No momento em que o paÃs torra bilhões e mais bilhões em programas assistenciais de resultado discutÃvel, Blumenau reforça um mecanismo bem mais racional e produtivo para levar ajuda a quem precisa. Em cerimônia ocorrida nesta segunda-feira, o municÃpio inaugurou oficialmente o Equipamento de Segurança Alimentar e Nutricional, que na prática vai funcionar como um banco de alimentos oficial.
A estrutura funcionará na rua Engenheiro Udo Deeke, bairro Salto do Norte, nas dependências da Central de Abastecimento do Estado de Santa Catarina (Ceasa), e é uma das iniciativas de estruturação da PolÃtica de Segurança Alimentar e Nutricional do municÃpio. O objetivo é coletar, fazer a triagem e armazenar alimentos, para depois distribuÃ-los a ONGs e pessoas em situação de risco social.
O novo equipamento, bem estruturado, distribuirá os alimentos para entidades inscritas nos conselhos municipais de Assistência Social (CMAS) e Segurança Alimentar (Comsea), responsáveis pela oferta de alimentação a quem precisa. Atualmente, 20 boxistas da Ceasa já fazem, diariamente, doação de hortifrutigranjeiros aos programas de assistência alimentar do municÃpio.
Cadeia produtiva
A nova central terá também o objetivo de estruturar o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), que comprará de pequenos produtores blumenauenses para abastecer os projetos de alimentação de pessoas carentes.
– Desta forma, tanto as pessoas que necessitam dos alimentos quanto os pequenos agricultores familiares ganham – observa o secretário de Desenvolvimento Social, Valdecir Mengarda.
É importante ressaltar que iniciativas como esta são bem mais inteligentes, justas, produtivas e sustentáveis do que a simples distribuição de dinheiro para os mais pobres. Tanto é que o programa Mesa Brasil, do Sesc, está fazendo a diferença em algumas das regiões mais pobres do paÃs e se transformou em um bem sucedido case de ação no terceiro setor. Executado com estrutura e equipe especializada, que inclui voluntários, coleta e distribui alimentos (principalmente frutas e verduras) excedentes ou fora dos padrões de comercialização, mas que ainda podem ser consumidos.
BenefÃcio de três gumes
Primeiro, uma iniciativa como esta ataca dois problemas graves ao mesmo tempo: a falta de comida para alguns, de um lado, e o desperdÃcio de alimento entre a produção e o consumo, de outro. Atualmente cerca de 30% de tudo que se planta e colhe vai para a lata do lixo, segundo estimativa da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Daria para acabar com a fome de 800 milhões de pessoas, nas contas da FAO. Para a economia mundial, de acordo com a entidade, o prejuÃzo com o desperdÃcio chega a mais US$ 130 bilhões.
Segundo, oferecer alimento no lugar de dinheiro é como dar a vara de pescar no lugar do peixe – desde que se pratique também polÃticas complementares de inclusão social, evidentemente, principalmente aquelas ligadas à educação e qualificação profissional. Quem está bem alimentado, afinal, pode ir à luta por própria conta para obter o próprio dinheiro. Com o que vai gastar, a partir daÃ, passa a ser problema seu. Já quem ganha dinheiro de mão-beijada do governo, deveria ter que apresentar nota fiscal dos gastos efetuados – ou alguém em sã consciência acredita que os R$ 20 bilhões distribuÃdos por ano vão parar integralmente no supermercado? Seria no mÃnimo ingenuidade acreditar nisso.
Em terceiro lugar iniciativas como a do Mesa Brasil, reproduzida agora em Blumenau, movimentam mais agentes do terceiro setor e, por consequência, trazem mais benefÃcios para o meio social. Uma cadeia maior de pessoas e segmentos é envolvida pela causa beneficente, gerando um ganho bem maior.
Por isso a iniciativa blumenauense, capitaneada pelo poder público, é um bom exemplo de como atuar socialmente sem ser paternalista. O paternalismo de Estado, que em alguns momentos até já ajudou o paÃs a se desenvolver, em outros também já levou-o a se afundar. Pensemos todos nisso, pois.