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AÇÃO SOCIAL, EM BLUMENAU, CAMINHA NA DIREÇÃO CORRETA
Terça-Feira, 13 de Maio de 2014

No momento em que o país torra bilhões e mais bilhões em programas assistenciais de resultado discutível, Blumenau reforça um mecanismo bem mais racional e produtivo para levar ajuda a quem precisa. Em cerimônia ocorrida nesta segunda-feira, o município inaugurou oficialmente o Equipamento de Segurança Alimentar e Nutricional, que na prática vai funcionar como um banco de alimentos oficial.


A estrutura funcionará na rua Engenheiro Udo Deeke, bairro Salto do Norte, nas dependências da Central de Abastecimento do Estado de Santa Catarina (Ceasa), e é uma das iniciativas de estruturação da Política de Segurança Alimentar e Nutricional do município. O objetivo é coletar, fazer a triagem e armazenar alimentos, para depois distribuí-los a ONGs e pessoas em situação de risco social.


O novo equipamento, bem estruturado, distribuirá os alimentos para entidades inscritas nos conselhos municipais de Assistência Social (CMAS) e Segurança Alimentar (Comsea), responsáveis pela oferta de alimentação a quem precisa. Atualmente, 20 boxistas da Ceasa já fazem, diariamente, doação de hortifrutigranjeiros aos programas de assistência alimentar do município.


Cadeia produtiva


A nova central terá também o objetivo de estruturar o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA), que comprará de pequenos produtores blumenauenses para abastecer os projetos de alimentação de pessoas carentes.


– Desta forma, tanto as pessoas que necessitam dos alimentos quanto os pequenos agricultores familiares ganham – observa o secretário de Desenvolvimento Social, Valdecir Mengarda.


É importante ressaltar que iniciativas como esta são bem mais inteligentes, justas, produtivas e sustentáveis do que a simples distribuição de dinheiro para os mais pobres. Tanto é que o programa Mesa Brasil, do Sesc, está fazendo a diferença em algumas das regiões mais pobres do país e se transformou em um bem sucedido case de ação no terceiro setor. Executado com estrutura e equipe especializada, que inclui voluntários, coleta e distribui alimentos (principalmente frutas e verduras) excedentes ou fora dos padrões de comercialização, mas que ainda podem ser consumidos.   


Benefício de três gumes


Primeiro, uma iniciativa como esta ataca dois problemas graves ao mesmo tempo: a falta de comida para alguns, de um lado, e o desperdício de alimento entre a produção e o consumo, de outro.  Atualmente cerca de 30% de tudo que se planta e colhe vai para a lata do lixo, segundo estimativa da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Daria para acabar com a fome de 800 milhões de pessoas, nas contas da FAO. Para a economia mundial, de acordo com a entidade, o prejuízo com o desperdício chega a mais US$ 130 bilhões.


Segundo, oferecer alimento no lugar de dinheiro é como dar a vara de pescar no lugar do peixe – desde que se pratique também políticas complementares de inclusão social, evidentemente, principalmente aquelas ligadas à educação e qualificação profissional. Quem está bem alimentado, afinal, pode ir à luta por própria conta para obter o próprio dinheiro. Com o que vai gastar, a partir daí, passa a ser problema seu. Já quem ganha dinheiro de mão-beijada do governo, deveria ter que apresentar nota fiscal dos gastos efetuados – ou alguém em sã consciência acredita que os R$ 20 bilhões distribuídos por ano vão parar integralmente no supermercado? Seria no mínimo ingenuidade acreditar nisso.


Em terceiro lugar iniciativas como a do Mesa Brasil, reproduzida agora em Blumenau, movimentam mais agentes do terceiro setor e, por consequência, trazem mais benefícios para o meio social. Uma cadeia maior de pessoas e segmentos Ã© envolvida pela causa beneficente, gerando um ganho bem maior.


Por isso a iniciativa blumenauense, capitaneada pelo poder público, é um bom exemplo de como atuar socialmente sem ser paternalista. O paternalismo de Estado, que em alguns momentos até já ajudou o país a se desenvolver, em outros também já levou-o a se afundar. Pensemos todos nisso, pois.  




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