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ENQUANTO ELES FAZEM A GUERRA, O POVO DESEJA A PAZ
Quinta-Feira, 31 de Julho de 2014

Enquanto se discute quem tem ou deixa de ter razão na Faixa de Gaza, pessoas inocentes (entre as quais crianças) vão morrendo todos os dias à razão de dezenas, centenas, milhares. Para quem olha de longe o conflito entre judeus e palestinos no Oriente Médio, portanto, o que menos importa é de que lado está a razão. A única coisa que realmente tem importância é a carnificina injustificável que transforma a vida dos cidadãos (em sua ampla maioria de bem) num verdadeiro inferno.


O que acontece no cenário atual é que ambas as partes acabam perdendo toda a razão. Os palestinos do Hamas erram ao rejeitar qualquer proposta de trégua, insistindo no lançamento de foguetes desgovernados contra Jerusalém; os judeus de Israel, a seu lado, erram ao promover ataques indiscriminados que estão atingindo hospitais, escolas e até abrigos da ONU.


Em uma era onde a razão, a tecnologia e a informação deveriam ter suplantado definitivamente o fanatismo, a ignorância e o sectarismo, favorecendo a pacificação dos povos, já não se pode mais tolerar que conflitos étnicos ou religiosos transformem-se em guerras sangrentas como a da Palestina com Israel. A desproporcionalidade da resposta israelense aos ataques covardes, desnecessários e inócuos do Hamas – sim, as ofensivas de Israel são absolutamente desproporcionais, embora isso não justifique o exagero da diplomacia brasileira ao retirar seus representantes do país –, assim como as manifestações revanchistas do mundo árabe, pregando uma Intifada armada em retaliação aos ataques israelenses, soam como negações à racionalidade e à lucidez no mundo contemporâneo. É quase como querer interferir na órbita do sol ao redor da terra, e não o contrário.


Liberdade religiosa


Quando se tenta entender um pouco melhor o conflito para atribuir as devidas doses de razão e culpa, no entanto, há um aspecto que precisa ser especialmente relevado: os judeus, em momento algum da ocupação territorial promovida na região, promoveram qualquer tipo de perseguição religiosa ou étnica ao povo palestino. Não houve proibição à prática da fé muçulmana em território israelense ou áreas ocupadas, nem a qualquer tipo de exercício da tradição e do folclore árabe em solo judeu. Isso não é pouco significativo, comparando-se a outros processos de ocupação, desta e de outras épocas.


Sebe-se que na região de Israel e Gaza há hoje um grave problema de violação de direitos humanos e perseguição a minorias cristãs, principalmente as evangélicas. Neste caso, contudo, os abusos ocorrem de ambos os lados. Tanto judeus quanto palestinos encaram com contrariedade o fortalecimento de correntes cristãs minoritárias, de forma que acabam tendo uma postura convergente quando o assunto é intolerância religiosa.


Não há nenhuma justificativa moral, portanto, para o comportamento raivoso e intolerante do Hamas em relação a Israel. Se o governo israelense ainda reluta em abrir mão de território em favor dos palestinos, jamais relutou em dar aos palestinos a liberdade de expressão e fé de que precisam para viver de acordo com suas crenças e tradições.


A questão territorial, aliás, passa pela discussão de diferentes aspectos. Um deles é a origem da ocupação judaica na Palestina, que não se deu apenas por força, mas também por compensação financeira, através da compra de terras de proprietários árabes que não as queriam mais ou simplesmente precisavam do dinheiro. Assim, se os palestinos querem seu próprio território, não podem querer obte-lo somente à base de guerra e pressão. Que pensem também em criar canais econômicos e financeiros para isso, como fizeram os judeus através do movimento sionista. E os países árabes que andam pregando o ódio e a violência como resposta a Israel, que pensem em ajudar seus irmãos palestinos com recursos para tais investimentos, não apenas com mísseis, bombas e metralhadoras. Ajudarão bem mais do que brincando de videogame com os judeus.  


Ortodoxismo pernicioso


Algumas elites eclesiásticas e políticas ultra-ortodoxas da nação judaica, por sua vez, precisam abandonar a crença do etnocentrismo judeu. Imaginar que ainda possam constituir uma raça pura em uma região que já está miscigenada há muito tempo é sonhar com o impossível. Os descendentes de Judá vêm misturando seu sangue ao de outros povos há séculos e séculos, de forma que insistir nesta “purificação†acaba sendo até um desrespeito para com os judeus menos puros, por assim dizer.  


Por sorte, dentro do judaísmo já existem cabeças pensantes reconhecendo o povo judeu como um povo miscigenado. O advento desta corrente pode favorecer eventual primavera judaica, que certamente favoreceria o processo de paz no Oriente Médio.


O que essa gente toda precisa entender é que o mundo já não se divide mais entre etnias, religiões, raças. Divide-se entre aqueles que acessam os avanços do progresso e da globalização e aqueles que ficam à margem deles, vendo os recursos do Planeta serem consumidos a favor de alguns e detrimento de outros. Para o trabalhador palestino, que dá duro todo santo dia para alimentar os filhos, pouco importa se a terra onde mora pertence a Israel ou à Autoridade Palestina, muito menos se as suas orações serão para Deus ou para Alá. A ele importa apenas que, ao chegar em casa, possa ver sua família bem alimentada, feliz e tranquila, sabendo que no outro dia estarão todos vivos para sentar-se à mesa e dar gargalhadas na hora da janta. É isso que o cidadão de bem, palestino ou judeu, quer. Nada mais. A guerra e os ataques mútuos são coisa dos que querem o poder, não o bem de seu povo.


Pensem nisso, senhores, e parem com esta guerra inútil e sem sentido. Acordem, para o bem de toda a humanidade.




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