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SERIA ISSO COISA DE GENTE SÉRIA?
Terça-Feira, 19 de Agosto de 2014

Enquanto o país aguarda por reformas estruturais importantes e indispensáveis para o desenvolvimento da nação, uma comissão de senadores da República está debruçada sobre projeto de relevância ainda maior: uma nova reforma ortográfica da língua portuguesa no Brasil.


Enquanto a eleição do novo presidente se aproxima e o momento pede uma discussão aprofundada das questões mais relevantes para o país, representantes da mais importante instância legislativa focam sua energia na troca do “ch†por “x†e do “x†por “zâ€.


Pode parecer uma bobagem, mas a postura dos digníssimos senadores da República acaba sendo uma demonstração irrefutável da falta de seriedade com que nossos gestores e representantes olham para os problemas da nação. E em todas as instâncias de poder – haja vista a profusão de projetos de lei que há nas Câmaras municipais para mudar nome de ruas, rebatizar praças públicas, homenagear desconhecidos ou instituir datas comemorativas.


Sabe-se que não é o Senado Federal, nem tampouco a Câmara dos Deputados, que deve propor uma reforma administrativa, política ou fiscal. Propostas que mudem a Constituição precisam partir do Executivo, por imposição legal, de forma que dependem da boa vontade e da caneta dos presidentes para chegarem ao Congresso e serem apreciadas. Mas nada impede que os legisladores formulem uma proposta de reforma e entreguem ao chefe do Executivo para que este a analise, revise, reformule e remeta para apreciação dos congressistas e tramitação no Plenário.


Apelo popular


Uma proposta que partisse daquela que supostamente é a casa do povo, aliás, chegaria com forte apelo popular à mesa do presidente, colocando sobre ele enorme pressão.


A preocupação de nossos legisladores, contudo, está bem mais focada em barganhar cargos públicos para aprovar projetos de interesse do Executivo do que em reformar a máquina administrativa e o sistema político. E quando sobra algum tempo extra no árduo expediente do Legislativo, é preciso se concentrar em reformas bem mais importantes: a da residência funcional e a da língua portuguesa.


Por isso a iniciativa dos excelentíssimos senadores da República é um acinte quase pornográfico aos olhos do cidadão que espera na fila do hospital ou se espreme numa lata de sardinha para voltar do trabalho para casa, entre outros dissabores aos quais o brasileiro de estratos menos favorecidos é submetido todos os dias. Para essa camada da população, portanto, estamos falando de uma reforma pornortográfica, e não ortográfica – atribuindo crédito especial pela expressão incomum ao ex-colunista Fabrício Wolff, que, quando ainda era titular do Análise em Foco, a colocou na primeira página de buscas do Google 


Francamente, senhores, façam-nos o favor. Definitivamente, não é para isso que gastamos uma montanha de dinheiro com vocês todos os anos.


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