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CONTROLE ESTATAL É MESMO ESTRATÉGICO PARA SETOR ENERGÉTICO?
Terça-Feira, 01 de Abril de 2014

Tão ou mais importante do que investigar a Petrobras, e nesse sentido a sociedade brasileira deve torcer para que a CPI proposta no Senado saia do discurso e funcione de fato, é levantar a discussão: uma empresa do porte e da importância da petrolífera brasileira deve continuar sendo uma empresa pública, gerida por nomeações políticas e administrada conforme interesses político-partidários?


Os sucessivos prejuízos acumulados com a manutenção do preço da gasolina em níveis artificialmente baixos, assim como os negócios mal feitos (dos quais o exemplo mais conhecido é o da célebre plataforma dos EUA, pela qual a estatal brasileira pagou preço 10 vezes maior que o de mercado), fizeram o valor da Petrobras despencar quase à metade nos últimos anos. Não bastasse isso, no final do ano passado a presidenta Dilma Rousseff ainda veio à público defender o empresário Eike Batista e uma parceria da estatal com a empresa dele, a OGX , aquela que foi à ruína como um castelo de areia – confira discurso de Dilma no Youtube. Dá para acreditar nisso? Ou melhor: dá para entender?  


Estratégia ao contrário


A questão estratégica, tão evocada na hora de se defender a manutenção da Petrobras nas mãos do Estado, passa a ser relativa quando se tem uma empresa que explora recursos naturais tão importantes sem conseguir oferecer preços mais baixos para o consumidor nem gerar riquezas sustentáveis para o futuro da nação. Sem investir no aumento da produção de derivados, por exemplo, a empresa exporta óleo bruto e importa gasolina para atender à demanda interna, iniciativa deveras contraditória para um projeto que deseja proclamar a autossuficiência brasileira em petróleo.  O que há de estratégico nisso? O que o consumidor e o cidadão, que são as partes mais interessadas no negócio, estão ganhando com ele? Praticamente nada, pois na hora de ajustar as contas, a Petrobras aumenta o preço, e não a produção de gasolina.


Importante especialista na questão energética, em debate promovido pela Comissão de Energia do Senado, há algum tempo, observou que o melhor negócio para o Brasil seria deixar as reservas do pré-sal intocadas. Pelo raciocínio dele, este patrimônio poderá valer bem mais quando as reservas mundiais de petróleo estiverem perto do fim. Ele ressaltou também que, dentro do atual padrão de qualidade da gestão pública no país, os recursos obtidos com a exploração das camadas pré-salinas acabarão desperdiçados em grande parte, como costuma acontecer por aqui.


Reflexão


De que há um saco sem fundo de coisas mal explicadas, portanto, é bem difícil duvidar, e só uma CPI de verdade (coisa que não é tão fácil assim no Congresso, infelizmente) poderá trazer à tona as coisas que eventualmente estão escondidas ali. A questão crucial, contudo, é refletir: vale a pena manter o controle da Petrobras nas mãos do Estado?


Lembremos do que ocorreu com a telefonia no Brasil. Até meados dos anos 1990, quando a Embratel e suas subsidiárias estaduais (em Santa Catarina era a Telesc) eram donas do mercado, telefone era artigo raro e de luxo, chegando a custar anos de economia para as classes de menor renda. Hoje, duas décadas depois da privatização, compra-se linhas fixas e móveis a troco de banana. E dá até para escolher o número.


Pensemos todos nisso, pois.




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