnios que o levaram ao topo como empreendedor.


Exemplo inspirador


Iniciativas como o Projeto Pescar deveriam inspirar iniciativas semelhantes na esfera pública, que tem investido bastante na oferta de benefícios financeiros aos mais pobres mas se preocupado pouco com a qualidade da educação oferecida aos mais jovens. Se paralelamente a programas como o Bolsa Família fossem dadas oportunidades de qualificação que transformassem as futuras gerações por dentro, o efeito da ajuda estatal seria muito mais consistente e contribuiria para mudar o país em sua essência, e não apenas em sua aparência.


Durante 10 meses, os jovens que participam da iniciativa, preferencialmente aqueles considerados em situação de risco social, acrescentam a carga horária do Projeto Pescar à da escola, reforçando noções de convívio em grupo e trabalho em equipe, além de valores como caráter, justiça e dignidade.


Numa sociedade e num mercado de trabalho em que a postura inadequada do cidadão muitas vezes é um problema até maior do que a falta de qualificação, qualquer iniciativa que ajude a tornar o indivíduo mais preparado para o convívio em grupo e o trabalho em equipe é indispensável para se gerar avanços econômicos e sociais mais consistentes. Principalmente num ambiente onde a escola vem se mostrando defasada e deficiente há muito tempo.


Que se possa criar também, então, o bolsa integração, ou quem sabe o bolsa extensão escolar. Que se possa fazer com que as crianças e adolescentes das famílias contempladas pelo assistencialismo estatal tenham uma chance de livrar-se da dependência no futuro. Que se tornem capazes de fazer o Brasil se desenvolver mais e de forma sustentada, para que não dependa mais de tanto paternalismo de Estado.


Afinal, como já avisa o dito oriental, “se você quer matar a fome de alguém, dê-lhe um peixe; mas se você quer que nunca mais passe fome, dê-lhe uma vara de pescarâ€.      


 




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